*Por Raimundo Júnior

A empresa de distribuição de energia elétrica de Brasília (CEB) é um negócio de grandes números. Vender energia para pessoas ou empresas; entregar iluminação pública à sociedade; prover os órgãos públicos e os empreendimentos privados com serviços da área elétrica é potencialmente um negócio lucrativo.

A CEB tem clientes cativos. Mercado regulado. Nenhuma concorrência operacional. Por que razão então a empresa pública de distribuição de energia anda no escuro? A companhia convive com problemas financeiros e operacionais há muito tempo. Inúmeras gestões, de vários governadores do DF, de diferentes partidos, administraram a empresa e os resultados alcançados não permitem avaliar se o desempenho melhorou ao longo dos anos.

O balanço da CEB, relativo a 2019 (primeiro ano do Governo Ibaneis Rocha), foi publicado nos órgãos oficiais e os números não deixam dúvidas: a empresa tem grandes desafios para encontrar alguma luz no túnel da sua atuação.

A companhia tem mais de 1 milhão de clientes residenciais ou comerciais. Receita operacional bruta de R$ 4,2 bilhões. Investiu apenas R$ 40 milhões no último ano e fechou o balanço com um pequeno lucro de R$ 41,8 milhões.

O patrimônio líquido da CEB é de 587,5 milhões e seu passivo (as dívidas de curto e longo prazo) totalizam R$ 2,3 bilhões. Uma pergunta óbvia diante desses números é por que uma empresa com faturamento expressivo possui dívidas elevadas e lucros reduzidos?

A resposta sempre recorrente é culpar os empregados da empresa. Ou seja, as despesas com a folha salarial. No caso da CEB, a despesa bruta com pessoal em 2019 foi de R$ 206,8 milhões para um quadro de 886 servidores ativos. Esses valores representam apenas 7,9% da receita operacional liquida de R$ 2,6 bilhões. Ou seja, o trabalhador da CEB é o menos responsável pelo quadro atual da empresa.

O Relatório da Administração 2019, divulgado pela CEB, ressalta como uma “medida virtuosa” adotada pela atual direção à manutenção dos salários dos empregados “sem reajuste” no último período. No entanto, há uma informação de que os diretores da empresa receberam reajuste médio de 16% nas suas remunerações. Como a inflação de 2019, medida pelo IPCA/IBCE, foi de 4,3% – os chefões embolsaram ganhos reais de salário enquanto os trabalhadores amargaram o congelamento.

As grandes despesas da CEB estão relacionadas às suas dívidas, contraídas ao longo dos últimos anos, com custos financeiros elevados; e decorre também dos altos custos de compra da energia produzida no Brasil. Como o negócio da CEB é distribuir energia, ela precisa comprar este insumo num mercado altamente regulado e com grande impacto nos seus custos.

Nos últimos anos, o mercado de produção e transmissão de energia elétrica no Brasil atravessou várias conjunturas adversas: intervenções e regulações tarifárias; quadro hidrológico restritivo; precificação da oferta de energia em linha com flutuações cambiais, maior participação do setor privado na geração e transmissão. Ou seja, o valor do principal insumo da CEB ficou mais caro. Uma parcela expressiva da receita bruta da CEB é consumida com a compra deste insumo. Em 2019, foram R$ 2,0 bilhões – ou 47,6% do seu faturamento. Nada indica que este quadro vai mudar no caso de privatização da CEB.

Outro gasto relevante da CEB são as despesas financeiras. No ano passado, foram R$ 150,2 milhões para amortizar ou pagar juros e encargos das suas dívidas. As despesas com bancos ou compradores de debentures emitidas pela companhia representaram 73% do valor da folha bruta de pessoal. Em 2019, para fechar o balanço no azul, a CEB vendeu ativos no valor R$ 10 milhões. O lucro obtivo pela empresa no ano passado não significa vida fácil daqui para frente.

A diretriz política, imposta pelo atual governador do DF, Ibaneis Rocha, é de privatizar a empresa. A medida é vendida como a “única” solução viável. O diagnóstico para privatizar a CEB foi endereçado e será de responsabilidade do BNDES. As empresas contratadas pelo banco e responsáveis pela avaliação do valor mínimo da CEB apresentarão seus estudos até o final de abril 2020, de acordo com as informações publicadas no balanço.

Pelo mercado de ações, em pesquisa realizada no site Fundamentus (https://www.fundamentus.com.br), o “preço” da CEB atualmente é de R$ 786,2 milhões. O capital social da empresa divulgado no balanço foi de R$ 883,9 milhões. Ou seja, o “mercado” precifica a empresa por menos do que ela realmente vale.  O preço das ações poderá sofrer flutuações e o valor a ser arrecadado pela venda da CEB é uma incógnita.  Vender a CEB neste momento de queda da atividade econômica pode não ser um bom negócio. É preciso que haja mais luz sobre o futuro da empresa.

*Raimundo Junior – servidor público CLDF. Pós-graduado em Políticas Públicas e Gestão Pública.

Via https://dfmais.com.br/