Médicos pedem cuidado e advertem que as intervenções só são indicadas para quem tem obesidade mórbida ou as chamadas comorbidades

Ao longo dos últimos 30 anos, o Brasil deixou para trás índices históricos de desnutrição para ocupar lugar de destaque no ranking mundial da obesidade, cuja incidência dobrou em todo o planeta nesse mesmo período. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o sobrepeso já atinge 50% da população maior de 20 anos — aproximadamente 65 milhões de pessoas. Como reflexo dessa epidemia, o número de cirurgias bariátricas realizadas em hospitais vinculados ao Sistema Único de Saúde aumentou quase 800% entre 2001 e 2010. Em unidades particulares, o crescimento registrado na última década é menor, cerca de 300%. O número absoluto de procedimentos, entretanto, supera em 13 vezes o do SUS, deixando o país, com 64,4 mil cirurgias realizadas no ano passado, atrás apenas dos Estados Unidos, onde 300 mil intervenções são feitas anualmente.

A redução de estômago como medida para se perder peso é indicada quando o índice de massa corpórea (IMC) é maior que 40kg/m². Cada caso demanda a avaliação de uma equipe multidisciplinar. Mas, em geral, a intervenção é considerada no meio médico como uma medida extrema, usada somente quando todas as alternativas de emagrecimento foram esgotadas. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Ricardo Cohen, ainda que o aumento de cirurgias no Brasil impressione, o montante realizado é mínimo perto da quantidade absurda de obesos que necessitam da intervenção. Ele explica que a videolaparoscopia trouxe avanços importantes, por ser menos invasiva e garantir o mesmo resultado que os procedimentos abertos. O tempo de internação é menor e o pós-operatório, menos dolorido.

A cirurgia bariátrica pode ser indicada quando o indivíduo tem IMC inferior a 40kg/m², mas apresenta comorbidades, como diabetes, hipertensão arterial, apneia do sono ou hérnia de disco. Segundo o médico, a fisiologia do obeso mórbido difere da do não obeso. “Cerca de 95% deles não conseguem perder ou manter a redução de peso a longo prazo com dieta, exercícios e medicamentos. A cirurgia devolve a esse paciente a capacidade de sentir saciedade e de controlar o peso por mais tempo”, defende. Os perigos desse tipo de intervenção, no entanto, sempre foram muito discutidos no passado, quando o índice de mortalidade ultrapassava os 5%. “Evoluímos muito em relação à segurança. Hoje, as mortes decorrentes de complicações com o procedimento não passam de 0,23%”, garante o especialista.

Menos riscos
O cirurgião do aparelho digestório Ronaldo Coenca observa que, há 11 anos, quando sua equipe começou a operar em Brasília, uma cirurgia bariátrica durava seis horas. As primeiras 48h do pós-operatório demandavam cuidados em unidades de tratamento intensivo e o paciente ficava no hospital por, pelo menos, cinco dias. Hoje, ela é feita em duas horas e o tempo de internação é de dois dias. Coenca enfatiza que, por segurança, o procedimento deve ser decidido por uma equipe multidisciplinar composta por endocrinologista, cirurgião, cardiologista, pneumologista, psicólogo e professor de educação física. “A decisão de operar depende da chancela desse grupo. Essa prática contribuiu para a redução da mortalidade. O acompanhamento da equipe reduz as chances de o operado voltar a engordar”, diz.

(Márcia Neri, Correio Braziliense)