O 2º e último dia do seminário “Privatizar não é a Solução” realizado pelo CNE em Brasília nesta quinta-feira contou com a participação do professor da UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, que presidiu a Eletrobras nos anos de 2003 e 2004.

Ao avaliar a consulta pública que está sendo feita pelo ministério de Minas e Energia para privatizar as empresas do grupo Eletrobras, Pinguelli disse que quando se compara a conta de luz brasileira com a de outros países, especialmente aqueles que têm a geração parecida com a nossa, ou seja, hidrelétrica, a energia é a mais cara do mundo.

Segundo ele, o instituto Ilumina pesquisou o valor das tarifas desde a privatização do setor, na década de 90, quando algumas empresas de distribuição de energia foram vendidas. A entidade constatou que o valor da tarifa residencial subiu muito acima da inflação no período.

“Hoje, a oferta de energia é maior do que o consumo devido à crise econômica. Isso favorece o capital, jogando a tarifa lá pra cima. Mas se as empresas públicas forem privatizadas e a economia crescer, demandando mais energia, imagina como a indústria de energia vai especular ainda mais na conta de luz”, alerta.

O representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Gilberto Cervinski, disse que a Companhia Paranaense de Energia (Copel), que não renovou a concessão em 2012, aumentou a conta de luz em 114% desde então.

Cervisnki também mencionou estudo feito na UnB que verificou que os sucessivos aumentos na tarifa estão defasando os salários dos trabalhadores em 3% a cada mês, por causa do encarecimento da conta de luz.

“É uma indústria que está organizada para especular. Depois da MP 579, a agiotagem no setor vem ganhando cada vez mais dinheiro com a energia”, disse. “Da forma que o setor está estruturado é para privilegiar os empresários, pois quanto mais alta a tarifa, mais os acionistas lucram”, acrescentou.

Por outro lado, segundo Cervinski, não há lugar nenhum no mundo em que o custo da mão de obra para a produção da energia seja tão barata como é no Brasil.

O ex-dirigente sindical e hoje diretor da CEB, Mauro Martinelli, criticou o prazo dado pelo MME para a consulta pública. Segundo ele será impossível fazer isso em 30 dias. “Tudo indica que a Medida Provisória já está pronta. Se isso for verdade estão apenas fingindo que vão aceitar propostas da sociedade”, disse. “Estão cumprindo apenas uma formalidade”, acrescentou.

Mauro disse ainda que o Brasil está na contra mão da história. Nos EUA, que o governo Temer quer imitar com essa proposta, 50 milhões de pessoas são atendidas por empresas públicas. Na Europa, metade da população é atendida por estatais. “Aqui o governo quer entregar o patrimônio público para a iniciativa privada o que vai tornar a conta de luz ainda mais cara”.

Segundo ele, pelo que está colocado no documento, se as empresas forem vendidas 1/3 vai para o Tesouro, 1/3 para as empresas e 1/3 para o governo. “30% do valor dessas empresas são muito pouco por tudo que as empresas públicas do setor elétrico representam para a estratégia do País. Além disso, também estão de olho no controle da água”, alerta.