
Por Lucas Toth l Portal Vermelho – publicado em 14 de dezembro de 2025.
Manifestantes ocuparam as ruas do Brasil neste domingo (14) em atos contra a anistia aos golpistas do 8 de janeiro. Mobilizações em dezenas de cidades do país rejeitaram o projeto aprovado pela Câmara e criticaram o avanço de uma agenda da extrema direita no Congresso Nacional.
As mobilizações começaram pela manhã em Brasília e se estenderam ao longo da tarde em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Campo Grande, Manaus e Belém, além de atos em várias outras cidades em todos os territórios do país, ampliando a pressão política contra a proposta aprovada pela Câmara.
Em Brasília, a manifestação ocorreu de forma pacífica na Esplanada dos Ministérios. A concentração começou no Museu Nacional e seguiu em marcha até o Congresso Nacional, com palavras de ordem como “Sem anistia” e “Bolsonaro na cadeia”.
O principal alvo das críticas foi o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), apontado pelos manifestantes como responsável por pautar a proposta.
No Rio de Janeiro, o ato ocorreu na avenida Atlântica, em Copacabana, e combinou discursos políticos com apresentações musicais. Artistas como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Paulinho da Viola participaram do ato.
A mobilização teve como eixo central a rejeição à anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro e críticas à condução da pauta no Congresso Nacional
Em São Paulo, o ato ocorreu a partir das 14h, em frente ao vão livre do MASP, na Avenida Paulista, reunindo movimentos sociais, centrais sindicais, partidos de esquerda e militantes de diferentes organizações. Faixas e cartazes com o lema “sem anistia” se repetiram ao longo da tarde, ao lado de críticas à tentativa de aliviar penas de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que a mobilização expressa um distanciamento entre o Congresso e a realidade vivida pela maioria da população brasileira. Para ele, a pressão das ruas é fundamental para enfrentar retrocessos e construir uma nova correlação de forças no país.
“Esse Congresso não tem a cara do povo e não tem compromisso com o nosso povo. A maioria do Brasil é o povo trabalhador, que acorda cinco horas da manhã, pega ônibus lotado, trabalha oito, dez horas por dia. É quem vive o Brasil real, é a juventude que batalha pelo primeiro emprego, são os trabalhadores que querem casa, teto para morar. Por isso, uma nova maioria política vai exigir grande mobilização. A mudança que o Brasil precisa virá das ruas, da força e da indignação do povo trabalhador”, afirmou.
Durante o ato, manifestantes também defenderam pautas como o fim da escala de trabalho 6×1, a valorização do trabalho, o combate ao feminicídio e críticas ao uso do orçamento secreto.
Um boneco inflável de Jair Bolsonaro caracterizado como presidiário foi exibido ao lado do carro de som.
No carro de som, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou que o Congresso forçou a retomada das ruas. “Ouça, Congresso Nacional, a voz do povo”, disse, ao reforçar que a mobilização tem como eixo a rejeição à anistia.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que a presença nas ruas envia um recado direto ao Legislativo e, em especial, ao Senado, responsável por analisar o projeto aprovado pela Câmara.
Para ela, a proposta tenta se apresentar como uma medida técnica, mas tem efeitos políticos claros ao aliviar penas de crimes contra a democracia.
“O povo foi às ruas contra a anistia. Uma proposta empurrada para o Senado como se fosse um ajuste técnico, mas que, na prática, tenta aliviar e perdoar quem atacou a democracia. Não aceitaremos atalhos nem maquiagem jurídica para perdoar crimes graves. Quem atentou contra o Estado de Direito precisa responder por seus atos”, afirmou.
Jandira destacou ainda que a mobilização busca impedir qualquer recuo na responsabilização dos envolvidos na tentativa de golpe.
“A resposta das ruas foi clara. Não haverá tolerância com nenhum passo atrás. Sem anistia. A democracia não se negocia”, declarou.
O dirigente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil no Rio de Janeiro (CTB-RJ), Paulo Sérgio Farias, o Paulinho, afirmou que a mobilização expressa a unidade do movimento sindical e popular em defesa da soberania nacional, do patrimônio público e dos direitos da classe trabalhadora.
Para ele, a tentativa de anistia está inserida em um projeto mais amplo de retrocessos.
“Esses trabalhadores e trabalhadoras têm lutado em defesa do patrimônio público, da soberania nacional e das nossas riquezas. Essa unidade é fundamental, porque precisamos enterrar de vez a extrema direita no nosso país. Não aceitaremos anistia para quem atacou a democracia e tentou rasgar a Constituição”, afirmou.
Paulinho também vinculou a luta contra a anistia à necessidade de um projeto nacional comprometido com direitos sociais e valorização do trabalho.
“Nós precisamos de um projeto que enfrente esse modelo que retira direitos e tenta impor retrocessos. É nas ruas e nas urnas que vamos derrotar esse projeto, com valorização do trabalho, redução da jornada e com um Congresso que esteja a serviço do povo brasileiro”, declarou.
Durante o ato, manifestantes entoaram palavras de ordem como “sem anistia” e exibiram faixas com críticas ao Congresso. A mobilização também incorporou pautas recorrentes, como o fim da escala de trabalho 6×1, a valorização do trabalho, o combate ao feminicídio e críticas ao orçamento secreto.
Artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque Paulinho da Viola e Fafá de Belém participaram da manifestação, em formato semelhante ao adotado nos protestos contra a PEC da Blindagem, reforçando o caráter político-cultural do ato em Copacabana.
Em cidades como Salvador e João Pessoa, os atos também tiveram como foco direto o presidente da Câmara, com cartazes que o apontavam como responsável pela condução da agenda no Legislativo.
O projeto aprovado pela Câmara na madrugada de 10 de dezembro, relatado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), obteve 291 votos favoráveis e 148 contrários.
O texto altera critérios de cálculo e progressão de penas para crimes contra o Estado Democrático de Direito e pode beneficiar diretamente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe.
A proposta segue agora para o Senado Federal, onde deve ser analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e pelo plenário, sob pressão das mobilizações deste domingo.
