Enquanto a Eletrobras convoca a força de trabalho para comemorar o fim de 2024 e a chegada de um novo ano, as contradições entre a celebração e o péssimo clima organizacional imposto pela alta gestão se tornam mais latentes. Como celebrar o “fazer parte” da maior empresa de energia elétrica da América Latina quando não sabemos quem vai e quem fica? Quando ocorrerá o próximo acidente?
Como celebrar e acreditar que a Eletrobras valoriza seu quadro técnico quando ela contrata novos engenheiros e engenheiras abaixo do piso de mercado? Quando fica o tempo todo alardeando redução salarial? Como dar o máximo de si, se ao final o recado que a alta gestão passa é de que nada adiantará pois somos apenas cifrões dentro da empresa?
A retórica corporativa da Eletrobrás transforma eventos simbólicos, como almoços e apresentações musicais, em ferramentas de manipulação. Ela utiliza de momentos de celebrações para encobrir a falta de ações concretas que corrijam as desigualdades e garantam um mínimo de segurança para a força de trabalho e para o sistema elétrico.
Os últimos acidentes: reflexo da negligência e do vácuo técnico
Os acidentes ocorridos na Chesf e na Eletronorte, não são casos isolados. São o resultado direto de decisões estratégicas imprudentes que desmantelaram equipes experientes sem garantir a transferência de conhecimento técnico. Essa política de cortes, aliada à falta de planejamento, gerou um vácuo técnico que aumentou os riscos operacionais e expôs as equipes a situações de perigo extremo.
Quem chega na empresa não tem a orientação necessária para operar equipamentos complexos e gerenciar situações de risco. Por outro lado, há a sobrecarga das equipes remanescentes que comprometem a qualidade e a segurança das operações. A negligência sistêmica da administração priorizou metas financeiras em detrimento da integridade das equipes, culminando em tragédias como esta.
A Cultura do Medo: Ferramenta de Controle e Risco Operacional
Sob o pretexto de eficiência, a alta administração instaurou uma cultura do medo que silencia, isola e desgasta as pessoas, criando um ambiente inseguro e desumano. Estamos vivenciando o medo de represálias que paralisam a iniciativa das pessoas trabalhadoras, agravando riscos operacionais. Ao se sentirem intimidadas, as pessoas não contribuem como sempre contribuíram e assim, se impede que problemas sejam relatados e corrigidos, aumentando a vulnerabilidade do sistema. Ademais, a pressão constante causa desgaste emocional e físico, comprometendo a produtividade e a saúde mental. Essa cultura não apenas desumaniza as pessoas, mas também transforma o ambiente de trabalho em um campo minado de riscos e ineficiência.
Propostas de Mudança: Um Grito por Justiça e Segurança
É urgente que a empresa adote medidas imediatas e estruturais para reverter o péssimo clima organizacional e esse cenário de negligência e exploração. Deve em primeiro lugar, parar os desligamentos e recontratar técnicos experientes, garantindo a transferência de conhecimento técnico e reequilibrando as equipes operacionais. Urge retomar a capacitação contínua, com treinamentos regulares e presenciais, com foco na segurança e na eficiência operacional.
É fundamental a eliminação da cultura do medo através da promoção de um ambiente saudável, incentivando a comunicação aberta e o feedback construtivo.
Por fim, é necessária a afirmação do compromisso com sua força de trabalho. Isto exige mudanças reais e estruturais que garantam um ambiente seguro, digno e humano. Que as vidas das pessoas sejam, de fato, prioridade, e que a ganância não se sobreponha à segurança e ao bem-estar.