No próximo dia 22, Dia Mundial da Água,  o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vai realizar um seminário em Brasília sobre o tema pra discutir questões como a mercantilização da água e os desafios para a universalização do acesso ao recurso, que é um direito básico da população.

Durante o seminário, a coordenadora do MAB, Dalila Calisto, vai lançar o livro “Mercantilização da água: análise da privatização do saneamento de Teresina (PI)”, publicado pela editora Expressão Popular. Dalila é descendente dos Povos Indígenas Jaguaribaras e Tapuias. Ainda criança, foi atingida pela construção da barragem Castanhão, no Ceará, o que a motivou a se engajar na luta por uma sociedade mais justa através do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Hoje, Dalila é militante, pedagoga, especialista em Energia e Sociedade (UFRJ), Mestra em Geografia (UNESP).

Sua obra traz uma importante discussão sobre a posição do Brasil na disputa geopolítica da água por parte do capital internacional. Nesse contexto, Dalila aponta que existe uma estratégia de privatização da água no Brasil em curso a partir de movimentos políticos, econômicos e ideológicos globais que ocorrem simultaneamente para criar as condições para a expansão da mercantilização da água, em meio a um contexto de crise econômica e de mudanças climáticas. “A aprovação da lei  14.026/20 e do PL 495/17, em tramitação, por exemplo, abrem caminhos legais para viabilizar o modelo de negócios do capital sobre a água e o setor de saneamento no Brasil”, explica a autora.

Outro destaque do evento é a mesa “Disputa Geopolítica e Conflitos da Água”, que terá a participação do filósofo, teólogo e escritor Leonardo Boff, um dos maiores nomes do tema ambiental no Brasil. “Hoje, a água é cobiçada pelas grandes corporações que querem privatizá-la e lucrar enormemente. Por ser escassa, a água doce potável se tornou um bem de alto valor econômico. Como passamos de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado, tudo se transforma em mercadoria”, afirma Boff.

Segundo Dalila, neste contexto, a principal disputa é verificada no setor de saneamento. “Todavia, os negócios vão muito além do saneamento. A estratégia do capital é a mercantilização, isto é, a precificação e comercialização de toda a água disponível no país. O discurso da escassez e de que o privado é o melhor são elementos ideológicos empregados frequentemente pelo capital para criar consensos na sociedade em torno da sua estratégia de mercantilização e de controle”.

“E uma das maiores contradições desse processo é a sobrecarga de tarifas na vida do povo brasileiro, ou seja, o fato de que, ao privatizar o saneamento, quem paga a conta é a população por meio de aumentos na conta de água, resultantes dos reajustes anuais na tarifa e no aumento na paridade da tarifa de esgoto, o que amplia a parcela da população excluída do acesso aos serviços de esgotamento sanitário”, analisa Dalila.

Por isso, a a relevância da sua obra está em desvendar o modelo de ganância das grandes empresas multinacionais que, aliadas aos organismos como os órgãos multilaterais, bancos privados e o próprio Estado, tentam estabelecer o domínio privado sobre a água e o saneamento no Brasil. Além de trazer uma visão crítica acerca do tema, calcado no ponto de vista dos trabalhadores, o livro expressa um tema de relevância popular, já que trata principalmente de políticas decisivas para o acesso do povo a esses direitos. Com o livro, o tema poderá agendar discussões na academia e dos lutadores do povo, mas principalmente ser introduzido sob a ótica popular.

Programação Seminário

 Perspectivas da Luta da água no Brasil

9h – Abertura e Mística

9h20  – Disputa geopolítica e conflitos da água – Leonardo Boff

10h30 – Depoimentos de atingidos sobre “as violações de direitos humanos no contexto da luta pelo acesso à água”

11h30 – Ato de lançamento do livro “Mercantilização da água: análise da privatização do saneamento de Teresina-PI”, da autora Dalila Calisto/MAB

14h – Luta pela Soberania energética, Lançamento da Frente Parlamentar pela Reestatização da Eletrobras e Reuniões com o Governo

Via Movimento dos Atingidos por Barragens.