A economia brasileira vem passando por um momento difícil. O Produto Interno Bruto (PIB), que em 2014 manteve-se praticamente estagnado (variação  de  0,1%),  registra  retração  em 2015. Apesar da conjuntura econômica adversa e do estresse pelo qual o setor elétrico passou ano passado, o setor de distribuição de energia elétrica tem apresentado resultados positivos.

Esses resultados podem ser explicados, de um lado, pelas  medidas de  “socorro”  ao  setor, adotadas pelo governo federal em 2014 e pela política setorial de “realismo tarifário” em 2015; de outro lado, pela manutenção do consumo de energia em patamares elevados.

Como se sabe, o ano de 2014 foi marcado por condições hidrológicas bastante desfavoráveis. Essa situação deixou o setor elétrico na eminência de um racionamento. Como consequência, o custo da geração de energia, que caiu em 2013 com a renovação das concessões (Lei 12.783), disparou em  2014,  impactando  fortemente  os fluxos de caixa das distribuidoras de energia elétrica (ver, NT157).

Para amenizar os impactos do custo de geração no setor, o governo adotou em 2014 uma série de medidas, dentre  elas  um  aporte  volumoso de recursos e a captação de dois empréstimos para as concessionárias de distribuição (R$ 17 bilhões).

Além daquelas medidas, o ano de 2015 iniciou com uma nova política setorial. O chamado “realismo  tarifário”  (Bandeiras  Tarifárias,  Revisão Tarifária  Extraordinária  e  Reajustes  Tarifários Anuais expressivos) que permitiu o repasse integral dos custos com a geração de energia para o consumidor  final.  O resultado é um  aumento  acumulado  de  cerca  de  50%  nas  tarifas  de energia  elétrica até  setembro  (IPCA,  setembro de 2015).

Consumo cativo cresceu 20% entre 2009 e 2014

O consumo de energia de elétrica cresceu significativamente nos últimos anos (22% somente entre 2009 e 2014). O consumo cativo, aquele no qual a concessionária de distribuição é a fornecedora  compulsória  e  que  representa  mais de 70% da energia consumida no país (o mercado  cativo  é  onde  estão  todos  consumidores residenciais  e  grande  parte  dos  demais  consumidores)  cresceu  20%  no  mesmo  período.

Os dados mostram que o  consumo  cativo  tem crescido a taxas acima do crescimento do PIB. Em 2014, apesar da estagnação da economia, o crescimento do consumo  cativo  de  energia elétrica  foi  de  mais  de  5%;  e  no  primeiro  semestre desse ano registrou um crescimento de 2,3% mesmo com a retração de  1,2% do  PIB.

Consumo total cai, mas consumo cativo de energia continua crescendo

Na comparação  do  acumulado  em  12  meses até agosto, o consumo total registra ligeira queda  de  0,4%.  Entretanto,  quando  se  observa  o comportamento  dos  mercados  em  separado, o consumo cativo registrou um crescimento de 1,4%, enquanto que o consumo livre caiu mais de 5,0%. O consumo cativo na região Sudeste apresentou ligeira queda de 1%, ao passo que as regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sul apresentaram avanços de 3,8%, 2,8%, 1,8% e 1,8%, respectivamente (EPE, 2015).

Tomando como  base  as  informações  acima mencionadas (políticas setoriais e consumo em alta)  não  é  de  se  espantar  que  as  concessionárias  de  distribuição  tenham  apresentado  um desempenho  bastante  positivo  em  2014  e  no primeiro semestre desse ano. O gráfi co a seguir mostra a soma bilionária dos lucros de um conjunto de empresas do setor em 2014 e 2015. O lucro acumulado entre 2014 e setembro de 2015 das empresas abaixo selecionadas chega a R$ 7,6 bilhões.

Em 2015, o grupo Equatorial acumula um lucro líquido de R$ 666 milhões, o grupo CPFL de R$ 533 milhões  e o  grupo  Neoenergia de R$  360 milhões.

EPE projeta um crescimento médio de 3,5% até 2019

Cabe destacar ainda, que para o final deste ano  a previsão é de um período com temperaturas acima da média (INPE, 2015), o que deverá influenciar, a despeito das tarifas mais altas, positivamente o consumo de energia elétrica. Na Resenha Mensal de junho desse ano a EPE revisou as previsões para o mercado total de energia entre  2015  e  2019. Apesar da  previsão  de queda para 2015, a EPE projeta um crescimento médio de 3,5% no consumo de energia elétrica até 2019.


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