O PL 4330 também é uma forma de terceirizar a morte e a escravidão. Essa é a avaliação do educador popular, Emílio Gennari, que ministrou palestra nesta quarta-feira (15), no terceiro dia da Semana Interna de Prevenção de Acidentes (Sipat) de Furnas Brasília Sul. “Esse é o limite quando uma empresa se orienta apenas pela a redução de custos. Aí o trabalhador vira escravo ou a morte é terceirizada”, aponta.

Segundo ele, nas periferias de São Paulo, crianças são encontradas montando chupetas em fundo de quintal para atender as encomendas de empresários que terceirizam o trabalho. “Essa é uma forma perversa de reduzir em até 30% os custos. Além de explorar pessoas pelo trabalho escravo, pagando salários baixíssimos, a terceirização não viabiliza condições mínimas de trabalho, possibilitando até que crianças sejam exploradas”, explica.

O diretor do STIU-DF, David Oliveira, lembra que o cumprimento de metas também é uma forma de explorar o trabalhador ao limite da dignidade humana. “Essa é uma forma mais sutil que muitos empresários encontram de subjugar o trabalhador. Isso também é uma forma perversa de exploração, pois se não cumpre as metas, sua cabeça fica a prêmio”, avalia.

Em 2013, com a queda de um guindaste no estádio do Itaquerão, dois trabalhadores morreram tentando cumprir metas para finalizar a arena do Corinthians antes da Copa do Mundo começar. Antes do acidente, dirigentes sindicais alertavam que da forma que o trabalho estava sendo executado, algo muito grave poderia acontecer. No entanto, foram ignorados.

“Quando alguém alerta a possibilidade de que algo vai dar errado acaba sendo taxado de ser do contra ou que faz parte da turma da baderna. Essas bobagens do pensamento positivo resultam nisso, em números de morte”, acrescenta Gennari.

A sonegação de treinamento, capacitação e informações para coibir acidentes de trabalho é uma forma de “convencer” o trabalhador a executar atividades de alto risco sem que ele tenha conhecimento disso. “Quando acontece o acidente e o trabalhador é perguntado (quando sobrevive, claro) por que havia feito aquilo, a resposta é imediata: eu não sabia. É assim que vários acidentes de trabalho acontecem”, aponta Gennari.