Em balanço trimestral apresentado, a Eletrobras sustenta lucro de R$ 5 bilhões em 2020 e R$ 96 milhões no trimestre, mesmo com trimestre muito afetado por provisões judiciais e aspectos não recorrentes.

O resultado acumulado no em 2020, por enquanto, apresenta-se muito melhor do que o de 2019, em termos operacionais. Desconsiderando o valor da venda de ativos, em 2019, observa-se que o chamado Lucro Líquido de operações continuadas passou de R$2,5 bilhões em 2019 para R$ 5 bilhões em 2020, ou seja, um aumento de mais de 90%.

Dados de 2020:

2020 3T20
Lucro R$ 5,0 bilhões R$ 96 milhões
Lucro de oper. continuadas R$ 5,0 bilhões R$ 96 milhões
Receita Líquida R$ 25,5 bilhões R$ 7,4 bilhões
EBITDA Recorrente R$ 8,8 bilhões R$ 3,2 bilhões
Caixa da Empresa R$ 12,1 bilhões

Apesar do bom resultado do ano, denunciamos a sanha por dividendos dos atuais administradores da empresa, servis aos senhores do mercado financeiro, notadamente os grandes acionistas minoritários da Eletrobras, que buscam recursos na própria companhia para, sorrateiramente, aumentar suas participações acionárias na Eletrobras, como foi o caso recente da 3G Radar.

Em um ano de pandemia, onde a Eletrobras deveria se preocupar em aumentar seus investimentos e ajudar na recuperação econômica do país, o que vimos foi a ganância dos acionistas privados prevalecendo, com impacto sobre o caixa da empresa. Com o pagamento de mais de R$ 2,5 bilhões em dividendos, o caixa da empresa saiu de R$ 14,7 bilhões no segundo trimestre de 2020 para cerca de R$12,1 bilhões no terceiro trimestre de 2020.

Cabe destacar que R$12,1 bilhões ainda é um valor substancialmente alto para o caixa da empresa e entendemos que, nesse momento por que passa a população brasileira, a função da Eletrobras deveria ser de utilizar seu caixa alto para realização e potencialização de investimentos, ajudando na recuperação econômica do país e no reforço da segurança energética. Mas nem a pandemia sensibiliza a direção da empresa, que continua insistindo na estratégia de manter baixo o nível de investimentos, o menor de sua história.

A Eletrobras que já investiu mais R$ 10 bilhões em um único ano, nesse ano seus investimentos ainda não alcançaram R$ 2 Bilhões. Sem entrar em novos leilões da Aneel, os administradores atuais da Eletrobras se propuseram a simplesmente agir, de forma figurada, como um herdeiro mimado e playboy, folgado por assim dizer, que vive a torrar o patrimônio que herdou, sem se preocupar se está matando a galinha de ovos de ouro.

A capacidade de investimento da empresa se expressa em seus números. Sua geração potencial de caixa, por exemplo, com um Ebitda recorrente na base anualizada de R$ 12 bilhões, é expressão de sua capacidade de multiplicação do investimento, via mercado e parcerias com a iniciativa privada.

Queda constante do PMSO

Mais uma vez a empresa apresentou queda nas despesas de Pessoal, Material, Serviços e Outros (PMSO), as chamadas contas gerenciáveis. Apesar da aparência contraditória, essa não é exatamente uma notícia boa. A empresa continua a insistir em um indicador inventado, o PMSO/PMSO regulatório.

Quem trabalha no setor sabe que nenhuma outra empresa usa esse indicador e que a nomenclatura usada representa inclusive um erro conceitual. Mesmo com a queda de 12% de pessoal, em comparação com o mesmo período do ano passado, a direção da empresa continua a repetir cegamente que a empresa está inchada.

A iniciativa privada, causadora do apagão no Amapá, cuja estrutura já passou pelas mãos de três grupos empresariais privados, dos quais dois já faliram (Isolux e Abengoa), atualmente com a Gemini, é exemplo de como (não) funcionam as empresa “super enxutas” e hoje é a Eletronorte, subsidiária da Eletrobras que está lá socorrendo o estado. Mas a sede por dividendos é cega.

A Eletrobras é a empresa com menor percentual de trabalhadores/capacidade instalada e falsos indicadores e metas sempre inalcançáveis não nos enganam.

Prejuízos legados a empresa pelo processo de privatização

Somente esse ano já foi registrado mais de R$ 300 milhões em provisões relacionadas à inadimplência da empresa privatizada Amazonas Distribuidora. De acordo com as demonstrações financeiras da Eletrobras, a distribuidora não tem honrado com seus compromissos financeiros e há uma expectativa de não recebimento do pagamento de sua dívida financeira. Todos sabemos o quão conturbado foi o processo de aprovação dessa privatização, e que a Eletrobras já absorveu outras perdas da Amazonas Distribuidora após sua privatização, sendo a assunção de dívidas grande parte delas.

Vamos continuar a pagar pelos prejuízos dessa distribuidora mesmo depois dela ter sido privatizada? O que a direção da empresa está fazendo a respeito?

 Assumindo o risco privado das SPE’s

Já denunciamos diversas vezes que alguns dos contratos com as Sociedades de Propósitos Específicas colocam a Eletrobras na posição de garantidora no lucro privado dessas empresas. Esse é o caso de alguns contratos de compra de energia de certas SPE’s, que jogaram todo o risco da variação do preço da energia para a Eletrobras.

Assim fica fácil ser empresa privada… Só nesse trimestre a Eletrobras registrou R$ 125 milhões relacionados às perdas com contratos de compra de energia de Jirau. Mais uma prova de que não passa de conto de carochinha a história de que as empresas privadas são eficientes e as estatais ineficientes.

Mais uma vez os Empréstimos Compulsórios

Os empréstimos compulsórios já afetaram o resultado da Eletrobras em mais de R$750 milhões esse ano. Isso sem contar o impacto no caixa da empresa. Esses valores se somam a provisão já altíssima registrada no balanço da Eletrobras.

Os empréstimos compulsórios não foram estabelecidos em favor da holding, de forma que a Eletrobras teria atuado em nome da União para arrecadar e administrar os valores destinados a cumprir obrigações na época assumidas pelo governo federal em programas do setor elétrico.

Esses valores podem mudar caso seja reconhecido a responsabilidade solidária da União a favor da Eletrobras, de forma que existe o direito de regresso da União para Eletrobras.

Efeitos Financeiros com impacto negativo

Itens, com efeito, puramente contábeis, cuja contabilização depende de projeções futuras para preços de energia e cambio, por exemplo, e que foram impactadas por trocas de taxas, como as contas “Ajuste a fair value” e “variação cambial” tiveram alto impacto no resultado da empresa, jogando o resultado de 2020 para baixo em cerca de R$ 2,7 bilhões.

Esses itens não afetam o caixa da empresa e tampouco refletem piora de sua situação financeira, mas, ao contrário do tratamento dado a outros efeitos contábeis, sobre isso a empresa não se pronuncia. Quando é conveniente, a empresa quer desconsiderar reversões de impairments e outros efeitos contábeis. O mesmo não acontece quando são negativos.

Aumento da Receita

Apesar da redução observada na receita de geração, causada pelo fim de contratos de venda de energia no ACR, a receita operacional teve um bom desempenho no trimestre em função do Reajuste Tarifário de Transmissão.

O reconhecimento dessa receita se deve ao bom trabalho de nossos técnicos, que conseguiram demonstrar sua competência à agência reguladora. No mais, nos cabe apenas parabenizar a todos os trabalhadores e trabalhadoras das Eletrobras por mais um trimestre de lucro, contra todas as adversidades e nesse ano tão complicado.

Reprodução boletim AEEL