Bolsonaro parece estar determinado em indicar o próprio filho para ser embaixador do Brasil nos EUA, mesmo sem os requisitos mínimos para a função. Além disso, Eduardo Bolsonaro tem demonstrado que não tem compostura para ocupar o cargo, que exige diplomacia, ótima fluência na língua estrangeira e habilidades de bom negociador para defender os interesses de 220 milhões de brasileiros. Consultores do Senado já emitiram nota técnica apontando que a medida configura nepotismo. Os brasileiros agora dependem da altivez dos senadores, pois só eles podem conter essa indicação absurda.

O slogan “Brasil acima de tudo” só existe no discurso falacioso de Bolsonaro. Nacionalista da boca pra fora, na prática tem sido o neoliberal mais voraz que o País já teve nas últimas décadas. O próprio ministro do presidente tem dito que se fosse possível venderia até o Palácio do Planalto. Mas, na verdade, a fala é só mais uma bravata dissimulada para distrair o público. O que está em jogo realmente é a venda das empresas públicas mais lucrativas do Brasil. Todas prontinhas para serem entregues a compradores estrangeiros.

Falando em gringo, Bolsonaro ainda mantém o interesse de indicar o seu filho recruta 03 para a embaixada do Brasil nos EUA. Mesmo diante de inúmeras críticas e até parecer técnico da Consultoria do Senado, que aponta a nomeação de Eduardo Bolsonaro como prática de nepotismo, conforme publicou o site do Estadão no dia 17 de agosto passado. A justificativa se baseia no entendimento de que o cargo de embaixador é comissionado, o que vedaria a indicação de parentes de até terceiro grau, conforme a súmula 13 de 2008 do STF.

Segundo os técnicos do Senado, “o nepotismo e o filhotismo, como manifestações do patrimonialismo, são fenômenos observáveis desde os primeiros tempos da colonização do Brasil e que se estendem aos dias atuais”.

“A família” é algo que sempre esteve presente no discurso de Bolsonaro. Mas é preciso ficar claro que a preocupação dele não é em relação a todos os lares no Brasil, mas sim com os seus. Afinal, mantém três filhos em cargos eletivos há anos. Sem nenhum constrangimento diz que pretende sim beneficiar familiares. “Se eu puder dar filé mignon para meu filho, eu dou, sim”, tentou justificar a indicação do filho a embaixador com a frase infeliz. Bolsonaro quis até emplacar a ex-mulher como deputada federal na eleição passada. Sem dúvida alguma é uma família que se sucedeu muito bem nos braços do patrimonialismo, clientelismo, da intolerância, do preconceito, do racismo e de práticas nada convencionais até então na Presidência da República.

Outro “argumento” que Bolsonaro chegou a usar para defender a indicação do filho na embaixada brasileira nos Estados Unidos foi o de que o recruta 03 teria fritado hambúrguer e entregado pizza lá. Uma alegação nada convencional para a importância do cargo. Ainda sim, analisando criticamente o que jamais deveria ser cogitado, é possível verificar vídeos de Eduardo Bolsonaro na Internet falando inglês com grande dificuldade. Como seria capaz de representar a soberania de uma nação com 220 milhões de brasileiros com uma limitação dessa natureza? Afinal, a diplomacia exige alto poder de clareza e eficiência na comunicação. Uma virtude imprescindível para a função.

Sem desmerecer as pessoas que trabalham fazendo lanches, mas é impossível encontrar alguma relação lógica entre as exigências do cargo de embaixador com o trabalho de fazer comida. Se alguém souber por favor, aponte.

Ainda tentando defender o filho para a embaixada, Bolsonaro disse que o trabalho de embaixador é um “cartão de visitas”. Sim, é verdade. Nisso ele está coberto de razão. Por isso, uma pessoa para ser investida num cargo tão importante como esse precisa ter a virtude de saber defender os interesses soberanos de um povo. Precisa ser hábil e bom negociador, promovendo boas relações de amizade, bons tratados econômicos e políticas culturais constantes. No entanto, esse não é o perfil de Eduardo Bolsonaro, que a exemplo do pai, reage com grosserias a todas as críticas.

Há pouco dias, quando nós brasileiros e o mundo inteiro ficamos estarrecidos com as queimadas na Amazônia, Eduardo Bolsonaro divulgou vídeo em que o presidente francês, Emmanuel Macron, é chamando de idiota por ter criticado o incentivo da política incendiária do governo brasileiro. Atitude essa grosseira e nada diplomática do recruta 03. É assim que o governo brasileiro pretende estabelecer sua política diplomática com outros países?

Habituado a divulgar fake news, Eduardo Bolsonaro aprontou mais uma. Divulgou no dia 25 de setembro, conforme divulgou inúmeros veículos de imprensa, foto falsa da adolescente sueca Greta Thunberg, ativista climática que impressionou o mundo pelo tom contundente do seu discurso direcionado aos líderes mundiais presentes na reunião da ONU. A montagem coloca a garota se alimentando sobre olhares famintos de crianças africanas. Mas na verdade, Greta estava fazendo um passeio de trem no início do ano na Dinamarca.

Junto com a foto falsa, Eduardo comentou que a menina seria financiada pelo bilionário George Soros, quando não existe indicação alguma de que ela receba dinheiro do famoso liberal que patrocina a fundação Open Society. Diante de mais essa falsidade cabe o questionamento: as relações diplomáticas com outros povos também serão conduzidas dessa forma, com mentiras?

Eduardo Bolsonaro ainda não foi formalmente indicado para ser sabatinado pelos senadores. A vontade de seu pai ainda está em fase de especulação e sondagem. Mas diante de tão poucas virtudes e competência visivelmente questionável para o cargo de embaixador, espera-se do Senado altivez e grandeza para conter essa indicação absurda, com evidente viés de nepotismo e filhotismo.

STIU-DF GERAL 08/2019