nPUBNeste fim de ano, época em que todos gostariam de concluir seus projetos e relatórios, traçar metas para o ano que se aproxima e voltar o olhar para um momento de confraternização no trabalho e na família, a alusão à música de Gonzaguinha não é por acaso. Entretanto, queremos especificar uma criança em especial, de onze anos, aluno de uma escola pública de Águas Lindas, totalmente esquecida pelo governo local, literalmente se decompondo, a tal ponto de ser fechada pela comunidade até que seja minimamente reformada. A pergunta que o repórter fez ao menino foi simples: “Você ainda tem esperança? Acha que tem jeito?”. A reposta da criança foi pura, mas suficientemente dura e perfeitamente esclarecida: “Se o Governo parar de colocar dinheiro na meia e na cueca, acho que tem jeito sim!”.
Ficamos com a resposta dessa criança, que embora dura e até amarga, nos enche de uma dupla esperança: a de que a população está suficientemente atenta e que as novas gerações têm a necessária consciência política para identificar as verdadeiras causas do atraso, das injustiças e das desigualdades sociais.
De fato, são estarrecedoras e irrefutáveis as imagens do esquema de propinas, chantagens e corrupção que permeia os meios político e empresarial, neste caso do Distrito Federal, mas que infelizmente é prática comum em diversas instâncias de governo, seja municipal, estadual ou federal.
Desde aquela sexta-feira, 27/11, a indignação, a perplexidade e a vergonha são os sentimentos que tomam conta da população do Distrito Federal, novamente surpreendida com supostos casos de corrupção e malversação de dinheiro público. Como se não bastassem o autoritarismo, o “obreirismo” eleitoreiro e o descaso com a saúde e a educação, agora se evidencia o lado sombrio do governo Arruda, fartamente exposto, a todo o momento e em todo o País, nos veículos de comunicação.
No caso específico das atuais denúncias, é preciso ter claro que o esquema de corrupção desnudado com a operação “Caixa de Pandora” não é exclusivo do governo Arruda, mas foi montado no governo Roriz e dele herdado. Aliás, é bom lembrar que Arruda foi secretário de obras de Roriz, porém alçou voo próprio quando se lançou candidato a senador pelo PSDB em 1994, chegando a ser o líder do governo FHC. De lá para cá, a história é longa: Roriz obteve mais dois mandatos, de 1999 a 2002 e de 2003 a 2006, com margem mínima (e questionável) de votos em ambas as eleições, e depois elegeu-se senador, tendo que renunciar em 2007 por ter sido flagrado em conversa telefônica negociando a partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões do empresário Nenê Constantino, dono da Gol. Enquanto isso, Arruda, tendo antes tentado eleger-se governador em 1998, reassumiu seu mandato de senador, mas teve que renunciar em 2001 por conta do episódio da violação do painel de votação eletrônico. Depois disso, elegeu-se deputado federal em 2002 (pedindo desculpas pelo erro) e, em 2007, tornou-se governador do DF.
Embora ainda estejam por vir novos fatos e desdobramentos, o certo é que há uma crise política instalada no GDF e na Câmara Legislativa, chegando também ao Tribunal de Contas do DF, cujo resultado não poderá ser outro: o afastamento de todos os envolvidos na investigação da Polícia Federal – governador, vice-governador, presidente da Câmara Legislativa, secretários de Estado, assessores, deputados distritais e o conselheiro do TC-DF. Não é possível manter em seus cargos ou mandatos aqueles que roubam o dinheiro público que deveria ser aplicado em saúde, educação, segurança e sistema de transporte coletivo. Eles não têm autoridade moral e sustentação política até que sejam concluídas as investigações e a conclusão dos processos de cassação e impeachment. É isso o que a população espera e a democracia exige.
Sindicatos e centrais sindicais, entidades do movimento popular, OAB e demais entidades que compõem o “Movimento contra a Corrupção” estão unidos para que o povo de Brasília seja respeitado e que nossa cidade possa completar seus 50 anos com a alma lavada. Cabe a nós, trabalhadores e trabalhadoras do DF, o protagonismo na defesa da moralidade na administração pública. Participe das atividades!