Em mais uma entrevista, dessa vez à Miriam Leitão do jornal O Globo, o Presidente Wilson Pinto Junior repetiu a receita que vem aplicando à mídia: desmontar a Eletrobras e incensar seus feitos à frente da Empresa.

E mais uma vez as Entidades de Representação dos trabalhadores vêm responder tecnicamente às meias-verdades e manipulações da verdade que se tornaram
praxe nos discursos para “justificativa do injustificável”.

Meias-verdades e/ou manipulações 1:– Números bons são esquecidos e os ruins potencializados.
“A Eletrobras está mudando. A dívida líquida caiu, o número de funcionários foi reduzido, a administração foi reorganizada e a ação já se valorizou em 173% até agosto. Estão sendo vendidas 77 SPE’s no valor de R$ 4,6 bi. A devastação causada pela ex-presidente Dilma Rousseff impressiona: a Eletrobras perdeu de 2011 a 2015 quase a metade do patrimônio líquido e acumulou prejuízo de R$ 31 bi.”

Realidade:
Ao chegar à Eletrobras, o Sr. Pinto Junior, de posse dos números, começou a manipulá-los e fabricou uma quantidade absurda de dados ruins para divulgação ao mercado. No caso da dívida, “esqueceu” de abater os recebíveis; na citada “devastação do governo Dilma”. Fez vista grossa aos bilhões de reais de indenizações a serem pagos pela União à Eletrobras. Quanto aos empregados, deixou de dizer que sua gestão é baseada no assédio, medo e discriminação.

Quanto às ações, se compararmos exatamente o preço médio de julho/2016 com agosto/2017, o valor é praticamente o mesmo. Até caiu 9,4%. Acontece que o
Presidente provavelmente usa dados não médios, mas sim um eventual dia de pico em agosto/2017, contra um dia de maior baixa em julho/2016, também não aplica o “menos 1” no resultado, assim o próprio valor é considerado valorização, o que de fato não é. Existem várias ferramentas para acompanhar a evolução das ações, uma delas pode ser acessada aqui.

E as SPE’s? Quais são as 77? Qual o valor de cada uma? Quem precificou? Cabe lembrar  que as SPE’s que estão à venda já tiveram todo seu investimento realizado e todo seu “presumido” prejuízo pago pela Eletrobras através dos cálculos de impairment. Agora é só entrada de dinheiro, é só fluxo positivo de dinheiro. Desse modo, se forem vendidas, o que é positivo tornará em mais prejuízo, o que beira a irresponsabilidade, que é o que critica o Presidente.

Meias-verdades e/ou manipulações 2 – As falácias dos 14 meses de gestão.
“A companhia tem 55 anos. Em quatro anos, só quatro, ela perdeu 40% do seu patrimônio líquido. Quase metade do patrimônio esfacelado em um prazo muito pequeno. Ao mesmo tempo ela aumentou muito a dívida para fazer frente a isso e aos planos enormes de investimento. Esse era o tamanho do problema 14 meses atrás”, conclui Wilson Ferreira, olhando para os gráficos da companhia que preside.

Realidade:
O endividamento da Eletrobras, o correto com abatimento dos recebíveis, é fruto de investimentos para viabilizar empreendimentos estruturantes para um setor recém-saído do colapso do apagão, além dos custos para manter os serviços de distribuição em áreas isoladas e mercado rarefeito.

Nestes últimos 14 meses, com a chegada do Sr. Pinto Júnior, não houve nenhuma mudança significativa – a dívida líquida continua praticamente a mesma, a distribuição continua com a responsabilidade da União e as indenizações negociadas pela gestão passada foram contabilizadas e começaram a serem pagas, apesar do súbito “esquecimento” do Presidente Pinto Junior.
Qual dívida será paga? Se vai pagar dívida tem que dizer qual. Reduzir o indicador dívida líquida/EBitda não é pagar dívida. Ou vai deixar o dinheiro em caixa e gastar com contratos sem licitação “amigáveis”? Cabe lembrar que nas malfadadas privatizações de FHC o argumento era o mesmo, mas o dinheiro sumiu e a dívida só cresceu.

Meias-verdades e/ou manipulações 3 – Destruição de Valor x Destruição da
Eletrobras.
“Essa destruição de valor na Eletrobras aconteceu pelo mesmo motivo que houve um mar de prejuízos em todas as empresas do setor: a Medida Provisória 579. Dívidas e brigas judiciais ainda se acumulam entre os diversos segmentos do mercado por causa da MP. Com ela, a ex-presidente Dilma achou que estava reinventando a roda. Deu errado. Entre outras razões porque ela reduziu na marra o preço pago às geradoras, diminuindo em 20% a receita da Eletrobras. Mas a seca se agravou, tornando o valor pago ainda mais irreal.”

Realidade:
A MP-579/2012 do governo Dilma foi um grande equívoco, gestada na calada da noite e por meia dúzia de pessoas, que se diziam especialistas do setor – houve destruição de valor, apesar do objetivo nobre de buscar a modicidade tarifária, muito exigida pelos empresários da FIESP, parte deles também filiados à ABRADEE.

Agora, o projeto do atual governo Temer, arquitetado pelos senhores Paulo Pedrosa e Wilson Pinto Junior, é infinitamente mais danoso e trará como consequência a destruição não de valor, mas da Eletrobras, resultando em aumento de tarifas e a perda da capacidade do país na implantação de projetos estruturantes, uma vez que os players privados do setor fogem das construções do zero e preferem ativos prontos, maturados e livres de dívidas – tudo prontinho entregues de mão beijada.

Isso sem falar das nebulosidades e conflitos de interesses que circundam esse processo de privatização ou monstrealização da Eletrobras. Infelizmente temos hoje um MME cujos atos vêm sendo constantemente questionados, como no caso da liberação da mineração na região amazônica e, por último acusado de favorecer petroleiras estrangeiras no Pré-sal, comopublicado pelo jornal inglês The Guardian.

Meias-verdades e/ou manipulações 4 – As alquimias em cima da dívida líquida/Ebitda.
“A dívida comparada à sua geração operacional de caixa em um ano, a medida mais importante de endividamento — dívida líquida/Ebitda — era 8,8 vezes em setembro de 2016. Agora está em 4,1 e a meta é terminar este ano com 3,3, chegando a 2,4 em 2018. — A empresa aumentou o endividamento e o país perdeu o grau de investimento. Uma combinação diabólica porque o banco te cobra mais caro e encurta a dívida. A Eletrobras chegou a tomar dinheiro a 16%, a 19%. O serviço da dívida aumentou 60% — explica Wilson Ferreira.”

Realidade:
Alquimista de números! Desde que chegou na Eletrobras o Sr. Wilson Pinto Junior, divulga que a relação dívida liquida/Ebitda era de 9 vezes. Esse índice foi calculado sem o devido abatimento dos recebíveis da Eletrobras. Agora, com o cálculo correto, divulga que abaixou para cerca de 4 vezes, quando já o era em julho de 2016.

Grande parte das contabilizações positivas são decorrentes do reconhecimento das indenizações oriundas da MP-579/2012 – mais de R$ 40 bilhões.

Meias-verdades e/ou manipulações 5 – SPE que não é boa para a Eletrobras é boa para os privados?
“O ajuste pelo qual a estatal está passando mexe com tudo. Para se ter uma ideia, além de todas as controladas, ela tinha também 178 Sociedades de Propósito Específico. Para cada novo negócio que o governo decidia que a Eletrobras iria entrar, criava-se uma SPE, que tinha que ter uma estrutura administrativa. A nova gestão decidiu vender 77, ao valor de R$ 4,6 bi. Outras foram encerradas e algumas incorporadas ao negócio porque não havia razão para não fazerem parte da estrutura.”

Realidade:
A Eletrobras que sempre teve à sua frente visionários, empreendedores e gente interessada na evolução do setor elétrico, hoje tem à sua frente um vendedor,
um mercador, que busca alienar os ativos da empresa a qualquer custo. O que seria do setor elétrico hoje sem a energia das SPE’s? E os leilões promovidos pela Aneel teriam sucesso? A iniciativa privada entraria nos empreendimentos sem a Eletrobras? O que está por traz da compulsão pelas vendas? Quanto a Eletrobras aplicou nas 77 SPE’s que serão vendidas? Qual a perspectivas de ganhos das referidas SPE’s até o término das concessões? Se as SPE’s são ruins, qual o motivo do interesse dos compradores? Para essas questões o Presidente têm resposta?

Meias-verdades e/ou manipulações 6 – Cortes e reduções de pessoal “Com o plano de aposentadoria incentivada, a companhia reduziu em 2.100 o número de funcionários e diminuiu em R$ 900 milhões o custo. Além disso, restringiu níveis administrativos, cortou 600 cargos de gerente, e eliminou 60% dos cargos de assessor. O plano de demissão incentivada deve despedir 2.300 funcionários até o ano que vem. — Não faz sentido ter quatro níveis hierárquicos numa holding, ou ter 2.200 caras gerenciando 15.000. Parece muito cacique.”

Realidade:
O “pessoal” hoje na Eletrobras é tratado como meros números! Nunca o capital humano da Companhia foi tratado com tamanho desrespeito e irresponsabilidade. O quadro desde a edição da MP-579/2012 vem sendo ajustado e, em 2013, foram desligados cerca de 5.000 empregados.

Na gestão do Sr. Pinto Junior, baseada no assédio, medo e na discriminação, os desligamentos estão acontecendo da forma mais equivocada possível. Não há plano de retenção do conhecimento!; O interesse da Empresa é colocado em segundo plano; Foram institucionalizas absurdas e criminosas práticas de discriminação e de assédio moral – tudo isso para forçar adesões aos programas de incentivo ao desligamento.

Recentemente o Sr. Wilson Pinto Junior, divulgou que fará um novo programa de desligamento e que de uma previsão de 2.300 adesões, esperando desligar cerca de 1.200 empregados lotados na cidade do Rio de Janeiro, empregados estes que já começaram sofrer discriminações e assédios como motivadores para saírem. Infelizmente, hoje, temos um Sistema Eletrobras doente e sofrido, com aumento significativo das licenças médicas.

Quanto aos cortes de níveis hierárquicos, cargos gerenciais e de assessoria, as medidas implantadas foram inócuas, com manutenção dos custos e perda de qualidade. Cabe lembrar que o que o Presidente vem fazendo não tem nada de novo. Pagou-se uma fortuna a Roland Berger para aplicar a falida Reengenharia das décadas de 80 e 90 no Brasil. Reengenharia essa que não funcionou sem melhorias nas grandes corporações, já que nessas empresas as responsabilidades precisam ser bem definidas.

Assim, com os prováveis prejuízos desta administração temerária, vai-se culpar a quem, se os gerentes atuais estão sobrecarregados em suas responsabilidades?

Meias-verdades e/ou manipulações 7 – Privatização: esta palavra Wilson Ferreira não fala!
“Tudo está sendo mexido na Eletrobras, que se prepara para a privatização. Mas esta palavra Wilson Ferreira não fala. — Haverá uma democratização do capital, e com regras para evitar que haja concentração das ações, no modelo de grandes empresas do mundo.”

Realidade:
Como exímio vendedor e hábil com manipulações, o senhor Wilson Pinto Junior, juntamente com o seu parceiro Paulo Pedrosa, inventaram o termo “democratização”, para suavizar o real objetivo que é a privatização da Eletrobras. É vendê-la de qualquer forma e a qualquer custo.

A Eletrobras já é uma grande empresa no cenário mundial, o que lhe falta é uma gestão séria, transparente e comprometida com o seu futuro e com a verdade. Hoje temos uma gestão comprometida com interesses próprios e de terceiros! Lamentavelmente, a Eletrobras, como organismo, conta hoje com um parasita agressor, que vem corroendo suas forças por dentro.

Meias-verdades e/ou manipulações 8 – Escárnio: fazer Eletrobras assumir dívida R$ 11 bilhões para entregar distribuidoras limpinhas “Ferreira não acha um mau negócio a estatal ficar com as dívidas das seis distribuidoras que controla, e vendê-las por um preço mínimo. São as companhias do Amazonas, Roraima, Acre, Rondônia, Alagoas e Piauí. A de Goiás já foi vendida. — A Eletrobras perde muito dinheiro com essas distribuidoras. Nos últimos 10 anos foram R$ 20 bilhões. Só no ano passado foram R$ 6 bilhões de prejuízo. Ao vender, de largada, vamos reduzir em R$ 2,4 bilhões o custo de pessoal, material e serviços de terceiros. A dívida de R$ 11 bilhões dessas companhias será transferida para a Eletrobras para tornar viável a venda das distribuidoras. Mas Wilson Ferreira diz que tudo já foi provisionado. A companhia tem apenas que usar o dinheiro, ou reverter a provisão. Por isso, ele acha que o impacto será “zero”, e que o maior ganho é sair de um negócio que a estatal nunca dominou.”

Realidade:
Quando fala dos problemas e impactos da MP-579/2012, o vendedor Wilson Pinto Junior ruge como o leão e debita tudo ao governo anterior, agora quando quer viabilizar a venda das distribuidoras e entregá-las com os seus balanços limpinhos para os novos donos, ele desconversa e arruma uma série de argumentos e manipulações para justificar o mico de R$ 11 bilhões em divida para a Eletrobras.

Que interesses estão por traz dessas operações? A responsabilidade pelos custos operacionais da distribuição nas áreas remotas, isoladas e de mercado rarefeito é da União e do poder público. Infelizmente temos hoje um gestor com discursos contraditórios, autoritário com os seus subordinados e comportamento subserviente com os seus superiores!

Meias-verdades e/ou manipulações 9 – Interferências.
“Para vender parte do capital da Eletrobras será preciso aprovar o projeto de lei no Congresso, e resistir à pressão dos grupos políticos em torno de cada uma das controladas. Mas, se conseguir, o maior ganho será proteger a companhia do enorme prejuízo que tem sido a persistente interferência dos políticos que sempre controlaram a estatal.”

Realidade:
Para o bem ou para o mal, o país é governado pela classe política. A Eletrobras, ao longo de sua existência, sempre teve dirigentes indicados pela classe política, nem por isso deixou de cumprir com suas obrigações e participar ativamente na construção e desenvolvimento do Setor Elétrico.
A Eletrobras é maior que os seus dirigentes! E é formada por profissionais sérios, um corpo técnico competente, que dedica suas vidas aos objetivos e missão da Empresa. E, apesar do Senhor Pinto Junior (que sim, é um indicado político!) pensar de forma diferente, o maior patrimônio da Eletrobras são os seus trabalhadores e trabalhadoras. Nossa constatação é de que desde julho de 2016, data de sua chegada, a Eletrobras ficou foi muito mais doente!

Fonte: http://www.aeel.org.br