De acordo com o Detran, de janeiro a agosto deste ano, 310 pessoas morreram nas vias locais, a maioria, pedestres e motociclistas. O número representa 9,5% a mais que o mesmo período de 2009. Agosto aparece como o pior mês desde 2004

As estatísticas de mortes nas pistas do Distrito Federal voltaram a preocupar as autoridades de trânsito. Dados do Departamento de Trânsito (Detran) mostram que 310 pessoas morreram nas ruas da capital do país de janeiro a agosto de 2010. O número é 9,5% maior que o mesmo período do ano passado, quando foram registradas 283 mortes. Pedestres e motociclistas surgem como as principais vítimas. Nos oito meses deste ano, 96 pessoas perderam a vida ao atravessarem as vias e 80 condutores de motos não resistiram aos ferimentos. Ainda segundo o órgão, agosto bateu o recorde em violência no trânsito, levando-se em conta todos os meses dos últimos seis anos. Ao todo, foram 53 acidentes fatais e 55 mortes.

Os motociclistas se envolveram em 40% (21) do total de acidentes fatais registrados no mês analisado. Entre as principais causas para o aumento das mortes no trânsito do Distrito Federal está o crescimento de motocicletas nas ruas. Do total de 1,19 milhão de automóveis que compõem a frota do DF, 131 mil são motos, o que representa 10,9% do total. A cada mês, mais de mil novas unidades tomam as pistas da capital da República e disputam espaço com carros, caminhões, ônibus e pedestres, que lideram desde 2004 o ranking das vítimas do trânsito. Ontem, a morte de um rapaz atropelado na Estrada Parque Taguatinga (EPTG) engrossou a triste estatística. Em Planaltina, um homem também morreu ao atravessar uma via.

Já a quantidade de acidentes fatais envolvendo motos cresceu 226,5% nos últimos 10 anos — o número saltou de 34 para 111. O Detran registrou cinco acidentes entre motociclistas de janeiro a agosto de 2010. E o que mais preocupa é que, segundo o Detran, do total de condutores abordados pela fiscalização, 40% não são habilitados. Pilotar sem documento obrigatório do veículo ou capacete está entre as outras infrações cometidas. Por conta dessas irregularidades, o órgão retirou das pistas do DF 7 mil motocicletas. O número, que corresponde aos registros feitos nos oito primeiros meses do ano, já supera 2009, quando foram apreendidas 6,7 mil.

“O motociclista é mais vulnerável do que os demais condutores. Além disso, o aumento da frota conta para o aumento de acidentes fatais. A moto é um veículo financeiramente mais acessível para os quem precisam ou querem ter mais mobilidade. Muitas vezes, essas pessoas não têm condições econômicas para adquirir os equipamentos de segurança recomendados, como roupas, sapatos, luvas. Algumas optam pelo veículo sem nem sequer ter habilitação”, explica o professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques.

Educação
Além dos motivos elencados pelo especialista, a ausência de uma política de trânsito no DF dificulta a resolução do problema. A alternância de nomes que ocuparam a direção do Detran ao longo dos últimos quatro anos — foram oito diretores diferentes, durante o período — reflete na descontinuidade dos programas voltados para a área. Este ano, por exemplo, apesar de ter arrecadado mais de R$ 68 milhões em multas, até setembro, nenhuma campanha educativa foi realizada pelo órgão.

“Não tivemos nenhuma campanha na mídia por problemas na licitação das agências. Quando o Tribunal de Contas liberou, houve mudanças na lei e fomos obrigados a refazer todo o processo. Logo depois, ficamos impedidos pela legislação eleitoral de contratar esse tipo de serviço”, justificou o diretor-geral do Detran-DF, Francisco Saraiva.

O medo e a preocupação acompanham o motociclista Antônio Marcos de Araújo, 23 anos. “Quase todos os dias escapo de um acidente grave. Certa vez, quase que um carro me pegou a 150km/h. Dei a seta para direita, quando vi, ele já estava em cima de mim. A sorte é que eu joguei para esquerda. Se eu não desvio é pancada na certa e eu não estaria aqui para dar essa entrevista”, conta.

Motociclista há três anos, o morador de Samambaia culpa os condutores de veículos maiores pelo aumento de acidentes envolvendo motos. “Eles são muito imprudentes e nós, muito vulneráveis”, argumenta o auxiliar de produção. Mas ele também admite negligência de boa parte de seus colegas. “Tenho muitos amigos sem habilitação, que vão para onde querem e não têm o azar de ser parados pela fiscalização. Agora, vai eu esquecer o documento em casa. É parar na blitz na certa”, comenta.

Avenidas perigosas
O número de acidentes com mortes em agosto surpreendeu a direção do Detran. Com os dados em mãos, os técnicos do órgão identificaram as avenidas mais perigosas do DF. São elas: Hélio Prates, Elmo Serejo (as duas cortam Taguatinga e Ceilândia), Alagados, em Santa Maria, Pioneiros, no Gama, e Independente, em Planaltina. Estrategicamente, foram colocadas viaturas nesses pontos críticos. Dados preliminares mostram que a ação surtiu efeito. Em setembro, até o momento, não houve registro de acidente fatal nas vias.

Diretor-geral do Detran-DF, Francisco Saraiva afirma que a presença da fiscalização inibe o motorista a cometer infrações, como avanço de sinal, tráfego pelo acostamento e desrespeito à faixa de pedestres, o que consequentemente evita acidentes.

Mas ele ressalta que a ação preventiva esbarra na falta de pessoal. Saraiva espera que, até janeiro próximo, os candidatos aos 411 cargos de agente de trânsito façam as provas do concurso e que as 100 pessoas que serão convocadas imediatamente estejam trabalho ainda no primeiro trimestre de 2011. Quanto aos motociclistas, Saraiva diz que a fiscalização continuará intensa. “Todos os dias, por volta das 6h, 6h30, fazemos operações nas saídas de Santa Maria, Ceilândia, Planaltina. Em cada operação dessas, recolhemos 40 motos, em média”, disse.

Trauma
Depois de sofrer um acidente, quando saía de casa para trabalhar, a auxiliar administrativo Sandra Cardozo, 32 anos, nunca mais pilotou uma moto. Facilidade e economia levaram a moradora do Gama a comprar uma motocicleta em 1999. Por nove anos, o veículo foi utilizado como fonte de renda. “Vi no trabalho de entregas um meio fácil de ganhar um dinheiro razoável”, explica.

Mas o emprego e o meio de transporte mudaram depois que Sandra caiu ao tentar fazer uma ultrapassagem, há dois anos. “Tive ferimentos leves, mas foi o suficiente para ficar traumatizada”, conta. Depois do episódio, Sandra, que é mãe de um rapaz 16 anos, desistiu de levar a vida em duas rodas. “Pensei muito no meu filho. Não poderia morrer e deixá-lo sozinho.” A mulher comprou um carro e passou a trabalhar em um escritório. “Mudança radical”, afirma. (MS)

Memória

11 de outubro
O motociclista Alexandre Ferreira dos Santos, 24 anos, morreu após bater na traseira de um ônibus. O acidente ocorreu no primeiro balão de acesso ao Jardim Botânico, por volta das 15h30.

12 de setembro
Danilo Pereira da Cruz, 19 anos, perdeu o controle da moto Honda Fan e bateu em um poste na Quadra 25 do Park Way, na
BR -040. Com o impacto da batida, o rapaz morreu na hora.

31 de agosto
Um motociclista morreu em um acidente ocorrido às 6h30 em Planaltina, próximo ao Morro da Capelinha. Ao fazer uma ultrapassagem, João Nilton de Oliveira, 59 anos, bateu de frente com um Celta preto (placa JHG-1766-DF) e acabou não resistindo.

24 de agosto
Dois jovens motociclistas perderam a vida em acidentes de trânsito em Samambaia Sul. O soldado do Exército Jonatan Davi Santos de Barros, 19 anos, conduzia sua motocicleta Honda CG-125 (placa JHE 8783-DF), quando bateu na traseira de um ônibus da Viplan (placa JHQ-2956-DF), que estava parado em um ponto embarcando passageiros. Com a pancada, Jonatan caiu e foi atropelado por outro veículo. Em frente à Feira Permanente da cidade, o motoboy Pablo Cabral de Souza, 20 anos, bateu com violência na lateral de um caminhão usado no transporte de frangos e morreu na hora.

23 de agosto
A colisão entre uma moto e um Ford Fiesta resultou na morte do motociclista Geison Pereira da Silva, 23 anos. O acidente ocorreu por volta das 10h15, na BR-020, sentido Planaltina—Sobradinho, na altura do Km 14.

19 de agosto
Um garoto de 8 anos foi atropelado por uma moto (placa JJQ-5556/DF) no Eixão Sul. O acidente ocorreu na altura da 107 Sul, sentido Rodoviária do Plano Piloto. O motociclista Livônio Oliveira da Silva, 28 anos, trafegava pelo corredor de carros quando atingiu o menino, que teve ferimentos leves.

12 de agosto
Cláudio Pereira Ferreira, 34 anos, conduzia a motocicleta Yamaha, placa LSF-0760/DF, no Pistão Norte, quando encostou na lateral do veículo. Ele se desequilibrou e caiu no asfalto. As rodas traseiras do caminhão Mercedes-Benz modelo L1513 (KAW- 1259/GO) acabaram matando a vítima.

(Adriana Bernardes e Mariana Sacramento, Correio Braziliense)