Belo Horizonte — Erraram os demógrafos que projetaram um crescimento na representação feminina nas casas legislativas do país a partir de 2011. As projeções desmoronaram porque foram baseadas apenas no fato de que o número de candidatas à Câmara mais do que dobrou em relação a 2006, passando de 651 para 1.340. Ledo engano. As mulheres não apenas ocuparão menos assentos na Câmara dos Deputados, nas Assembleias Legislativas e na Câmara Distrital, como também cresceu o índice de insucesso eleitoral. Na Câmara, apenas 43 se elegeram, o equivalente a 3,2% do conjunto das candidaturas femininas. Há quatro anos, eram menos de 6,9%.

A cientista política Marlise Mattos, coordenadora do Núcleo de Pesquisa da Mulher e chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, considera que, apesar das mudanças na legislação eleitoral que obrigaram partidos e coligações a cumprirem a cota de 30% de candidaturas de outro sexo nas eleições proporcionais, o desinteresse dos partidos pela participação feminina não se alterou. “Junta-se a isso a desmotivação das próprias mulheres, que estão cansadas de serem usadas nas chapas sem que lhes sejam proporcionadas chances reais de vencer”, assinala Marlise.

Das 1.340 candidatas neste ano a deputada federal, apenas 43 se elegeram, duas a menos do que em 2006, quando 651 disputaram as eleições. Em 2002, foram 487 candidatas em todo o país, das quais 42, o equivalente a 8,6%, conquistaram uma cadeira. Entre 2002 e 2010, as candidaturas femininas quase triplicaram. Apesar disso, a representação na Casa pouco se alterou. Já os índices de insucesso eleitoral cresceram. Em 2002, 91,4% das candidatas não se elegeram. Em 2006, foram 93,1% não eleitas. Este ano são 96,8%.

Proporcionalmente ao número de candidaturas, o insucesso eleitoral das mulheres é maior hoje do que antes da lei das cotas, que passou a vigorar nas eleições de 1998. Em 1994, das 178 candidatas que concorreram no país a uma cadeira na Câmara dos Deputados, 32 se elegeram, o correspondente a 17,8%. O índice de insucesso eleitoral naquele ano foi de 82,2%, bem menor do que o registrado 16 anos depois.

As bancadas federais dos estados reproduzem o problema. Minas Gerais, por exemplo, teve, em 1994, duas deputadas federais. Quatro anos depois, elegeu três. Em 2002, caiu para uma. Enquanto em 2006 elegeu três, este ano, Jô Moraes (PCdoB) foi a única eleita entre as 97 mulheres que tentaram conquistar uma cadeira na bancada federal mineira. Também no Distrito Federal crescem numericamente as candidaturas, mas não as chances de vitória. Em 2002, foram 10 candidatas e só uma eleita. Em 2006, 16 concorreram e nenhuma se elegeu. Este ano, foram 20 candidatas. Só duas — Erika Kokay (PT) e Jaqueline Roriz (PMN) — conquistaram cadeira, o equivalente a 10%, o mesmo índice de sucesso eleitoral de 2002, quando a metade de candidatas entrou na disputa.

(Fonte: Bertha Maakaroun, Correio Braziliense)