Democratizar o campo da comunicação no Brasil é fundamental para o estabelecimento de uma mídia ampla e independente dos poderes políticos e econômicos.

A falta de uma comunicação pública forte, como acontece na Inglaterra, que tem a BBC de Londres, possibilita cada vez mais a centralização do poder da mídia comercial. Nos Estados Unidos, pais berço do capitalismo moderno, o dono de uma emissora de rádio não pode ser dono de TV. O dono de uma televisão não pode ser dono de jornal impresso, e assim por diante. Mas no Brasil, uma família é dona de rádios FM e AM, TVs abertas e à cabo, jornais impressos, revistas e site, constituindo um domínio total das comunicações. A ausência de regulamentação do capítulo V da Constituição abre brechas para a consolidação desse oligopólio da mídia, que atua em pleno domínio e concentração da informação no Brasil.

Atualmente, sete famílias controlam os meios de comunicação no País. Em geral, as informações que a maioria das pessoas tem acesso são “construídas” por algum destes grupos. Diante desse cenário, a sociedade fica refém de uma mídia que veicula apenas alguns interesses políticos e econômicos, transformando a sua opinião sob o disfarce de opinião pública.

Na cobertura dos protestos de março ficou evidente a parcialidade dessa mídia. Os números inflados sobre a participação dos manifestantes são proporcionais ao tamanho da manipulação. Muitos jornais impressos e televisivos deram que na Avenida Paulista, em São Paulo, havia cerca de 1,4 milhão de pessoas. Mas consideração apenas a área útil da avenida temos, segundo alguns cálculos, mais de 20 pessoas por metro quadrado, algo materialmente impossível. A não ser que fosse uma pirâmide humana.

Para o jornalista e diretor da Telesur, Beto Almeida, não existe imparcialidade na mídia. “A informação sempre tem um lado. O que temos que assegurar é que haja moralidade. Uma emissora de televisão, jornal ou rádio que seja comprometido com teses antidemocráticas e conservadoras, vão sempre fazer um jornalismo com esses conceitos”, destaca.

Almeida chama a atenção para a cobertura da mídia quanto aos casos HSBC e Zelotes, onde os desvios até então apurados são superiores ao da operação Lava-Jato e que ganharam pouquíssima repercussão.

“Nesses dois exemplos [HSBC e Zelotes] como há pessoas vinculadas ao sistema financeiro e aos meios de comunicação é criado um cordão de segurança para que isso não seja divulgado. Assim, o esquema de depósito ilegal na Suíça praticado por grupos midiáticos e empresas que sonegam impostos e fazem ações para que suas dívidas com a receita sejam perdoadas ou reduzidas, ficam escondidas”, observa o jornalista.

A concentração do sistema de comunicação brasileiro desafia a Constituição Federal e as legislações do setor se apresentam como um grande empecilho na luta pela democratização da comunicação e da informação no Brasil. Vale destacar que sem uma comunicação plural e popular, os discursos da liberdade de expressão e da democracia no País acabam sendo superficiais.

Fonte: Jornal Energia Alerta