ELN

Os trabalhadores do Grupo Eletrobras realizaram uma greve nacional vitoriosa, derrotando a estratégia da direção da Holding, que apelou à via judicial para pressionar a categoria e, consequentemente, terminar com um movimento forte em todas as empresas.

NEGOCIAÇÃO DURA

A database dos eletricitários deste ano foi marcada desde o início pela falta de diálogo e respeito por parte da diretoria da Eletrobras. A pauta de reivindicações foi entregue à direção da Holding no mês de maio; todavia, em mais de 3 meses de campanha, aconteceram apenas três reuniões de negociação, sendo que, na última, a direção da Eletrobras colocou bem claro que não havia possibilidade de ganho real, bem como a manutenção de alguns benefícios, como o Adicional por Tempo de Serviço e a gratificação de férias acima de 1/3. Por último, numa reunião já durante a greve por tempo indeterminado, a empresa lançou uma proposta de 1,5% de ganho real por dois anos e se retirou da mesa de negociação. Diante de nossa contraproposta de 5% se fosse para dois anos, inusitadamente, entrou com o processo de dissídio de greve junto ao TST.

ENFRENTAMENTO DO DISSÍDIO

A opção pela judicialização do processo negocial, que não acontecia desde 1990, expôs a fragilidade da direção da empresa, que durante esse período todo não conseguiu ter a capacidade de reconhecer a necessidade de um acordo justo, que valorize a classe trabalhadora, maior patrimônio das empresas.

Os trabalhadores e trabalhadoras do setor elétrico não se intimidaram e não recuaram. Com uma adesão massiva à greve, mas garantindo os serviços à população, reconquistaram sua unidade e seu protagonismo, assombraram as diretorias das empresas e, ao mesmo tempo, desmontaram sua estratégia perante o TST de imputar ao nosso movimento um risco infundado de colapso do país.

MEDIAÇÃO DO JUIZ

Diante de nosso comportamento responsável e nossos argumentos, o presidente do TST, contrariando a expectativa da Holding, reconheceu, não só a legalidade da greve como a legitimidade das nossas reivindicações, inclusive nosso pleito de ganho real, que na audiência chegamos a 3%, de maio de 2013 a maio de 2015. Tentando uma conciliação, o Ministro sugeriu uma proposta intermediária, fazendo um apelo à empresa que estudasse a possibilidade de conceder, para os dois anos, um aumento salarial de 2,5% acima do IPCA, mas também um apelo aos trabalhadores que suspendessem a greve, no aguardo da resposta da empresa. Depois de uma trégua, na segunda audiência, a Holding ainda tentou arrancar uma proposta de 2% dos trabalhadores, e foi surpreendida por nossa contundente negativa e a retomada da greve. Só na terceira audiência, a empresa voltou atrás e aceitou a proposta do TST.

MARCO HISTÓRICO

Essa greve, por todas suas circunstâncias, tornou-se um novo marco para a categoria, pois resgatou os momentos históricos vividos por gerações que lutaram contra o autoritarismo dos anos 70 e 80 e contra o neoliberalismo do período sombrio dos anos 90. Quis o destino que trabalhadores que vivenciaram aqueles períodos estivessem lado a lado com a atual geração, unidos na mesma trincheira de luta, não somente para buscar um acordo digno e garantir suas conquistas, mas para defender uma Eletrobras forte e empreendedora, digna de ser a maior empresa estatal do setor elétrico no continente.

Realizamos uma greve vitoriosa, que quebrou paradigmas e abriu um novo período do movimento sindical. Entretanto, não nos enganemos. Diferentemente do Governo Lula, onde havia um projeto nacional para o setor elétrico, a conjuntura se mostra nebulosa. O governo Dilma mostrou seu lado intransigente, sem espaço para o diálogo com a classe trabalhadora, apostando suas fichas em medidas privatistas de pseudo-eficiência, com consequente redução de direitos, aumento indiscriminado das terceirizações, participações excessivas de interesses privados no setor, tudo para agradar o “Deus” mercado e seus acionistas.

A LUTA CONTINUA

O CNE, o Sindinorte e o STIU-DF agradecem o empenho de cada trabalhador, e ficam com a certeza de que a categoria está preparada para enfrentar qualquer desafio. Quanto às ameaças às nossas conquistas firmadas em nosso ACT, temos à nossa frente uma trégua por dois anos. Mas, a luta continua, agora em outro patamar, e muito mais séria. Devemos conquistar um projeto de país onde a Eletrobras possa desempenhar seu papel fundamental de indutora do desenvolvimento e trazer mais ganhos para seus trabalhadores e trabalhadoras. Onde se possa reverter, de vez, essa recorrente lógica neoliberal.

Sim, a luta continua!

 


VISUALIZAR ARQUIVO EM PDF