O Correio acompanhou, durante a quarta-feira, a exibição do programa gratuito na TV e no rádio nas casas de duas famílias. Em ambas, as pessoas ainda não decidiram em quem vão votar no pleito

O programa eleitoral gratuito, principal aposta dos candidatos ao Palácio do Buriti para conquistar mais votos, pode não surtir o efeito que os postulantes ao Executivo local tanto esperam. Pelo menos por enquanto. Como o pleito ocorre somente em outubro, muitos eleitores ainda estão em dúvida sobre quem votar e as gravações mostradas na TV e no rádio podem não ser suficientes para resolver as opções dos indecisos. No primeiro dia em que o horário eleitoral exibiu os candidatos ao GDF, o Correio acompanhou os programas veiculados no horário do almoço na casa de duas famílias brasilienses, em Taguatinga e Ceilândia. Em ambos os casos, os eleitores ainda não decidiram seus candidatos e mostraram que não são as mensagens tecnicamente gravadas que farão a diferença nas urnas.

Na última semana, os principais postulantes ao governo — Agnelo Queiroz (PT) e Joaquim Roriz (PSC) — dedicaram grande parte de suas agendas à preparação de mensagens em estúdio para serem utilizadas no horário político. A primeira parte do corpo a corpo realizado pelos políticos nas ruas do DF também foi registrada e editada para fazer parte dos vídeos. Mesmo com a tentativa, segundo as famílias ouvidas, a tendência é de que a programação não atraia a atenção desejada para as campanhas.

O cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer acredita que a propaganda eleitoral gratuita pode definir uma eleição apenas nos casos em que a disputa é acirrada entre dois ou três principais candidatos. E explicou que a indecisão dos eleitores durante todo o período de campanha é normal. “O segundo lugar tem que apostar mais na televisão e no rádio que o primeiro colocado. Mas deve também usar outros mecanismos, como o debate ao vivo, as entrevistas e a campanha de rua”, disse. O cientista político defende ainda que o último debate televisivo antes do pleito pode fazer mais diferença que os dias de propaganda gratuita. “Com a proximidade da eleição, aumenta o interesse das pessoas. O pessoal está mais motivado. Ainda assim, tem gente que só decide o voto quando recebe o santinho do candidato a caminho das urnas”, explicou.

O número
30 de setembro – Data que termina o programa eleitoral gratuito na TV e no rádio

Em Taguatinga
Na casa do mineiro José Aparecido Lores, 51 anos, política é assunto que se discute em família. Morador de Taguatinga Norte, próximo a uma área comercial, ele costuma receber a visita de candidatos durante todo o período eleitoral. “Muitos vêm aqui, prometem, se elegem, mas no fim das contas não cumprem e nunca mais voltam”, diz o coordenador logístico. Ontem, assistindo ao programa eleitoral gratuito — ao lado da mulher e do filho, durante o horário de almoço — o eleitor acompanhou atento as propostas dos principais concorrentes ao Buriti.

Mesmo analisando as propostas e se divertindo com as promessas inviáveis, José Aparecido ainda não sabe em quem votar. “Sempre votei de uma mesma forma, mas, com as atuais denúncias e os problemas relativos às impugnações de candidaturas, terei que mudar”, afirmou. O filho, por sua vez, já se decidiu. “Escolhi o candidato que mais se adaptou àquilo que acredito ser viável e importante ser feito”, avaliou o servidor do GDF Tiago Biller Lores, 27 anos.

Para José Aparecido, no entanto, a dúvida, faltando 45 dias para o pleito, é atípica. “Nas últimas eleições, em uma época dessas, tinha tudo definido e anotado, inclusive os números dos candidatos. Dessa vez, não tenho a menor ideia”, destacou. Além de prestar atenção nas propostas, José Aparecido também ouve atento as opiniões do filho mais velho. “Sempre comento o que vi nos últimos anos em termos de promessas e como as coisas aconteceram na prática”, pondera Tiago.

A dona de casa Damiana Oliveira, 56 anos, por sua vez, tenta se manter fora da discussão familiar e afirma não saber o que fará com o seu voto para governador. Ela acredita, no entanto, que o programa eleitoral na TV não vai colaborar muito com a sua escolha. “É claro que a propaganda tira algumas de nossas dúvidas, mas a gente vê que muito do que eles prometem no vídeo não serão capazes de cumprir”, avalia. Ela sabe em quem votará para Presidente da República e também para deputado distrital, os outros votos permanecem em aberto. “Minha vontade é votar nulo, mas ainda não sei se farei isso”, disse.

Na opinião de Tiago, o tempo que os candidatos têm no horário eleitoral é muito curto para que as propostas de governo sejam conhecidas a fundo. “No caso dos distritais, a propaganda só serve para conhecermos a cara deles, porque não dá tempo de falar nada. Já para governador, o tempo, mesmo sendo um pouco maior, muitas vezes, acaba sendo utilizado para politicagem. Detesto isso”, analisou. O servidor público acredita que os debates entre os candidatos na TV é a melhor forma de conhecer as ideias dos postulantes às vagas. “Ali, sim, eles respondem as perguntas. São realmente questionados. É muito melhor, ajuda na formação de nossas escolhas”, diz.

Em Ceilândia
Os políticos que disputam as eleições deste ano terão de se esforçar para conquistar a família de Benedito Francisco Gomes de Aquino, 52 anos. O aposentado, a mulher e as filhas ainda não decidiram em quem votar. Eles assistiram ao debate pela televisão, ficaram atentos às entrevistas e ao programa eleitoral gratuito, mas, ainda assim, não encontraram motivos suficientes para escolher o futuro governador do Distrito Federal. A família, moradora da QNP 14 de Ceilândia, segue a tradição de votar em candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT). Este ano, no entanto, alega estar sem opção.

Benedito acredita que a cada eleição fica mais difícil decidir. “As eleições estão meio enroladas este ano. São muitas promessas e não sei em quem confiar. Os políticos deveriam fazer mais e falar menos”, disse. Interessado, ele pretende acompanhar as propostas e a campanha eleitoral de perto para decidir o voto consciente. “A gente depende deles para ter as leis e os avanços na cidade. Não vou votar nulo ou em branco. Mas cada vez ficamos mais desanimados com as eleições”, destacou. O primeiro dia de propaganda eleitoral dos candidatos a governador do Distrito Federal não convenceu Benedito.

O interesse pela política é compartilhado com as filhas — a estudante Thaís, 17 anos, e a professora Juliana Aquino, 24. A caçula tem a opção de não votar este ano, mas faz questão de exercer a cidadania. Ela é a única da casa que está pendendo para um dos candidatos. Thaís não abrirá mão de acompanhar a campanha para mudar de opção na última hora, caso ache necessário. “Ainda não conheço direito todos os candidatos. Mas gostei da postura de alguns. É muito ruim votar com o pé atrás. Sabemos que se o político que eu ajudei a eleger errar, o erro também é meu”, refletiu.

Juliana está descrente com a política este ano. “Todo mundo com que eu converso está perdido, sem saber o que fazer. Quero ver quantas pessoas vão votar e o percentual de nulos e brancos este ano”, disse. Ela acredita que o principal erro dos candidatos é atacar um ao outro e esquecer de divulgar as suas propostas. “A propaganda eleitoral deve seguir essa linha. Quero ver mais as propostas e menos o número dos candidatos. Roriz e Agnelo atingem dois extremos. E eu continuei indecisa”, acrescentou.

Desinteressada por política, a dona de casa Mariza de Aquino, 48 anos, também não foi convencida a votar pelas opções expostas durante o horário eleitoral. “Vou continuar a sair da sala no horário político. Devo votar nulo ou em branco, não sei o que fazer”, assumiu. Os familiares brincam que ela votou em Fernando Collor para Presidente da República porque o achou bonito. “Para mim, é tudo farinha do mesmo saco”, resumiu.

(Fonte: Juliana Boechat e Noelle Oliveira, Correio Braziliense)