As obras no principal canteiro da hidrelétrica de Belo Monte — batizado com o mesmo nome da usina que começa a ser erguida no rio Xingu, no Pará — estão paradas desde a última sexta-feira, deixando sem atividades 1.800 operários. Os trabalhadores apresentaram à direção do consórcio construtor (CCBM) várias reivindicações, entre elas aumento salarial, ampliação do recesso de fim de ano e maior número de dias para a chamada baixada — período que a empresa libera os trabalhadores de outras cidades para visitar as famílias. As negociações começaram na segunda-feira.

Segundo a empresa, somente entre 5% e 10% dos empregados decidiram cruzar os braços na sexta-feira para reclamar melhores condições de trabalho. Mas o consórcio optou por paralisar as atividades de todos os 1.800 funcionários para evitar qualquer tipo de confronto ou acidente entre grevistas e os que permaneceram em atividade.

Os empregados da usina bloquearam o quilômetro 55 da rodovia Transamazônica, próximo à cidade de Altamira, principal pólo no entorno de Belo Monte. O CCBM informou que continuam funcionando os sítios Pimental, Canais do Dique e do Km 27 (estrada vicinal que leva ao canteiro de Belo Monte). A construção do empreendimento conta com um total de quatro mil trabalhadores.

O mês de novembro, informou a assessoria do consórcio, é a data-base da categoria e as reivindicações estão sendo negociadas com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada e Afins do Pará (Sintrapav-PA). A reunião dos empregados com a empresa continuava até a noite desta segunda-feira.

A CCBM garantiu ainda que a paralisação não vai atrasar o cronograma da hidrelétrica, que prevê a entrada em operação da primeira turbina em 2015. A usina de Belo Monte terá capacidade de 4.571 megawatts médios de energia.

A atitude preventiva do consórcio de Belo Monte visa a evitar ocorrências como as de março deste ano na usina de Jirau, que está sendo construída no rio Madeira, em Rondônia. Insatisfeitos com os salários e as condições de trabalho, operários dos canteiros da hidrelétrica atearam fogo a ônibus e destruíram alojamentos, entre outros confrontos.

O descontentamento se alastrou para o canteiro de obras da usina de Santo Antonio, parte do Complexo do Madeira, e o empreendedor preferiu paralisar a construção temporariamente antes que confrontos ocorressem também no local.

Depois de uma série de reuniões lideradas pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que levaram à redução do número de trabalhadores nas duas usinas, foi criada uma comissão com representantes de trabalhadores, empresas e governo, para acompanhar as condições de trabalho em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

(Portal O Globo, 29.03.12)