O primeiro ano do governo Dilma Rousseff na relação com o movimento social foi tranquilo. Os maiores conflitos ficaram por conta da relação com o movimento ambientalista e com as pastorais sociais, particularmente nesse universo, com o Cimi [Conselho Indigenista Missionário].

Houve ainda fortes tensões com o movimento de Direitos Humanos. Já com os movimentos “tradicionais”, o sindical – em especial a CUT (Central Única dos Trabalhadores) – e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), as tensões foram pontuais.

A ausência de grandes conflitos não significa que não houve enfrentamentos e, tampouco, concordância com todas as decisões do governo federal. Porém, ficou claro que parte do movimento social optou pela distensão.

Ponto de vista
O balanço geral de derrotas e conquistas é feito a partir do ponto de vista do qual se olha. Há movimentos que veem um saldo positivo na relação com o governo após um ano, outros veem o contrário.

Entretanto, considerando-se os grandes temas na agenda de 2011, o balanço é mais de derrotas do que de ganhos: perdeu-se na definição do salário mínimo, avançou-se na flexibilização do Código Florestal, a já histórica luta contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte não sensibilizou o governo, a reforma agrária ficou praticamente paralisada e a demarcação das terras indígenas, sobretudo tendo presente a dramática situação dos kaiowa-guaranis, pouco avançou.

Há ainda outros temas que permanecem em disputa e em debate: os desdobramentos do PNDH 3 [Plano Nacional de Direitos Humanos], incluindo aí a Comissão da Verdade; kit anti-homofobia; investimentos para a Copa do Mundo; PEC contra o trabalho escravo; novo marco regulatório para as ONGs e a reforma política.

Sob a perspectiva dos problemas estruturais, permanecem deficitários os investimentos na área da saúde e da educação, ou seja, a questão social permanece ainda como o maior desafio a ser enfrentado.

Gilberto Carvalho
Em parte, a boa relação do governo Dilma com o movimento social foi costurada pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho. A nomeação do ex-chefe de gabinete de Lula para o ministério que se ocupa da interlocução com a sociedade civil revelou a disposição da presidente em manter canais abertos de diálogo.

Respeitado pelos movimentos sociais como um interlocutor que sabe ouvir, e caracterizado como “conciliador”, Gilberto Carvalho “administrou” e qualificou a relação com o movimento social ao longo do ano, não sem muitas tensões como nos casos da rebelião de Jirau e na polêmica construção de Belo Monte.

A relação se deu de forma mais transparente com o movimento social e menos “nebulosa” do que foi com o governo Lula. Nesse ano, a relação foi mais clara em relação às pautas em debate. Sobre o negociável e o inegociável.

Um paradoxo se instalou. Melhorou a interlocução, mas não necessariamente o afluxo das reivindicações. Dilma com o seu estilo gerencial, menos político, e arraigada a sua concepção desenvolvimentista nem sempre se sensibilizou pelas demandas apresentadas.

(*) Cesar Sanson*,na Radioagência NP. Pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR