O grupo Revolución Federal é conhecido pelos atos violentos com tochas, forcas e guilhotinas contra forças políticas kirchneristas. – Reprodução

O fundador do grupo extremista argentino Revolución Federal, Jonathan Ezequiel Morel, de 23 anos, foi preso nesta quinta-feira (20) pela Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA) em uma investigação por incitação à violência e ao delito. As principais evidências utilizadas são declarações públicas, como transmissões ao vivo pelas redes sociais, em que integrantes conversam sobre a possibilidade de assassinar a vice-presidenta Cristina Kirchner, dias antes do atentado de fato.

A detenção acontece dias depois que o juíz federal Marcelo Martínez aceitou o pedido de Cristina Kirchner de ser parte da acusação do processo que investiga o grupo Revolución Federal. A confirmação ocorreu no último dia 18. As mensagens violentas, difundidas nas redes sociais, incluem com frequência ameaças de morte à vice-presidenta, seu filho e deputado federal Máximo Kirchner e o presidente Alberto Fernández.

A vice também solicitou que a investigação ao grupo extremista seja integrada à investigação que têm detidos Fernando Sabag Montiel e Brenda Uliarte pela sua tentativa de assassinato. Porém, a juíza responsável pelo caso principal, María Eugenia Capuchetti, recusou o pedido por não encontrar elementos concretos para estabelecer a relação direta entre ambos os expedientes.

Outros dois integrantes do grupo, Leonardo Sosa e Gastón Guerra, foram detidos na operação, que incluiu 11 locais no pedido de busca e apreensão em Buenos Aires pelo Tribunal Nacional para Assuntos Penais e Correcionais Federal nº 8. Horas mais tarde, uma quarta integrante buscada pela investigação, Sabrina Basile, filha do ex-técnico da seleção argentina Algio “Coco” Basile, se entregou e também está detida.

Ligação com ex-ministro de Mauricio Macri

O líder do Revolución Federal recebeu mais de 8 milhões de pesos da empresa imobiliária Caputto Hermanos, da qual um dos sócios é Luis Caputo, ex-ministro de Finanças de Mauricio Macri, presidente da República entre 2015 e 2019.

O pagamento, realizado em seis notas fiscais, fariam referência, segundo o advogado representante da firma, a um trabalho de carpintaria que Jonathan Morel teria realizado como “parte do mobiliário dos apartamentos do edifício Espacio Añelo”, na província de Neuquén, no sul do país, e para o “Salón de Usos Múltiples do bairro Santa Clara al Sur”, na província de Buenos Aires.

Cristina Kirchner e seus advogados defendem que não é possível descartar a participação do grupo na tentativa de magnicídio. No texto de solicitação para a inclusão no caso como parte da acusação, endereçado ao juiz Marcelo Martínez de Giorgi, Kircher destacou: “é também alarmante o provável financiamento deste grupo violento, que queria acabar com a minha vida, por parte de pessoas pertencentes à oposição ao governo do qual formo parte”.

Apesar de conformar a direita considerada mais “tradicional”, uma ala da coalizão de Macri, a Juntos por el Cambio, tem se radicalizado com a chegada de “libertários” como Javier Milei no Congresso argentino.


Ato do Revolución Federal neste ano contra a Frente de Todos: levaram uma guilhotina e cartazes com pedido de “prisão, morte ou exílio”. / Reprodução

“Pena que já conhecem a minha cara”

Um dos áudios analisados foi uma transmissão no Twitter em que o líder do grupo, Jonathan Morel, conversava com outro integrante do Revolución Federal, também jovem, Franco Ezequiel Castelli, de 26 anos. A conversa se deu no dia 25 de agosto, durante os dias de vigília na porta da casa de Cristina Kirchner, em repúdio ao pedido de 12 anos apresentado pela promotoria argentina e classificado pela vice-presidente como lawfare.

“Hoje, por exemplo, eu via como a Cristina cumprimentava a La Cámpora e a militância e pensei, que pena que já conhecem a minha cara. Senão, você não sabe como eu me infiltraria lá uma semana e esperaria que a poeira baixasse…”, disse um dos integrantes do grupo. E Morel respondeu: “Sim, se os meninos da Cámpora não me conhecessem, iria, cantaria a marcha peronista 7 dias seguidos e, assim que pudesse, passaria à história”, afirmou. “Depois me linchariam, mas passaria à história”, concluiu.

Além dos áudios utilizados na investigação, Jonathan Morel é uma figura que confirma atitudes violentas inclusive em entrevistas e aparições em canais de televisão. “Eu vejo um kirchnerista e quero fazê-lo sangrar”, afirmou Morel em entrevista gravada com um repórter do elDiario Ar.

O que é o Revolución Federal

O grupo se insere no contexto de ascensão da ultradireita argentina, representada pelos autodenominados “libertários”, apesar de não assumirem uma ligação direta com partidos políticos. Morel disse, em certa ocasião, que vê os militantes e políticos “libertários” como “mornos” e que “não vão resolver nada”.

Desde a expansão da direita nas ruas durante a pandemia, o Revolución Federal ficou conhecido recentemente pelas marchas com lemas e expressões violentas contra forças progressistas, em particular contra o governo atual, que tem Cristina Kirchner como vice-presidenta e líder da principal força política no país, no amplo espectro do peronismo, na ala progressista.

No dia 9 de julho deste ano, dia da Declaração da Independência da Argentina, ativistas do Revolución Federal se instalaram na Praça de Maio, em frente à sede presidencial, com uma guilhotina e placas com os dizeres “Todos presos, mortos ou exilados”, em referência ao nome da coalizão governista Frente de Todos.

Via Brasil de Fato.