Na mitologia grega, as sereias eram seres demoníacos, capazes de atrair qualquer um que ouvisse o seu canto. Os marinheiros, seduzidos por seu belíssimo som, descuidavam da embarcação e naufragavam. Por isso, o ardiloso Ulisses, ao regressar de Tróia, pediu para ser amarrado ao mastro de sua embarcação. Queria ouvir o canto, mas sem correr o risco de se ver atraído por seu encanto.

O atual canto da sereia, na versão eletricitária, é de que a privatização, disfarçada pelo nome de capitalização, pode beneficiar os trabalhadores e trabalhadoras ao corrigir distorções e premiar os melhores.  Ao ler atentamente as páginas 3360 e 3361 da Proposta de Administração aprovada na AGE de 22 de fevereiro, o que se vê é uma forte reestruturação do quadro de pessoal. Os bancos que a propuseram chamam de oportunidade de alavancagem.

No que eles enxergam ser um grande espaço de otimização nas estruturas organizacionais da Holding e controladas, que se replicam, e que possibilitará a redução no número de posições gerenciais e quadros técnicos, nós resumimos como sendo o processo natural pós privatização: desemprego do quadro atual.

Diversas áreas serão extintas: Auditoria Interna; todas que de alguma forma, atuam na gestão dos diversos programas governamentais que serão transferidos para a ENBPAR (PROINFA, PROCEL, RGR, Luz para Todos e outros); as equipes internas dedicadas ao Programa Orçamento Legal; dentre outras. É exatamente o movimento que se vê nos processos de privatização recentes, seja do setor elétrico ou não.

Nos espanta receber notícias de gestores, que encantados com o canto da sereia, estão trabalhando freneticamente para conseguir antecipar a entrega de resultados e, assim permitir que a privatização ocorra ainda no primeiro semestre de 2022. Atendem ao chamamento de uma Diretoria irresponsável e inconseqüente que já não se preocupa mais com os seus próprios CPFs.

Estes gestores colocam em risco seus CPFs e da equipe que pressionam. Submetem suas equipes a jornadas exaustivas, com risco real de equívocos provenientes da pressa imposta pela Direção da Eletrobras. Talvez imaginem que ao colaborar com o processo, se salvem do desemprego que nos assolará, mas, pelo que se aponta no relatório, estes gestores serão os primeiros a serem descartados.

Este é um momento de muita reflexão, sobre o papel e a responsabilidade que temos sobre processos e pessoas. Nós não temos compromisso com o atropelo imposto pela Eletrobras e pelo Governo Federal. A Lei não traz data para que a privatização ocorra. A história do quadro técnico da Eletronorte sempre foi norteada pela responsabilidade.

Neste momento, a responsabilidade manda analisar, seguir os passos, verificar as informações. O prazo regulamentar e legal não é o prazo divulgado irresponsavelmente pela Holding. Por isso, não caiam no canto da sereia. Resistam como o fez Ulisses. Trabalhem, mas dentro da racionalidade e legalidade.

Veja aqui o boletim do STIU-DF.