No rol das 50 melhores escolas do país, a capital federal participa com duas instituições. Uma delas conquistou a sexta posição entre as dez primeiras. Em 2008, apenas um colégio de Brasília apareceu no ranking brasileiro, na 46ª colocação

Apenas duas escolas de Brasília integram o ranking das 50 melhores instituições públicas e privadas de ensino médio do Brasil. A classificação é resultado do desempenho dos alunos que se submeteram ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009, divulgado na última sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação. O Colégio Olimpo, criado em Goiânia e inaugurado há dois anos na capital federal, conquistou sexto lugar na lista nacional, com média de 736,33 pontos.

O Distrito Federal só reaparece na listagem na 50ª posição, ocupada pelo Sigma, que alcançou 701.55 de média. Em 2008, somente o Colégio Galois representava o DF no mesmo ranking, na 46ª posição. O Colégio Militar de Brasília, que conquistou média de 673,73, não garantiu lugar entre as primeiras colocadas da classificação geral, mas chegou ao rol das 50 instituições públicas com notas mais altas, situado na 38ª posição.

O levantamento também destacou os 50 estabelecimentos educacionais com os piores desempenhos e, entre eles, está o Centro de Ensino Fundamental 312 de Samambaia, que aparece na 49ª colocação. A média obtida pelos alunos — 379,15 — está abaixo da pontuação mínima de 400, como condição para conseguir o diploma de conclusão de ensino médio. No ensino privado, a pior colocada é a Escola Master II, em São Sebastião, com média de 483,32 pontos.

Avaliar se o Distrito Federal obteve melhorias qualitativas no sistema de ensino de 2008 e de 2009 com base nos resultados do exame não é tarefa fácil. Entre os 27 entes da Federação, o DF abocanhou a 4ª colocação, subindo três degraus em relação a 2008. Com a completa reformulação do teste, a avaliação do progresso do ensino ficou mais subjetiva. Primeiro, porque o Enem teve a metodologia, a aplicação e o sistema de avaliação reformulados. Além disso, para muitos especialistas, os números não refletem a real situação das escolas, já que a prova não é obrigatória. Em decorrência disso, somente a partir dos resultados de 2010 será possível fazer a comparação.

“A nota do Enem não é parâmetro para avaliar as instituições ou o sistema educacional”, destaca a coordenadora de Avaliação Educacional da Secretaria de Educação do DF, Gláucia Carvalho. Para ela, os alunos que não estão mais matriculados, mas, em algum momento, frequentaram determinada escola, podem se inscrever pela instituição e realizar o exame. Carvalho acrescenta que é preciso saber quantos alunos da instituição fizeram as provas para avaliar se eles realmente traduzem a metodologia de ensino das instituições que representam. “Muitos colégios têm notas brilhantes, obtidas por apenas um aluno”, avalia Gláucia.

Caminho certo
O professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Bernardo Kipnis acredita que as políticas do governo federal estão no caminho certo. “Mensurar esses indicadores, como o Ideb e o Enem, é um grande avanço nas políticas públicas”, defende. Mas, segundo ele, a defasagem do ensino é nítida no DF, principalmente for a do Plano Piloto. “Houve avanço, mas ainda assim, estamos abaixo do que deveríamos. O problema aumenta quando tratamos das disciplinas de matemática e português”, detalha.

A edição de 2009 foi um marco na história do Enem. Até o ano anterior, a prova, que era realizada em um único dia, tinha apenas 63 questões de múltipla escolha e uma redação. Na avaliação feita no ano passado, os alunos foram submetidos, em dois dias, a 180 perguntas dividas em quatro provas e uma redação. Com a reformulação feita pelo Ministério da Educação, o Enem passou a valer como seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais — que têm autonomia e podem decidir como a prova será usada para o ingresso de alunos.

Antes, os resultados eram divulgados individualmente, mas, nesta edição, o Inep inaugura um sistema que leva em conta as menções globais das instituições. “As notas dos alunos do ensino médio regular, da educação de jovens e adolescentes (EJA) e os resultados dos egressos eram trabalhados de forma separada. Agora, a média é feita depois de juntar todos esses critérios. Mas a média prejudica a qualidade da informação”, explica Gláucia Carvalho.

A coordenadora de Avaliação Educacional da Secretaria de Educação do DF acredita que as escolas particulares mantêm a tendência de melhora e cita como exemplo o fato de apenas uma das instituições avaliadas ter média inferior a 500 pontos. Entre os estabelecimentos públicos, apenas 50 ficaram abaixo desse índice, o que ela considera positivo. “Existe uma diferença histórica entre os investimentos feitos nas redes pública e privada. Mas, nos últimos 15 anos, a oferta da rede estadual melhorou muito”, defende.

Segundo ela, com o aumento na quantidade de matrículas nas instituições públicas, há cerca de 25 anos, houve uma tendência de mais investimentos na qualidade dos professores, nos currículos e no material didático.

Mas, para o professor Bernardo Kipnis, “muitos professores não têm bagagem para oferecer um conteúdo diferenciado aos alunos”.

Nova liderança

Nos últimos anos, os colégios Galois e Sigma têm disputado o título de melhor escola do Distrito Federal. Neste ano, porém, o dono do primeiro lugar no ranking do Enem é o Olimpo, instituição criada em Goiânia (GO) recém-chegada a Brasília. A diferença entre o Olimpo e o Sigma, segundo colocado, é de 35 pontos. O melhor desempenho rendeu ao Olimpo a sexta posição no ranking nacional das 50 melhores escolas —públicas e privadas — do Brasil. Esta foi a primeira participação do colégio no exame feito no Distrito Federal.

Para o diretor pedagógico e sócio do colégio, Dalton Franco, o desempenho é prova de que a metodologia do Olimpo capacita os alunos a realizar provas como o Enem, que exigem interação entre os conteúdos e interpretação, e os vestibulares tradicionais, considerados mais inflexíveis e segmentadores de matéria. “O Enem era considerado uma forma branda de avaliação. Mas ele desmistifica a teoria de que o aluno só entra na universidade com decoreba. Temos que preparar o aluno para qualquer desafio”, avalia.

O Olimpo chegou a Brasília há três anos com o curso pré-vestibular. Um ano depois, o grupo abriu a escola, exclusiva de ensino médio. Fisgou professores de Goiânia, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais para integrar o corpo docente. A forma de ingresso é uma entrevista que avalia o grau de comprometimento do aluno com o ensino e, explica Dalton, a vontade do candidato em estudar no local. “Não queremos que os estudantes nos procurem por uma vontade dos pais. Tem que ser uma atitude espontânea”, reforça Dalton. Atualmente, são 105 alunos no ensino médio. “Queremos expandir sem perder qualidade”, diz Marcelo Moraes, diretor financeiro.

A liderança e o bom posicionamento nacional — a escola de Goiânia não figura na mesma lista — foi mais que bem recebida, mas não causou surpresa ao Olimpo. “Temos quatro pilares: quadro, giz, vontade de ensinar e vontade de aprender. Nosso objetivo é envolver os alunos, fazer com que eles estejam mais preparados ao estudar mais e melhor”, comenta Rodrigo Bernadelli, professor de física e diretor de ensino.

Segundo lugar
Aparecendo em segundo lugar, o Sigma permanece no grupo de elite do ensino de Brasília e comemorou a evolução registrada pela filia da Asa Norte, que passou do 5º para o 4º lugar neste ano. O diretor pedagógico da instituição, Ronaldo Mendes, acredita, porém, que a colocação poderia ser melhor caso o Enem fosse mais vantajoso aos alunos do Sigma. “O foco principal é a Universidade de Brasília e ela ainda não utiliza o exame como meio de ingresso”, diz. Segundo ele, em 2009, a proximidade entre as datas do vestibular, do Enem e do Programa de Avaliação Seriada (PAS), realizados em fins de semana seguidos, foi um fator de desistência de muitos estudantes em se submeter ao Enem. (AS)

Para saber mais
Mudança no sistema

Dentre as alterações na sistemática do Enem, está a adoção do sistema Teoria de Resposta ao Item (TRI). Ele substituiu a Teoria Clássica, em que cada questão recebe uma pontuação e o resultado final é a soma das pontuações atribuídas aos itens. A TRI cria uma escala para medir o conhecimento do candidato. Em uma prova de 45 questões, caso duas pessoas acertem 20 delas, elas dificilmente terão a mesma nota, a não ser, é claro, que acertem as mesmas 20 questões. Os pesos não mudaram, mas quem acertar tópicos que sigam um padrão coerente terá notas melhores. O sistema foi elaborado para permitir a comparação entre provas diferentes, criando unidades de medida para as questões e permitindo a comparação de diferentes edições de aplicação do exame.

(Fonte: Ariadne Sakkis, Mariana Moreira e Juliana Boechat, Correio Braziliense, 19.07.10)