Em entrevistas para a imprensa local, divulgadas na sexta-feira e ontem, 14/09, o presidente da CEB, Edison Garcia, fez novamente o papel de principal advogado da venda da empresa que ele próprio dirige. Alegou, agora, que a inadimplência dos consumidores do DF já o levou a cortar “praticamente R$ 56 milhões” em investimentos, derivando daí a proposta de privatização.

Nas justificativas anteriores já constaram “a ineficiência econômico-financeira”, devido ao prejuízo de 2018; “o risco de perda da concessão”, que seria decretada automaticamente pela ANEEL se os números ruins se repetissem em 2019; “as despesas com pessoal”, que estariam sempre acima dos limites regulatórios; e “o endividamento de R$ 1 bilhão” da empresa.

Todas essas alegações foram sistematicamente desconstruídas pelos fatos. A empresa reverteu o resultado negativo lucrando R$ 41 milhões em 2019, cumprindo todos os parâmetros econômico-financeiros exigidos pelo contrato de concessão; as despesas com pessoal, material, serviços e outros (PMSO), em declínio desde 2018, ficaram abaixo do regulatório já no primeiro trimestre de 2020; e a dívida da CEB, hoje em torno de R$ 806 milhões, além de estar sendo amortizada sem atrasos e com média de juros compatível ao remunerado pela tarifa, tem perfil majoritariamente de médio e longo prazo e é plenamente equacionável, ainda mais considerando os R$ 600 milhões de recebíveis e quase R$ 400 milhões em ativos para alienação.

Mesmo caindo mais de 50% nesta gestão privatista, os investimentos acumularam nos últimos 5 (cinco) anos um montante superior a R$ 360 milhões. É por isso que a CEB foi considerada a melhor distribuidora do Centro-Oeste e a sétima melhor do Brasil em 2019, sendo amplamente aprovada pela população do DF. Estranhamente, na matéria do Jornal de Brasília, o presidente da empresa afirmou que a CEB “não investiu nada nos últimos dez anos”, confrontando dados oficiais da própria Companhia.

Com esses números e prêmios, era de se esperar a mudança de narrativa. Agora, a culpa pela privatização da CEB é a dívida dos consumidores do DF. Nesse novo discurso, foi simplesmente omitido o fato de que a inadimplência, motivada pelas conseqüências econômicas da pandemia de coronavírus, é um problema que afeta todo o setor elétrico brasileiro, já que a arrecadação média das distribuidoras caiu 6,3% no período. Aliás, por isso foi instituída a chamada “Conta-Covid”, uma linha de financiamento a juros mais baixos, com limites de captação de cada concessionária definidos na Resolução nº 885/2020 da ANEEL, permitindo o enfrentamento dessa conjuntura pelas empresas.

Assim como as outras alegações, essa também não resistirá à realidade. Até porque o processo de recuperação de receitas já está em curso e foi uma grande conquista dos técnicos da CEB em 2019, que através do programa “Recupera” levou o EBTIDA da empresa a praticamente dobrar seu valor em relação a 2018.

Por todos os argumentos acima ficam as perguntas: A quem, de fato, interessa a privatização da CEB? Por que esconder da população do DF os reais motivos desta malfadada proposta? Por que omitir os riscos da repetição aqui do desastre ocorrido em Goiás após a venda da CELG para a empresa italiana Enel?

Os fatos mostram que não há justificativas reais para privatizar a CEB. Só falsos pretextos e desculpas.

É por isso que a categoria urbanitária continuará firme e mobilizada na luta contra esse despropósito. Sempre em defesa da CEB Pública, em defesa de Brasília e em defesa da verdade!