Por Ailton Andrade*

Se você não tem mais de 100 anos, não passou por uma situação de pandemia com efeito de matar milhares de pessoas, digo isso porque, a última pandemia, que ocorreu entre 1918 e 1920 — a Gripe Espanhola —, dizimou milhões de pessoas em todos os continentes.

Há grande imprecisão quanto ao número de mortes causadas pela Gripe Espanhola, como também haverá em relação à pandemia da COVID-19. Em uma pesquisa rápida pela internet, vemos uma variabilidade quanto aos óbitos da pandemia anterior, que apontam de 20 a 100 milhões de pessoas mortas entre 1918 e 1920.

Segundo o artigo publicado no site da FIOCRUZ foram entre 20 e 40 milhões de mortos. Cabe ressaltar que a população da Terra, em 1920, era de aproximadamente 1,86 bilhões, o que leva a uma proporção de mortes entre 1% e 5,3% da população mundial.

Caso traçássemos um paralelo, considerando a estimativa da população atual de 7.7 bilhões de pessoas, em um exercício de comparação apenas pelo aspecto numérico de mortes pela Gripe Espanhola em relação a população à época, a COVID-19 teria potencial de levar à morte entre 82 milhões a 408 milhões de pessoas em dois anos.

É evidente que há inúmeras diferenças tecnológicas e de saúde pública, se compararmos os anos de 1918-1920 com a atualidade e, portanto, um exercício meramente numérico não é apropriado.

Mas há exemplos históricos que podem nos dar a dimensão do que ações irresponsáveis ou impensadas podem causar.

Em 1918, contrariando recomendações de especialistas de saúde, cerca de 200 mil pessoas participaram de um desfile na cidade da Filadélfia, no estado norte americano da Pensilvânia. Segundo o Philadelfia Inquirer, após o desfile, a Gripe Espanhola vitimou 12.500 moradores da cidade.

O que a história tem a nos ensinar? O que o exemplo da Filadélfia, de 1918, pode nos alertar? E os casos recentes da COVID-19 na Itália, quando após um afrouxamento das medidas de isolamento e quarentena fizeram com que se observasse uma evolução estratosférica no número de infectados e mortos?

É evidente que os exemplos do século passado, mas também os de apenas alguns dias atrás, devem servir para que tomemos decisões responsáveis e que busquemos minimizar o impacto de uma pandemia.

Infelizmente, temos em nosso país um presidente que vira as costas para fatos históricos, recomendações de especialistas e mesmo das ações adotadas pelos principais governantes em todo o mundo. Contrariando todo o senso de responsabilidade, busca incitar a população a contrair a COVID-19, ignorando ações que a grande maioria dos governantes sensatos e da comunidade científica, representada na figura da OMS – Organização Mundial de Saúde, preconizam.

Qual é o real agente motivador de um presidente desconectado da realidade? A pretensa preocupação com a economia e o mote para fomentar um verdadeiro motim, contra os interesses da saúde e da vida de pessoas?

Ocorre que o Presidente do Brasil, apoiado por alguns empresários do país, não age com cegueira, mas sim com um interesse deliberado e não declarado. A COVID-19 poderia ser usada como uma arma biológica?

Ao minimizar o impacto do número de mortes, e de pessoas a serem contagiadas, é possível imaginar que membros no governo federal e também de alguns empresários brasileiros contabilizem “ganhos” em uma conta perversa; que as mortes de idosos, moradores de rua, presidiários, moradores de comunidades carentes, doentes crônicos ou mesmo pessoas que demandam atendimentos frequentes no SUS (grupo de risco da COVID-19: diabéticos, asmáticos, cardíacos, etc.,), irão proporcionar um efeito “positivo” nas contas do Estado, seriam mortes que diminuíram a pressão do sistema da previdência social, eliminariam criminosos presos, reduziriam o números de ações sociais voltadas aos moradores de comunidades carentes e também iria levar a uma redução na busca de atendimento no SUS.

Temos que alertar a todas as pessoas de nosso país, o possível desejo sórdido por trás de uma ação deliberada de não respeitar as recomendações dos especialistas da saúde, de não enxergar o que os dados históricos nos mostram, e repudiar o ato inconsequente do Presidente do Brasil, que, por trás de um discurso de preocupação com a economia, poderá levar milhares de cidadãos brasileiros à morte.

Por isso necessitamos falar a plenos pulmões, fiquem em casa, respeitem o isolamento e a quarentena, sejam solidários com quem, por conta do desemprego, do subemprego ou da informalidade estão sentido realmente as dificuldades econômicas, as quais o governo precisa auxiliar, tal qual faz em momentos de crise no mercado ou no sistema bancário, como já vimos no passado recente do país, vide os pacotes PROER (1995), políticas dos bancos públicos em apoio à produção (2008) e agora com o anúncio de R$ 1,2 trilhão para os bancos.

A classe trabalhadora do Brasil não pode se calar neste momento, precisamos olhar pelos nossos concidadãos necessitados e impedir que um presidente despreparado e com intenções duvidosas, apoiado por empresários egoístas, leve milhares de brasileiros à morte.

*Ailton Andrade é dirigente sindical no Sindicato dos Urbanitários do DF

Publicado originalmente no site da CUT Brasília.