Comentários sobre os principais trechos da entrevista, concedida pelo Sr. Wilson Pinto Junior (3g) à jornalista Sonia Racy no programa Show Business, na BAND, veiculado em 09/12/2017, incluindo as informações omitidas pelo presidente da Eletrobras.

DECLAROU – que há 15 meses pegou uma empresa muito endividada e com níveis de eficiência muito baixo, com problemas de governança e de compliance bastantes acentuados!

OMITIU – a memória de cálculo que ele utilizou para calcular o nível de endividamento da Eletrobras, sem dizer que os números bons foram colocados debaixo do tapete!

RESSALTOU – que contratou a ex-STF Ellen Graice Northfleet para liderar uma investigação independente para apurar desvio e malfeitos ocorridos na Empresa.

ESCONDEU – que a referida investigação independente conduzida por Graice, a Americana Hogan Lovells e outros custou mais de R$ 300 milhões, bem superiores aos valores dos eventuais achados e malfeitos ocorridos na Eletrobras! Uma aberração sem tamanho.

ENALTECEU – a atual política de consequência implantada na Eletrobras; citou a criação de uma Diretoria de Conformidades subordinada diretamente a ELE; a contratação de um canal de denúncias externo e privado, que segundo ele vem sendo chamado internamente como C.S.I; disse que o sistema de integridade implantado busca a “criticidade” da denúncia e as sanções disciplinares a serem aplicadas, vendendo que tal sistema tem como foco a transparência da Empresa.

JOGOU PARA DEBAIXO DO TAPETE – que as denúncias de malfeitos que vem ocorrendo em sua gestão estão fora do alcance do chamado C.S.I; que as contratações sem licitação de empresas e consultorias amigas, como Roland Berger, Kienbaum e da empresa de comunicação ligada ao seu amigo nomeado para a Memória da Eletricidade não vem ao caso. Para ele, malfeitos, coisas erradas e sem explicação, ocorreram antes da sua brilhante gestão; Que o Código de Ética e de Conduta vale apenas para empregados.

ENSINOU – que “empresas são pessoas tomando conta”, citando inclusive a Lei 13.303, de 30 de junho de 2016, que segundo ele, estabelece um conjunto de critérios para admitir gestores das empresas, inclusive vedações para políticos, parentes de políticos, sindicalistas, dizendo que trocou 70% dos administradores do grupo Eletrobras.

ESQUECEU – de citar as práticas heterodoxas que vem adotando dentro da Eletrobras, como a manutenção de estranhos lidando com informações sigilosas da empresa, inclusive representando-a em reuniões do BNDES; indicações duvidosas para a Eletropar; investidas sorrateiras e desleais para desalojar/demitir pares de diretoria colegiada; contratação de amigo para presidir a Memória da Eletricidade – amigo de político não pode, mas amigo de Wilson Pinto Junior (3G) pode!

VENEROU – o atual presidente do Conselho de Administração da Eletrobras (CAE), José Guimarães Monforte, dizendo que era oriundo do mercado financeiro internacional.

PASSOU AO LARGO – de como José Guimarães Monforte foi alçado ao cargo de Presidente do CAE, que como todos sabem, o mesmo foi indicado por acionistas minoritários interessados na privatização da Eletrobras, com destaque para o Grupo 3G do megaempresário Jorge Paulo Lemann e para o dono do Banco Clássico, Juca Abdalla.

ENCHEU A BOLA – do seu parceiro no projeto de captura e privatização da Eletrobras, o atual secretário e ministro de fato, Paulo Pedrosa, aquele citado no caso das benesses concedidas à SHELL denunciado pelo Jornal The Guardian.

DEIXOU DE DIZER – que é dele e de Paulo Pedrosa a ideia de “Descotização” das Usinas e Privatização da Eletrobras, e que essa última foi arquitetada nos porões da Eletrobras e do MME, cujo maior objetivo é beneficiar os acionistas minoritários da Eletrobras, em detrimento aos interesses da nação e das demais partes interessadas. Deixou também de falar, que todos os estudos e análises foram feitos por uma empresa da consultoria do Grupo 3G, a 3G Radar – o que representa uma vergonha para a área técnica do MME e para a Eletrobras, que submetem os interesses públicos ao interesse privado

TITUBEOU – ao responder à pergunta da jornalista, sobre o porquê privatizar a Eletrobras se as coisas estão indo bem?

TERGIVERSOU – e não respondeu à pergunta, falou sobre dívida, venda de SPE´s e o diabo; falou sobre a repentina diminuição da dívida de 9 vezes para 4,1 vezes o EBITDA, sem, entretanto, detalhar as fórmulas contábeis e alquímicas que utilizou para o feito.

ANIMOU – ao comentar que o projeto de lei de privatização da Eletrobras será enviado para o congresso na semana que vem e que os debates e aprovação da matéria ocorrerão no primeiro semestre de 2018.

MENOSPREZOU – a inteligência do povo e de seus representantes no Congresso, tentando vender que a única solução da Eletrobras seja a da sua privatização, esquecendo que as pessoas sabem fazer análises, sabem fazer contas e compreender os interesses privados que estão por trás deste nefasto processo. Construir uma empresa como a Eletrobras é difícil, mas destruí-la é muito fácil, se não houver responsabilidade e cuidado com a coisa pública.

DISCORREU – sobre os efeitos da MP-579/2012, sobre os preços das tarifas, riscos hidrólogicos, deixando entender que o maior problema do setor hoje é o risco hidrológico – que é caro, quem paga e consumidor e que os gestores privados têm melhores condições para administrá-los. Com o ar de quem descobriu a pólvora, o Sr. Wilson Pinto Junior (3G), abriu a boca e disse: com a privatização da Eletrobras as tarifas vão abaixar, as empresas pagarão mais impostos e o governo receberá mais dividendos – vaticinou!

SUBESTIMOU – a inteligência das pessoas! Sua fala denota certo desprezo com a massa cinzenta das pessoas. Menos, Wilson Pinto Junior (3G), menos! Todos sabem que mais impostos, mais lucros, mais dividendos, serão pagos por alguém, isso não cai do céu, isso é matemática e economia – “não existe almoço grátis”. Quem pagará por isso tudo é o consumidor, seja ele residencial, comercial ou industrial. E quem ganhará são os especuladores e espertalhões de plantão!

ABAIXOU A CABEÇA – para responder sobre como convencer o eleitor e a população brasileira de que ter uma empresa privada significará ter uma melhora na gestão.

PIGARREOU – e apontando para o celular da entrevistadora, citou a privatização das Teles como um bom exemplo, dizendo que sem ela, não haveria a quantidade de celulares que existem hoje. Para ele foi uma maravilha!

ENVERGONHOU – com esse exemplo das Teles, todos seus subordinados na Eletrobras, pois se trata do pior exemplo a ser citado. Hoje temos um setor de telecomunicações dominado por empresas privadas, muitas delas passando por dificuldades, com rombos gigantescos e problemas sérios de governança, haja vista a situação da OI e de outras. As tarifas são altíssimas e dentre as maiores do mundo, e a expansão e disponibilização de celulares, como dito por ele, decorre do salto tecnológico ocorrido no setor. Não sabemos se ele sabe, pode ser que sim, pode ser que não, mas a Eletrobras, como estatal, não deixa a desejar em nada com relação ao uso de tecnologias de ponta – está em pé de igualdade com todas as gigantes no setor mundial de energia elétrica. A Eletrobras possui um Centro de Pesquisas (o CEPEL), que ele quer destruir em curto prazo!

DEBITOU – aos trabalhadores e trabalhadoras todos os problemas da Eletrobras. Disse que é muito difícil mandar empregados embora numa empresa estatal; que o regime que se tem hoje é de privilégios, onde as pessoas não possuem emprego e que na Eletrobras há empregos com salários excelentes, com planos de previdência privada, aumentos acima da inflação, com anuênios, com mérito e que a situação é insustentável.

ACOVARDOU – ao focar apenas no item pessoal, cujas vantagens e direitos decorrem de negociações e acordos coletivos de trabalho. Se, por ventura, existem desvios, pontos fora da curva ou qualquer coisa que represente gastos maiores do previsto, isso é problema da gestão e as correções devem ser feitas. É covardia jogar nas costas dos colaboradores a responsabilidade sobre a situação econômico-financeira da empresa. A maior responsabilidade é dos gestores. Não somos contrários a nenhuma medida que vise à melhoria da gestão, dos números e resultados da Eletrobras. Somos contrários a medidas irresponsáveis, feitas sem critérios e apenas para justificar projetos, desejos e interesses escusos. Será que a covardia, que lhe é comum, o deixou mudo quanto aos problemas relacionados a Empréstimo Compulsório, dívida da Eletropaulo, onerações relativas aos serviços de distribuição que são de responsabilidade da União e foram jogadas nas costas da Eletrobras?

BRILHOU OS OLHOS – ao falar das mudanças nos Sistemas de TI e na implantação do Centro de Serviços Compartilhados (CSC); disse que com tais medidas haverá a redução de cerca de 5 mil pessoas, com um aumento de 100% de produtividade na área administrativa: com 1 (uma) pessoa, fará aquilo que era feito por 2 (duas) pessoas. Ressaltando que o ganho será magnífico.

CLARIFICOU – quais são os seus reais objetivos com relação às mudanças nos Sistemas de TI e com a implantação do Centro de Serviços Compartilhados (CSC) – DEMITIR TRABALHADOR(A)! Agora, quem tinha qualquer dúvida, ou acreditava que as intenções eram nobres e alvissareiras, não tem mais, pois a mascara caiu: ELE QUER DEMITIR 5.000 EMPREGADOS, SENDO A MAIORIA DO RIO DE JANEIRO.

FINALIZOU – citando o famoso termo “TOO BIG TO FAIL” (grande demais para quebrar), dizendo que a Eletrobras não quebrou por conta da compreensão e bondade do sistema financeiro com sua situação, que tem uma dívida considerável de cerca de R$ 45 bilhões. Disse que se não fosse isso a Empresa já teria quebrado!

ILUDIU-SE – tentando enganar e deixando de dizer que os agentes do sistema financeiro não são tolos e nem desinformados e sabem que a dívida da Eletrobras sempre foi inferior à alardeada por ele; sabem que só de indenização a Eletrobras tem a receber da União mais de R$ 40 bilhões; sabem o peso das distribuidoras e responsabilidade da União; que a Aneel vem perseguindo a Eletrobras, dentro do script do quanto pior melhor e conhece as potencialidades da Empresa.

Não há ninguém bonzinho ou tolinho nessa história. Todo o conteúdo da entrevista concedida pelo Sr. Wilson Pinto Junior (3G) reforça que sua falta de compromisso com as partes interessadas da Eletrobras, à exceção de alguns dos acionistas minoritários (seus reais chefes), que possuem interesses na privatização da Empresa. Esse pequeno grupo especulador é que mais ganhará com o processo e mandará de fato na “Corporação”.

Eles já estão estabelecidos dentro da Eletrobras e darão as cartas no processo de privatização, uma significativa vantagem competitiva em relação aos demais interessados. Como demonstrado pelo preposto dos privados (Wilson Pinto Junior), a União, os consumidores e os trabalhadores são meros coadjuvantes e sofrerão com a finalização da tramóia, perdendo o controle da Eletrobras, pagando mais impostos e tarifas mais altas, além de demissões e precarização dos empregos e postos de trabalho.

BOLETIM CNE 11 12 2017