“Daqui a cinco anos a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) irá discutir as consequências do racionamento e explosão dos preços de energia no Brasil”, disse o conselheiro de administração da Cemig, Nelson Hubner, durante audiência pública que debateu o impacto das privatizações para as políticas de desenvolvimento nacional, soberania e segurança energética, realizado nesta segunda-feira, 6, no Senado Federal.

Hubner destacou que o resultado é “consequência natural, dado o que já aconteceu no Brasil e em outros países. “Esse modelo que querem implantar no Brasil atrelado a um processo de vendas dos nossos ativos vai nos levar ao caminho da perda de soberania nacional”, afirmou.

Para ele, a regulação do setor elétrico tem que ser adequada à realidade de desenvolvimento do país, levando em consideração a matriz energética, a interconexão e a maturidade do mercado. “A sociedade brasileira está pagando duas vezes mais caro por usinas amortizadas do que se construíssemos uma nova para receber uma energia que já foi paga pela sociedade”, ressaltou.

Contrariando os argumentos do governo sobre a ineficiência das estatais, o conselheiro enfatizou que “78% das usinas hídricas nos Estados Unidos são controladas e operadas pelo país. Na Noruega, mais de 90% da capacidade instalada de produção de energia elétrica está na mão do Estado”, explicou Hubner.

De acordo com o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) o setor elétrico é altamente lucrativo. “Quando se faz leilão aparecem interessados do mundo todo”. Ele destacou que “abrir mão das estatais é abrir mão de fazer uma política em favor do desenvolvimento do país. Não temos governo, temos negociantes à custa do país”, disse.

Chinaglia destacou que para barrar os retrocessos contra o patrimônio brasileiro é precisar reagir.  “No momento em que os trabalhadores entram em cena muda a qualidade de disputa no Brasil. Nós temos um trabalho de resistência que já começou, agora temos que intensificar”.

Retrocesso histórico

Para o diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE, Clemente Ganz Lúcio, não há uma única “experiência histórica na qual um país com a dimensão do Brasil, entre uma das maiores economias do planeta, que faça em tempo recorde uma transferência de ativos, na quantidade de volumes e na importância que estamos fazendo que não tenha sido feito depois da derrota numa guerra”.

Segundo Ganz Lúcio, todo esse processo, para além da perda da soberania, da capacidade de estruturação e estratégia de desenvolvimento, trará um impacto extremamente severo sobre os empregos, a massa salarial, e sobre a capacidade desses ativos gerarem ganhos locais.

“Os que estão por trás dos interesses econômicos vinculados a essas transferências não estão brincando. Não brincam aqui e não brincam no mundo, e não é por outro motivo que se mata, guerreia e elimina nações. Portanto, estamos numa frente pesada para qual nossa unidade é essencial para darmos os próximos passos e, assim, preservarmos a nossa capacidade soberana de conduzir uma estratégia de desenvolvimento nacional”, disse o diretor.

De acordo com o Senador Roberto Requião (PMDB-PR), todo esse retrocesso se dá pela precarização do executivo, do parlamento, a partir do financiamento privado de campanha, que passa a responder, cegamente, aos interesses dos seus financiadores, bem como, pela precarização absoluta do trabalho.

Casa da Moeda

Na mira da privatização, a Casa da Moeda, atualmente possui 2.700 trabalhadores que garantem a circulação monetária no país.  De acordo com o Presidente do Sindicato Nacional dos Moedeiros, Aluízio Júnior, a estatal ao longo dos anos vem sofrendo uma série de ataques com o objetivo de desmonte da Casa para justificar a privatização.

Para Aluízio Júnior, privatizar a estatal é apenas o começo de um ataque maior que visa subordinar a nossa economia e soberania aos interesses de outras potências. “Defender a soberania do nosso país é um dever de todos”, disse. Ele reforçou a urgência da unidade de todas as categorias para lutarem juntas contra as privatizações e desmonte do Estado.

Bancos públicos

Para Jair Pedro Ferreira, Diretor da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal – FENAE, os bancos públicos são importantes indutores do desenvolvimento econômico nacional, estadual e municipal, possuem papel anti-cíclico em períodos de crise econômica. Além de gerar empregos diretos e indiretos e operar políticas públicas de forma mais eficiente e barata.

Ele destacou que em 2016, 51% dos financiamentos com mais de cinco anos foram feitos pelo BNDES, 22%3 pelo BB e 12,7 pela Caixa. “Aproximadamente 82% de todo o crédito para o saneamento básico e infra-estrutura no Brasil é ofertado pelos Bancos Públicos. Cerca de 70% de todo o crédito imobiliário do Brasil é ofertado pela Caixa”, disse Ferreira.

De acordo Ferreira, o programa Minha Casa Minha Vida contemplou mais de dois milhões de pessoas, com investimento superior aos R$ 295 bilhões. “É o maior programa de financiamento habitacional já realizado na história do Brasil, portanto, uma das maiores políticas públicas de distribuição de riqueza familiar”.

Segundo o diretor, a entrega dos bancos públicos à iniciativa privada será responsável pelo aumento do empobrecimento e da desigualdade social e econômica do país. “Não podemos permitir que isso aconteça”, finalizou.