Se em cinco anos o Distrito Federal não trabalhar para aumentar a capacidade de produção de água e diminuir o consumo, as ameaças de desabastecimento são reais para os quase 2,5 milhões de habitantes da região. Impedir a escassez é o desafio da gestão de Célio Biavati, novo presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), que terá um orçamento anual de R$ 950 milhões para custeio da rede e R$ 700 milhões — entre receita externa e recursos próprios — para investimentos. Atualmente, segundo a empresa, o sistema local tem capacidade de produção de 8,5 m3 por segundo e recebe a demanda média de 7,5 m3 por segundo. Ou seja, o consumo abocanha 88% da produção. “Estamos em um ponto em que é necessária a instalação de novos sistemas, que estão em fase de contratação e finalização de projeto”, diz Biavati. Hoje, 62% da água do DF vêm do Rio do Descoberto.

O arquiteto e urbanista formado pela Universidade de Brasília (UnB) refere-se aos sistemas que serão implantados no Lago Paranoá, na Sub-bacia do Bananal e em Corumbá IV, este construído em parceria com a Saneago, empresa de saneamento de Goiás. Anunciado em 2009, o projeto de explorar o Lago Paranoá terá recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal e custará R$ 350 milhões, segundo estima Biavati. Apesar de apresentar vantagens, como a qualidade da água e a localização, a iniciativa deve passar por audiência pública neste semestre para que os órgãos de proteção a bacias hidrográficas e a sociedade civil se manifestem. Ainda assim, o presidente da companhia considera o assunto “pacificado”. “Será uma batalha muito grande, mas, do ponto de vista da proteção do lago e das suas margens, o assunto está pacificado, inclusive com licenças concedidas pela Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Inclusive, já estamos na fase de captação de recursos”, afirma. A previsão é que o sistema esteja pronto até 2015 e atinja a produção de 3,8 m3 por segundo até 2025.

A adaptação da Barragem de Corumbá IV para o abastecimento de água está orçada em R$ 290 milhões, valor que será repartido entre DF e Goiás. A perspectiva é que a unidade contribua com um volume de 2,8 m3 (2.800 mil litros) por segundo. A unidade do Bananal, localizada na região do Lago Norte, tem capacidade menor — de 700 litros de água por segundo — e é avaliada por Biavati como uma ferramenta para “folgar um pouco a medida entre oferta e procura”. Confira a seguir outros pontos destacados pelo presidente da Caesb em entrevista exclusiva ao Correio.

Imposto
“Precisamos desonerar o setor de saneamento. Hoje, a maior despesa que as empresas de saneamento têm são os impostos. A Caesb paga por mês R$ 5 milhões só de imposto. É o mesmo que gastamos com energia elétrica para manter os nossos motores e parques industriais funcionando. Já há um movimento neste sentido por parte das empresas de saneamento no Brasil. Inclusive a presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Dilma Pena, no discurso de posse, enfatizou a necessidade da desoneração. A Caesb vai se dedicar, como todas as outras empresas, a essa questão, que será discutida em âmbito federal. Queremos destinar parte desses impostos ao investimento.”

Tarifas
É o órgão regulador que determina o valor da tarifa que será praticada no ano seguinte. Hoje, começamos a discutir com a Adasa esse percentual. A tarifa tem que ser justa para que a empresa continue prestando os seus serviços. Ao mesmo tempo, tem que ser justa para não onerar demasiadamente o consumidor.”

Redução de custos
“Enquanto a gente não consegue conquistas externas, temos que reduzir aqui. Nós já começamos a fazer isso. Existia uma subsidiária da Caesb chamada Caesbpar, que durante os seus quatro, cinco anos, não mostrou a rentabilidade a que se propunha. Nosso primeiro ato foi dissuadi-la. Ela tinha a pretensão inicial de prestar serviços fora do DF. Mas, no momento em que se deslocou para Goiás, por exemplo, encontrou dificuldades em se firmar no Entorno e isso desarmou a força inicial da Caespbar.”

Falta de água
“O Banco Interamericano de Desenvolvimento financiou, em 2003, a substituição das redes. Nos idos de 1950, as tubulações ainda eram feitas com cimento amianto e o pH da água fez com que esse material se dissolvesse, prejudicando o abastecimento. O processo de substituição de rede vem sendo progressivamente instalado e, com isso, diminuímos as perdas de água no sistema, que hoje estão por volta de 25%, quando o limite recomendável é de 24%. Por vezes, a falta de água também pode ter origem na falta de energia para bombeamento. O processo de substituição de rede é contínuo, diário.”

Plano Diretor
“Precisamos fazer um Plano Diretor de Águas que contemple uma programação de manutenção e previsões da rede para os próximos 50 anos. Só com esse documento pronto é que podemos ir a campo e captar recursos, apresentar um projeto aos investidores. É uma contribuição que essa diretoria tem que deixar para a companhia: um documento de programação para o setor no futuro. Existe a necessidade de se fazer um plano diretor de manutenção dos equipamentos. Como o foco sempre foi a expansão, os órgãos financiadores nunca tiveram muito atentos para a necessidade de manutenção. Nós já temos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para manutenção, mas quero tornar isso sistemático para os próximos 50 anos. E isso não só para as instalações mais antigas. Quero automatizar cada vez mais.”

Desconto
“A lei que premia os usuários que reduzirem o consumo tem um cunho educativo. Ela tem uma vida limitada porque as pessoas vão economizar cada vez mais e receber cada vez menos, até o ponto que isso zere. A estimativa é que a Caesb devolva aos consumidores algo em torno de R$ 8,3 milhões de várias maneiras no período de um ano. Quem consome muito é que vai ter uma devolução maior.”

Sustentabilidade
“A economia é vital. Nossa situação geográfica é frágil e nossa reserva hídrica, limitada. Somente produzimos a água para o consumo. Devemos nos preocupar porque essa matéria-prima deve ser mais bem aproveitada. A eficiência energética da companhia é o grande alvo a ser alcançado. Na medida em que os nossos equipamentos têm eficiência maior, nosso consumo de energia é menor. Por isso, vamos investir na automatização.”

(Ariadne Sakkis, Correio Braziliense)