Segundo ela, o aspecto social não fica no mesmo nível das questões econômicas. “O capital oprime o trabalho e o Brasil tem despontado economizando na força de trabalho”, afirmou ao comentar o relatório sobre trabalho escravo no Brasil, apresentado hoje (14) no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU), em Genebra (Suíça).
De acordo com o relatório da ONU, as principais vítimas da exploração de trabalho escravo no Brasil são homens jovens e adultos, com 15 anos ou mais, que trabalham para a agroindústria e a pecuária, na zona rural (Norte, Nordeste e Centro-Oeste), e para a indústria de confecção, na área urbana (São Paulo).
Para Débora Tito, “no entorno dos avanços econômicos forma-se uma grande dívida social” e “os governos só ligam para o social quando estoura um grande problema”.
A procuradora chama a atenção para a gravidade da situação dos trabalhadores explorados em situação análoga à escravidão. “Não estamos falando de uma situação corriqueira de um trabalhador que não recebeu a hora extra. Mas de quem está trabalhando e não tem água para beber ou dorme ao relento”, assinalou.
Na opinião de Leonardo Sakamoto, representante da sociedade civil na Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) ligada à Secretaria de Direitos Humanos, “o avanço [da economia] não pode excluir os direitos humanos”.
Na avaliação de Sakamoto, o desrespeito aos direitos humanos pode repercutir negativamente na aceitação do produto brasileiro no mercado externo. “A qualidade do produto inclui a forma como foi feito”, apontou ao dizer que o mercado “está mais exigente”.
Ele rememora que a exportação de algodão brasileiro, por exemplo, foi beneficiada quando grandes mercados recusaram o produto de países onde havia exploração de mão de obra escrava (na Ásia). “O Brasil tem que estar preparado”, afirmou ao ponderar que se o país fizer o combate ao trabalho escravo poderá cobrar o mesmo de outros concorrentes.
(Fonte: Gilberto Costa, Agência Brasil)