O que era pra ter sido uma audiência pública para formalizar nesta quarta-feira (3) a privatização da Celg, empresa de distribuição de energia de Goiás, na verdade foi uma audiência privada. Menos de cem pessoas, muitas delas assessores do governo do estado, participaram da reunião. Enquanto isso, cerca de 2 mil trabalhadores e trabalhadoras do setor elétrico de vários estados do País, juntamente com os movimentos sociais MAB e MST foram barrados na entrada e tiveram que protestar do lado de fora da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Goiás (ACISG).

As arbitrariedades foram tão escandalosas que a polícia de Choque do governador Marconi Perillo (PSDB) era quem fazia a seleção daqueles que iriam entrar ou não na sede da ACISG para participar da audiência. Os policiais, que dormiram na sede da entidade privada, quiseram intimidar o movimento, ameaçando guinchar o carro de som das entidades. Como não havia motivos para isso, multaram o veículo. Até a imprensa sindical foi impedida de participar da audiência, enquanto os jornalistas de empresas privadas tinham livre acesso.

“Isso que está acontecendo aqui é uma vergonha”, reagiu o presidente da Federação Interestadual do Centro-Norte (Furcen) e diretor do STIU-DF, Cleiton Moreira.

De acordo com o advogado, consultor de entidades sindicais e diretor da Associação Latino-Americana dos Advogados Laboralistas, Maximiliano Garcez, que conseguiu participar da audiência, várias medidas judiciais estão sendo tomadas. Segundo ele, os senadores Roberto Requião (PMDB-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e o dirigente sindical do STIUEG, Eliomar Palhares, ingressaram com ação popular para suspender a venda da Celg. Além disso, o ministério público federal e estadual também foram acionados. “Não posso dar detalhes dessas ações por uma questão de estratégia”, disse.

Outra questão lesiva apontada por Garcez é que, em via de regra, como já ocorreu em outros processos de privatização, os trabalhadores têm direito a comprar até 10% das ações da empresa. No entanto, no caso da Celg, foi destinado apenas 1% à classe trabalhadora. “Isso sem justificativa nenhuma, como prevê a legislação”, denuncia.

Na segunda-feira passada, as centrais sindicais CUT, CTB, Conlutas, CNU, FNU, Furcen, Fisenge, Intersindical e FNE disseram aos secretários executivos da Casa Civil e da Secretaria de Governo da Presidência da República que se a audiência pública não fosse suspensa iriam romper com o governo federal, que é o acionista majoritário, com 51% das ações da empresa, e os outros 49% pertencem ao governo de Goiás.

“Não foi para vender empresas públicas que a classe trabalhadora reelegeu o governo Dilma. Isso é inaceitável. Foi-nos prometido que nenhuma empresa pública seria privatizada e por isso apoiamos essa proposta. Agora estamos vivenciando esse absurdo. Essa postura esquizofrênica é lamentável. Diante disso não nos resta outra alternativa senão o rompimento com esse governo”, defendem.