Os músicos levaram a bolada para subir ao palco uma única vez. Segundo produtores consultados pelo Correio, alguns tiveram sobrepreço de 30%

Se a audiência da Virada Cultural fosse proporcional ao custo do evento realizado no último fim de semana, os shows teriam sido um sucesso. Mas a relação se confirmou ao contrário. O governo autorizou despesa no valor de R$ 3 milhões para financiar as apresentações que tiveram público irrisório. Segundo estimativa da Polícia Militar, apenas 29,3 mil pessoas prestigiaram a programação entre sexta-feira e domingo. Um dos motivos para o baixo quorum foi a demora da Secretaria de Cultura em divulgar o evento, o que ocorreu apenas na véspera das performances.

Dados do Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo) obtidos pelo Correio revelam que, dos R$ 3 milhões destinados à Virada Cultural, R$ 1.821.000 já foi empenhado pelo governo. A nota de empenho funciona como um compromisso de pagamento. Desse montante, R$ 1,6 milhão foi liberado em um só dia, a última sexta-feira, quando os primeiros shows foram realizados. Como o público do evento não chegou a 30 mil pessoas, significa dizer que, mesmo se o GDF não pagar tudo o que aprovou no orçamento, já terá gasto R$ 62,1 por expectador.

Boa parte do dinheiro carimbado pelo Executivo destina-se a pagar o cachê dos artistas contratados. A apresentação única da cantora Alcione no Guará, por exemplo, custou R$ 190 mil. A banda de forró Falamansa levou R$ 188 mil para dois shows e o cantor baiano Alexandre Peixe, R$ 100 mil para uma aparição. Latino não agradou a plateia, tomou uma garrafada minutos após iniciar sua apresentação (leia matéria ao lado). Mas foi recompensado com cachê de R$ 90 mil. Todos esses pagamentos foram considerados “altos” por produtores culturais familiarizados com os valores cobrados pelos músicos. Segundo profissionais da cena cultural, a comparação dos cachês pagos na primeira edição do evento de Brasília com a programação que já virou tradição em São Paulo demonstra que houve sobrepreço na capital federal. Um dos produtores chegou a estimar que, em alguns casos, o acréscimo foi de 30% em relação aos cachês usualmente contratados.

O pagamento dos principais cachês foi intermediado por duas produtoras da Bahia: A Barão Produções Musicais e Artísticas Ltda. e a G.B. Sampaio. Em 22 de junho deste ano, o governo submeteu à Câmara Legislativa o Projeto de Lei nº 1.595, pedindo suplemento orçamentário de R$ 14,9 milhões. Desse valor, R$ 3 milhões se destinaram à Secretaria de Cultura para financiar a Virada Cultural. A programação oficial do evento, no entanto, só foi divulgada no fim da tarde da última quinta-feira.

Outras polêmicas
O orçamento da Virada não é o primeiro a causar polêmica na promoção de eventos oficiais. Os valores pagos para a realização do carnaval deste ano, R$ 4,5 milhões estão sob análise do Ministério Público. A festa dos 50 anos de Brasília também jogou holofotes na política de contratação oficial de artistas. A previsão de patrocínio de R$ 800 mil para o cantor e compositor Edu Casanova foi considerado um escândalo à época. A parceria acabou desfeita. A Secretaria de Cultura afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que os valores pagos são praticados no mercado, o que teria sido apurado por meio de comprovação de cachês recebidos pelos artistas anteriormente. Sobre o curto prazo de divulgação dos shows, a secretaria informou que a programação só foi apresentada à imprensa após a contratação dos artistas.

(Fonte: Lílian Tahan, Correio Braziliense)