ELN

É impressionante a rapidez com que a diretoria da Eletronorte toma certas decisões que só servem para derrubar ainda mais seu clima organizacional, enquanto ou-tras questões mais urgentes são ignoradas ou, pior, são aceitas como naturais ou imutáveis e ficam indefinida-mente aguardando solução. A última e iluminada decisão da diretoria – restringir o acesso às dependências da empresa entre 8h e 18h – revela seu tom burocrático e visão ana-crônica da realidade.
Para evitar tal erro, o STIU-DF ingressou uma ação caute-lar na Justiça do Trabalho (ação n.º 681/2012, na 6.ª Vara do Trabalho), no dia 20 de abril, com pedido de liminar para que a Eletronorte manti-vesse o livre acesso dos tra-balhadores e das trabalhado-ras às dependências da em-presa. A liminar foi indeferida pelo fato de o juiz não entender que havia risco na demora da ação cautelar, que continua questionando a medi-da da empresa.
É claro que não somos contrários aos equipamentos cada vez mais modernos e precisos de registro e segu-rança do acesso ao local de trabalho, muito menos contrá-rios à lei que garante os direitos do registro de ponto no momento real em que se entra e sai da empresa. Tam-pouco somos condescenden-tes com casos de abuso que eventualmente ocorram.
Sabemos que as catracas a serem instaladas em breve, com registro automático de ponto, acessadas com a digitação da matrícula e leitura da impressão digital, serão muito úteis. O anacronismo da diretoria reside na tentativa de confinar os trabalhadores e as trabalhadoras dentro de um horário limitado, com o intuito de eliminar qualquer possibili-dade de horas excedentes de trabalho, na ilusão de garantir maior eficiência. Ora, se a empresa se propõe a ser mo-derna e eficiente, deve evoluir para uma modalidade comple-tamente inversa: a modalidade de gestão por processos.
Este é justamente o mo-mento de quebrar o paradigma da gestão por horas de servi-ço. Os gestores se esquecem de que a grande maioria dos trabalhadores e trabalhadoras da Eletronorte não medem esforços para garantir a quali-dade de seu trabalho, muitas vezes deixando de almoçar ou voltar para casa na hora do jantar. Por que, agora, querer nivelar a todos em uma forma de trabalhar que, já está provado, só gera insatisfação, cerceia a criatividade e reduz a produtividade? Com tal me-dida, a Eletronorte está andan-do na contramão dos tempos.
A diretoria acabará transfor-mando seu corpo gerencial em meros controladores de ponto, e administradores de exce-ções e mais conflitos, ao invés de coordenarem processos dos quais devem ser parte integrante, acompanhando a fundo do que estão tratando. Da forma como a diretoria trata a gestão da empresa, isso se tornará muito difícil.
Dentro dessa nova visão de empresa, agora que a tecnolo-gia garante total confiabilidade no registro de entrada e saída do local de trabalho, o sistema de registro de ponto tem que mudar, sim: tem que ser totalmente livre, deixando os trabalhadores e as trabalhado-ras entrarem e saírem nos horários que, com responsabi-lidade, julgarem pertinentes.
Chega de tratamento pre-conceituoso e discriminatório, em que todos são suspeitos de quererem apenas “fazer hora” e não trabalhar.
A diretoria da empresa não perde em nada por confiar em seus trabalhadores e suas trabalhadoras. Fazendo isso, em breve verá que o clima organizacional será bem melhor – os trabalhadores e as trabalhadoras terão um desempenho e uma eficiência muito superiores, e os casos em que se detectar tendência de acúmulo de horas poderão ser tratados pontualmente, com serenidade, responsabili-dade e respeito.

 


VISUALIZAR ARQUIVO EM PDF