Para a bancária Francisca de Almeida, 48 anos, as mulheres estão pagando o preço da liberdade. “Temos uma carga dupla e não conseguimos dividi-la com os homens. E nós continuamos fazendo isso com nossos filhos, dizendo que ele não pode fazer o serviço de casa. Para haver mudança, temos de ensinar nossos filhos que não existe diferenças”, afirma.
Mesmo contra a vontade do pai, Francisca ensinou o filho a fazer serviços de casa. “Não acho justo termos a independência, sendo que nossa carga de trabalho ficou maior que a deles. Por isso, ensinei meu filho o serviço doméstico, mesmo contra a vontade dos homens da família”, comenta.
Cultura patriarcal
Mas há quem acredite que essa carga seja positiva. Segundo a diretora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea), Guacira César de Oliveira, as mulheres estão no caminho certo. “Os movimentos de antes mudaram o mundo que as mulheres vivem hoje. Somos a maioria do eleitorado e antes não tínhamos nada. Temos mais mulheres nas escolas, o que era para poucas. Temos o direito de casar, divorciar e até mesmo não casar. Apesar disso tudo, temos muito para fazer”, pontua.
A diretora do CFemea afirma que apesar do desejo de independência, as políticas públicas não se movem no mesmo sentido. “Brigamos pelo fim da violência, por trabalho igual em casa, salário igual, creches, entre outros. Já temos muitas conquistas, poderíamos ter mais. No entanto, a sociedade não se move igual, ainda tem uma cultura patriarcal”, ressalta.
Apesar de ainda haver muito o que se buscar, Guacira afirma que é melhor seguir lutando do que ser subordinada. “Hoje, uma mulher de classe alta tem mais possibilidades de garantir seus direitos do que uma doméstica. Mas ambas são mulheres modernas, querendo seus direitos. Não existe apenas uma maneira de lutar pela liberdade”, pondera.
No entanto, para a pesquisadora de gênero e mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa Aplicada da Mulher, Tânia Fontenele, tudo está como na década de 40, mas com cara de 2012. “Os movimentos feministas abriram muitas portas, mas hoje as mulheres estão sobrecarregadas. As coisas mudaram, mas o modelo vivido tem sido o mesmo. Algumas questões precisam ser aprimoradas, principalmente os aparatos públicos. Mas, apesar dos obstáculos, conquistaram seu espaço”, afirma.
(Jornal de Brasília, 8.03.12)
