“Os empresários enxergam os homens como mais produtivos porque teoricamente eles se ausentariam com menor frequência do trabalho em comparação com as mulheres. Elas têm direito à licença-maternidade, que pode chegar a seis meses, além dos cuidados com os filhos”, revela o especialista em Recursos Humanos da Upis Faculdades Integradas, José Marcelo Assunção.
Machismo
Para Bruno Goytisolo, diretor da Veli Soluções em Recursos Humanos, o preconceito de gênero contribui para a diferenciação de salários. “Muitas vezes o empresário desacredita na capacidade da mulher e aposta que o homem terá condições de desempenhar melhor determinada função. O machismo, infelizmente, ainda é uma questão cultural muito forte em nossa sociedade”, explica.
E não são só os empresários que pensam desta forma. Na opinião do garçom Jeovani Pereira, 23 anos, o salário mais alto está relacionado à capacidade que o homem tem de desempenhar funções que a mulher não daria conta. “Acho que o patrão pensa que se tiver que trocar uma lâmpada ou consertar alguma coisa, terei mais capacidade do que a minha colega”, diz.
O jovem trabalha no mesmo restaurante da garçonete Jaqueline Oliveira, 27 anos. “Ele ganha mais, mas acho que isto se deve ao longo período que já está na empresa. Faz pouco tempo que trabalho aqui”, afirma. Ela conta que no antigo emprego, uma loja de brinquedos, ganhava quase R$ 400 menos em comparação com o colega que desempenhava a mesma função. “A empresa assinou minha carteira como auxiliar de serviços gerais enquanto ele era contratado como auxiliar de almoxarifado. No final, fazíamos o mesmo serviço, mas o meu colega ganhava o maior salário”, lembra Jaqueline.
Qualificação
A secretária da Mulher no Distrito Federal, Olgamir Amancia, observa que para a mulher ganhar o mesmo salário do homem precisa se mobilizar mais. “Ou seja, ela precisa investir em capacitação, em cursos de qualificação. No mundo do trabalho, a relação machista que ocorre em determinadas relações sociais se repete”, diz.
Para a subsecretária de Qualificação da Secretaria de Trabalho do DF (Setrab), Veruska Alves, essa diferença na remuneração é inadmissível. “A Constituição prevê isonomia entre homens e mulheres, o que significa que pagar o salário de acordo com o gênero da pessoa é um crime”, observa.
Segundo Veruska, a única maneira de acabar com essa desigualdade é criar políticas públicas sociais de amparo às necessidades das mulheres. “O governo deve oferecer um suporte familiar que permita que a mulher possa investir em sua carreira profissional”, analisa. “Oferecer escolas em tempo integral onde os filhos possam permanecer por mais tempo e que a mãe tenha condições de trabalhar, além de zelar pelo cumprimento das leis que ampliam os direitos delas no mercado de trabalho”, completa a secretaria.
(Sheila Oliveira, Jornal de Brasília, 7.03.12)
