A dor crônica é tida como um dos maiores desafios na esfera que compreende o tratamento dos enfermos de câncer. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Brasil, cerca de 80% da população procuram o Sistema Único de Saúde (SUS) em razão de algum tipo de dor crônica. Ainda de acordo com dados do Inca, 40% dos brasileiros tem a dor como justificativa para faltas ao trabalho, aposentadorias e indenizações trabalhistas.
Uma pesquisa da seção “Economist Intelligence Unit” da revista inglesa “The Economist”, publicada em 2010, levantou que entre 40 países, o Brasil ocupa a 38ª posição na qualidade dos cuidados que aliviam os efeitos da dor e oferecem uma melhor qualidade de morte. O levantamento identificou ainda que o Brasil não atende de forma significativa às pessoas recém diagnosticadas com soluções paliativas que visam oferecer conforto aos doentes até a fase final.
No Distrito Federal, a Secretária de Saúde mantém o Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon). O serviço possui uma equipe médica multidisciplinar que, além de garantir melhor qualidade de vida aos doentes, apoia seus familiares nos momentos mais difíceis. A sede do Cacon fica no Hospital de Base do DF (HBDF), unidade que recebe a maior demanda da rede.
Semanalmente cerca de 80 pessoas do DF são encaminhadas aos cuidados paliativos de combate ao sofrimento provocado pelo câncer. “Antes de chegar nesse estágio, o paciente passa por uma avaliação. Seu encaminhamento só é autorizado se o efeito colateral do tratamento convencional de combate ao câncer for mais letal ao organismo que o avanço da doença”, explicou o gerente de câncer da Secretária de Saúde, Dr. Arturo Santana Otaño.
Atualmente um dos principais desafios da rede pública de saúde do DF é manter a eficiência dos centros especializados no combate a dor crônica. A falta de profissionais capacitados em lidar com esse tipo de paciente sobrecarrega o atendimento e dificulta os diagnósticos. “Sabemos dessas dificuldades, mas estamos trabalhando para melhorar esse quadro. Hoje estamos empenhados em treinar mais equipes a fim de darmos conta das demandas”, concluiu o gerente de câncer.
Todos os anos cerca de 1.500 pessoas são diagnosticadas com câncer em Brasília. Desse total, aproximadamente 90% necessitam de tratamento paliativo imediato. Para a representante do Grupo de Voluntários da Assistência aos Pacientes Crônicos e Oncológicos no DF, Drª. Zali Neves, Brasília possui uma das melhores estruturas para tratar doentes terminais, mas falta organização no sistema. “O ideal era a presença de uma equipe capacitada em cada cidade satélite para evitar o deslocamento dos doentes”, disse.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que os pacientes em estado terminal devem ter conforto, qualidade de vida e respeito. No entanto, nem todos os estados brasileiros estão seguindo as orientações. Ainda segundo a Drª. Zali Neves, a migração de pacientes para o DF é o que mais prejudica o acompanhamento dos doentes de Brasília. “Mesmo que distribuído de forma não adequada, temos medicamentos certos para o combate a dor do câncer. Muitas pessoas saem dos seus estados para morrerem com conforto aqui”, explicou.
(Arlison Brito, clicabrasilia.com.br)
