O rumo da greve da Companhia Energética de Brasília (CEB) deve ser decidido ainda hoje, em assembleia dos servidores, às 10h. A tendência, de acordo com o Sindicato dos Urbanitários no DF e da CEB, é que a paralisação, que começou no dia 3, continue, e os transtornos causados aos brasilienses também. A maior parte das reivindicações dos grevistas foi rejeitada pela empresa. Os servidores vão decidir se aceitam a proposta da estatal.
Com a chuva de ontem, várias regiões do Distrito Federal passaram o dia sem energia elétrica. Em Ceilândia, as QNPs 22, 24, 28 e 30 permaneceram sem luz durante toda a manhã. As quadras 6, 8, 10, 12 e 13 de Sobradinho também sofreram com a ausência de iluminação durante o feriado. A Vila São José, em Brazlândia, ficou no escuro durante parte do dia. No Lago Sul, onde a energia faltou na segunda-feira, das 13h às 20h, a situação aos poucos volta ao normal.

Alguns comércios, porém, precisaram abrir as portas, mesmo com o abastecimento prejudicado. A Drogasil, na QI 11 do Lago Sul, funcionou com as luzes fracas. “Aqui é assim mesmo. A luz acaba direto. Não pode ter um chuvisco. A sorte é que temos no break (fonte de alimentação para equipamentos eletrônicos), se não, como iríamos trabalhar?”, disse a atendente Daiana Moraes do Nascimento, 24 anos. Com a CEB em greve, o atendimento pode demorar muitas horas.

Até ontem, pelo menos 900 chamados estavam na fila do setor de emergências da CEB, à espera de solução, de acordo com a assessoria de imprensa da companhia. Apenas 30% do efetivo cumprem expediente durante a paralisação. Normalmente há 42 equipes de plantão. Atualmente, apenas 16 trabalham para atender toda a cidade. No feriado, o serviço ficou ainda mais devagar. Moradores do Lago Sul estão entre os que convivem com os problemas de falta de energia. Alguns já até desistiram de reclamar no órgão público. Não faltam prejuízos.

O servidor público Edson Bernardes, 59 anos, vive na QI 16 do Lago Sul. Ele e os vizinhos perderam as contas de quantas vezes ficaram no escuro nos últimos dois anos. A chegada da CEB para resolver o problema pode demorar mais de sete horas, de acordo com o servidor público. “Na segunda-feira, ficamos mais de quatro horas sem luz. A diarista teve que deixar o serviço pela metade. Alimentos que estavam na geladeira estragaram. Não é a primeira vez. A gente vive perdendo produtos. Eu já nem ligo para a CEB, porque não adianta. Quando não tem energia, saio de casa”, disse.

Ressarcimento
Quando há perdas por conta dos desligamentos, é possível pedir ressarcimento à CEB (ver quadro). “Sei que vivemos em uma região privilegiada. Por isso, evito me queixar. Mas a situação chegou ao nível do inaceitável”, reclamou Edson. Na QI 11, o problema se repete. “Parece cidade de interior. Direto, ficamos sem luz, na capital do país”, reclamou o advogado Kalil Chater, 62 anos.

Moradores de outras cidades também sofreram prejuízos com a falha no fornecimento de energia do feriado. Em Sobradinho, uma árvore caiu sobre os fios condutores da Quadra 12 por volta das 10h, causando uma queda de luz que durou cinco horas. Os bombeiros foram chamados ao local e retiraram a árvore rapidamente, mas parte da pista onde ocorreu o acidente continuou interditada para isolar o cabo caído. Somente às 15h30, os técnicos da CEB restauraram completamente o sistema de energia elétrica da área.

Na quadra, o cabeleireiro Raimundo Nonato Santana, 53 anos, teve de fechar mais cedo o salão onde trabalha devido à falta de luz. “Precisamos de secador, máquina e de luz para enxergar. Sem energia não dá para trabalhar”, lamentou. Raimundo calcula que tenha perdido R$ 100 ao fechar as portas antes do horário. A esposa do cabeleireiro, Maura Teixeira de Oliveira, 48, reclamou que essa não foi a primeira vez que o fornecimento de energia atrapalhou os negócios. “Ultimamente tem tido muita falta de luz. Mas, se a gente paga, deveria ter manutenção sempre”, argumentou. A família paga cerca de R$ 250 mensais à CEB para manter os instrumentos do salão funcionando.

Lenir Maria de Jesus, 50 anos, tomou um susto com a queda de energia em Sobradinho ocorrida ontem. “Eu estava vendo televisão, e, quando percebi que acabou a luz, corri para desligar tudo da tomada”, contou a moradora da Quadra 8 da cidade. Mesmo com apenas uma hora sem eletricidade, ela temeu sofrer prejuízos com os picos de energia que se seguiram à queda de luz. Lenir diz ter perdido 10 aparelhos no início do ano devido às quedas de eletricidade que atormentam os moradores da região. Entre os eletrodomésticos danificados, estão televisões, um forno de micro-ondas, computadores e um aparelho de DVD. “Não quero perder mais nada, o prejuízo é muito grande. E não dá para pedir ressarcimento para a CEB, porque é uma coisa muito demorada e técnica”, reclamou.

O que fazer
» Em primeiro lugar, o consumidor deve procurar a empresa e formalizar a reclamação, pedindo ressarcimento em um prazo de até 90 dias.

» O pedido de reembolso pode ser feito por telefone, nos postos de atendimento da CEB ou pela internet.

» É preciso informar a data e o horário da ocorrência do dano, dizer quem é o titular da residência e descrever as características do equipamento, como marca e modelo.

» O prazo para a distribuidora de energia verificar a autenticidade dos fatos e a gravidade da queixa é de 10 dias, contados após o pedido.

» Se o produto afetado for essencial, como geladeiras e freezers, seja para o armazenamento de alimentos ou de medicamentos, a vistoria deve ser feita em um dia.

» Também é possível pedir o ressarcimento de produtos estragados.

» A distribuidora pode solicitar do consumidor laudos e orçamentos, sem que isso represente compromisso em ressarcir. E deve informar o resultado da solicitação, por escrito, em até 15 dias.

» O ressarcimento ou a troca do aparelho devem ser feitos em até 20 dias, mas, caso o problema não seja resolvido, o consumidor precisa recorrer aos órgãos de defesa do consumidor.

» Plantão da CEB: 0800 61 0196

(Leilane Menezes e Roberta Machado, Correio Braziliense)