O primeiro dia de trabalho na nova sede da Câmara Legislativa foi marcado por obras inacabadas, pela correria para terminar a mudança e pela baixa presença de parlamentares. Apesar de parte dos setores burocráticos da Casa funcionarem normalmente e de a população ter livre acesso às dependências do prédio, ainda há muito por fazer. Os gabinetes não contam com linha telefônica, caixas de papelão ocupam os corredores e as cadeiras plastificadas estão empilhadas no hall de entrada. Após 10 anos de espera e um gasto de R$ 106 milhões — 2,5 vezes a previsão inicial —, os 24 deputados puderam, pela primeira vez, usufruir do milionário prédio localizado ao lado do Eixo Monumental.

Puderam, mas não usufruíram. No primeiro dia de batente após o recesso parlamentar, apenas três distritais estiveram na Casa — Érika Kokay (PT), Benedito Domingos (PP) e o presidente, Wilson Lima (PR). A maioria deixou para marcar presença hoje, quando ocorrerá a primeira sessão plenária (1) do segundo semestre de 2010. O dia de ontem pode ter sido uma prévia dos próximos seis meses na Câmara, quando as sessões plenárias serão restritas às terças-feiras devido ao período de campanha eleitoral. Na prática, como se viu ontem, os deputados ganharão R$ 12,4 mil por mês por apenas quatro dias de trabalho, uma gorda “diária” de R$ 3,1 mil.
O edifício-sede da Câmara Legislativa conta com uma área construída de aproximadamente 50 mil metros quadrados e custou mais de duas vezes a previsão inicial de R$ 42 milhões. Ainda assim, a gráfica do órgão ficou fora do planejamento inicial. Para resolver o problema, parte das 905 vagas do estacionamento coberto serão cedidas para as máquinas. Enquanto a obra não fica pronta, o parque gráfico continua na antiga sede da Câmara Legislativa, localizada no fim da Asa Norte, com o Fundo de Assistência à Saúde (Fascal) do órgão.

Mudanças no projeto de construção da Câmara são vistas com facilidade na nova sede. Parte das pedras que compõem o piso da parte externa do prédio estão sendo quebradas para dar mais espaço à calçada que passa ao lado. A madeira do palco do auditório estava verde e também precisou ser arrancada.
Ao contrário dos parlamentares, assessores e funcionários passaram o dia de ontem nas dependências da Câmara, concluindo a mudança. Funcionários da limpeza tentavam se livrar da lama acumulada ao longo dos últimos meses e a empresa contratada para realizar a mudança transportava alguns móveis. Na parte da tarde, o sistema de som do plenário foi testado e o brasão da Câmara Legislativa, preso no carpete.

A tribuna dos deputados ainda é improvisada. As dependências da Câmara estão abertas à visitação, mas ainda não há sistema de segurança, como detectores de metal e controle de entrada e saída de pessoas. A entrada principal dos visitantes, voltada para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), ainda está sendo utilizada para o transporte da mudança. Quem quiser visitar os setores da Câmara deverá entrar pela porta dos funcionários.

Nos primeiros dias de trabalho da inacabada Câmara, vale até improviso. Os gabinetes sorteados foram identificados com folhas de papel A4. Em alguns casos, como o gabinete do deputado Cabo Patrício (PT), o nome do parlamentar está escrito à mão. Os assessores dos deputados distritais foram orientados a não instalar bebedouros nos cubículos de 95 metros quadrados para não molhar — e estragar — o chão. E também estão impedidos de pendurar quadros nas paredes. O quadro com o rosto do candidato à reeleição na Câmara Benedito Domingos estava apoiado no chão, ao lado da moldura do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em seu gabinete. O mesmo foi visto no gabinete do presidente do Legislativo do DF, Wilson Lima. Insatisfeita com a situação, uma assessora da deputada Jaqueline Roriz (PMN) aproveitou a estrutura vazia do extintor de incêndio para pendurar o quadro com o rosto da candidata.

1 – Custo elevado
Os deputados distritais entraram de recesso em 30 de junho na antiga sede e retornaram ao trabalho ontem no novo complexo. Os funcionários aproveitaram o período sem sessão para realizar a mudança. O antigo prédio era emprestado pela Emater-DF. A proposta da nova Câmara só começou a sair do papel em 2001, na gestão do hoje senador Gim Argello (PTB), que ocupava a Presidência da Casa. Em 2007, com o deputado Alírio Neto (PPS) à frente do Legislativo local, o projeto foi ampliado. O custo pulou para R$ 72 milhões. A obra entregue 10 anos depois atingiu o preço de R$ 106 milhões, 2,5 vezes o custo inicial.

» Hoje tem sessão, a única da semana

Uma audiência pública sobre a implantação dos conselhos tutelares no Distrito Federal inaugurou o plenário da Câmara Legislativa na tarde de ontem. A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos do órgão, Erika Kokay (PT), foi a primeira a sentar-se na cadeira de presidente. E as mesas do cômodo foram ocupadas por membros da sociedade e conselheiros de várias cidades do Distrito Federal. A sessão, marcada para as 15h, começou com aproximadamente uma hora de atraso.

“O ritmo tem sido lento e a produtividade baixa na Câmara nos últimos meses. E hoje (ontem), no primeiro dia, a Câmara está vazia. Mas o espaço é bem maior, vai ver que isso dá a impressão de vazio”, afirmou Érika. O deputado distrital Benedito Domingos foi à Câmara para visitar as dependências e logo deixou o local. “A localização é mais adequada. Faltam os retoques finais, mas a gente acostuma com o tempo”, disse.

Críticas
A gerente de gestão social Maria Amélia César da Silva, 60 anos, criticou as novas instalações. “É um elefante branco”, disse. “É a primeira vez que eu venho. Não achei vaga para estacionar. Os funcionários têm estacionamento, mas nós, não. E, aqui da galeria do plenário, não podemos nos manifestar. Aqui não é a casa do povo”, afirmou a gerente. O vigilante Jair Barbosa, 36 anos, aprovou a nova sede. “É bonita e a localização é perfeita. Bem no centro de Brasília. A outra Câmara ficava no meio do cerrado e longe de tudo.”

Em seu novo gabinete, o presidente da Casa, Wilson Lima (PR), explicou que a obra está sendo finalizada aos poucos. Segundo ele, a rede de telefone será instalada ainda esta semana e serão contratados funcionários de segurança e limpeza. “É como a mudança de uma casa. Você ainda mexe em algo aqui e ali depois que se muda”, explicou. “As pessoas falam que o prédio é luxuoso, mas é funcional”, rebateu. Lima garante que, apesar da mudança, os projetos não pararam de tramitar na Casa. Na sessão plenária de hoje, por exemplo, ele promete colocar em pauta o termo de ajustamento de conduta (TAC) que abre vagas para o Procon e um projeto de lei que trata da isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para os produtores de maçã e de pera.

(Fonte: Juliana Boechat, Correio Braziliense)