Parece até com o roteiro do longa-metragem Férias Frustradas, do diretor Harold Ramis, em que o planejamento de viagem de uma família é desfeito em centenas de imprevistos. Tudo que poderia dar errado acontece na comédia. Na vida real, episódios que envolvem desacertos na reserva das diárias do hotel, cancelamentos de voos ou de pacotes de viagens completos, sejam eles para destinos locais ou internacionais, são bem menos engraçados e altamente incômodos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec) essa é a época do ano em que mais ocorrem problemas desse tipo.
De acordo com o presidente do Ibedec, José Geraldo Tardin, apenas no ano passado foram feitas seis denúncias de estelionato pelo instituto, após consumidores revelarem que pagaram altas quantias para empresas inexistentes, que nunca se propuseram a cumprir o acordo. Este ano, foram apenas duas, mas o resultado não garante que haverá menos problemas até o fim de dezembro. “Agora é que começa a onda de reclamações, quando as pessoas descobrem o que deu errado no planejamento das férias”, explica.

A bancária Ely Freire, 53 anos, está diante de um impasse semelhante. Ela programou uma folga entre 4 e 11 de dezembro para ir ao Chile e à Argentina com a irmã. “Optamos por um pacote anunciado em um site de compra coletiva. Fizemos o pagamento e mandamos diversos e-mails para confirmar a data na agência responsável. O problema é que a empresa que ofereceu o serviço desapareceu”, conta a bancária, que chegou a colocar reclamações no Facebook. “A rede de compra coletiva entrou em contato para dizer que houve um problema, mas que eles iriam honrar o compromisso.”

Apesar da promessa, não foi feito nenhum novo contato. “Eu já vi que não vou mais viajar. É um prejuízo moral e financeiro”, reclama. A amiga, Celisa Lopes de Menezes, 34 anos, está com o mesmo problema. “A situação foi idêntica. Eu ia com uma amiga para Buenos Aires e Punta del Este três semanas atrás, mas além de terem cancelado, por problemas com a agência responsável, nos prometeram ressarcimento e desapareceram”, lamenta. Ela admite que tinha a expectativa de obter uma resposta positiva. A esperança ficou só no sentimento. Ela prevê que a alternativa concreta será buscar ajuda do Procon ou da Justiça.

De acordo com Tardin, parte dos aborrecimentos pode ser evitada se o consumidor se prevenir (leia os quadros de recomendações). “Ninguém faz milagre, por isso, não acredite em preços muito baixos. Até as fotos vistas pelos sites devem ser enxergadas com desconfiança, porque são tratadas e a condição de hotéis e pousadas pode ser muito inferior ao que é mostrado”, alerta. Segundo ele, o turismo de aventura está na moda, mas também é preciso ter cuidado. “Os materiais costumam ser muito caros e os locais com pouca infraestrutura não fazem a manutenção como deveriam, expondo as pessoas a um risco desnecessário”, completa.

O presidente do Ibedec diz que os preços baixos cobrados no mercado permitem que as pessoas que não podiam viajar comecem a deixar a cidade em que vivem. Para elas, marinheiras de primeira viagem, o cuidado deve ser redobrado. “Alguns pacotes marcam a volta para o período da noite, mas normalmente as diárias nos hotéis duram até o meio-dia. Com isso, já houve caso de pessoas que foram para a praia e, quando voltaram ao hotel, viram todos os pertences espalhados pela recepção”, conta. O lamentável episódio ocorreu com um casal, que foi obrigado a tomar banho de mangueira. “Não havia quartos disponíveis para que pudessem se arrumar antes de ir para o aeroporto”, conta Tardin.

(Júlia Borba, Correio Braziliense)