Crescimento menor do PIB previsto para este ano terá reflexo na criação de empregos. Trabalhador vai encontrar menos oferta de vagas e mais dificuldade de obter aumento de salário. Crédito também pode ficar restrito

O trabalhador que vinha entusiasmado com o mercado de trabalho aquecido de ficar alerta. A previsão é de que a economia brasileira cresça menos que o esperado este ano, o que deve reduzir a oferta de vagas, tornado o momento atual menos propício para mudanças de emprego ou aumento de salário, segundo economistas.

O governo tinha como previsão o crescimento de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) – indicador que mede a atividade econômica do País – este ano, mas os analistas de mercado e o próprio Palácio do Planalto já estão revendo esse percentual para baixo, e a previsão é que 2011 encerre com uma elevação de 3,5% do PIB.

Esse crescimento menor do que o esperado ocorre porque o governo tomou medidas para diminuir o consumo das empresas e famílias no final do ano passado, com a elevação da taxa básica de juros, a Selic, e regras que obrigam bancos e financeiras a restringir o crédito, ou seja, ações que resultam no encarecimento dos financiamentos. O objetivo era diminuir o ritmo de crescimento da economia nacional como forma de combater a inflação em alta, de acordo com o professor de Economia da Business School São Paulo, Daniel Miraglia.

No entanto, junto com as medidas veio a acentuação da turbulência econômica externa. “Essas medidas demoram uns seis meses para refletir na economia nacional. A questão é que junto com os reflexos dessas Ações veio a crise econômica internacional. O efeito deste último fator é mais leve, mas também interfere no crescimento do PIB”, explica o professor de Economia da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Fabio Kanczuk.

Para o professor de Finanças do Insper, Alexandre Chaia, essas medidas junto com uma crise internacional também trouxeram um clima de insegurança, que deixou os investidores mais pessimistas. “O Banco Central não está sinalizando agressivamente que vai conter a inflação. Com todos esses fatores, pessoas e empresas deixaram de investir por se sentirem inseguras em relação a economia nos próximos meses”, diz.

Com a economia crescendo em ritmo menor, o primeiro impacto ocorre com os empregos. “Serão criadas vagas em menor velocidade e isso vai afetar a mobilidade do mercado de trabalho”, explica Miraglia, mas descarta o aumento do desemprego.

Na avaliação de Kaczuk, não é hora do trabalhador mudar de emprego. “Também será mais difícil conquistar aumento salarial acima da inflação com essa desaceleração”, diz.

O professor da FEA-USP ainda acredita que a queda no desempenho da economia nacional também pode aumentar a inadimplência. Esse fator poderá elevar o custo dos empréstimos, o que tem feito o Banco Central diminuir a taxa de juros básica nos últimos meses – atualmente em 12% – para compensar esse efeito e novamente aquecer a economia.

Por esse cenário, a recomendação dos especialistas para os consumidores é não entrar em financiamentos longos neste momento e aguardar o reaquecimento da atividade econômica, que pode ocorrer no próximo ano.

Para os micro e pequenos empreendedores, a redução no ritmo de crescimento do País pode afetar tanto os resultados, com menos clientes demandando produtos e serviços, quanto na obtenção de financiamentos, que podem ficar mais caros.

(Luciele Velluto, Jornal A Tarde)