“O principal desafio da Plenária é a atualização do nosso projeto político organizativo”, diz Jacy Afonso de Melo, secretário nacional de Organização da CUT

Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, Jacy Afonso de Melo, secretário nacional de Organização da CUT, fala das expectativas e desafios da 13ª Plenária Nacional da CUT, que acontece de 4 a 7 de outubro, em Guarulhos, São Paulo

PMT: Na próxima semana acontecerá a Plenária Estatutária da CUT. Qual o desafio da Plenária Nacional neste momento?

Jacy: No último Congresso abrimos um processo de reforma do Estatuto. Já na ocasião, fizemos algumas inclusões pontuais como a criação das novas secretarias de Combate ao Racismo, Juventude, Meio Ambiente e Relações do Trabalho, e a fusão das Secretárias de Organização e Política Sindical em uma única. Alteramos também o tamanho e o formato da Direção Nacional e da Direção Executiva.

O atual Estatuto da CUT, aprovado no Congresso de 1988, foi fruto de um longo processo de construção democrática, que resultou na apresentação da TESE 10, um marco na estruturação e na definição do modelo de organização da Central. É fundamental que o Estatuto esteja em sintonia com as particularidades e necessidades da conjuntura atual do Brasil e do movimento sindical. O Estatuto de 1988 fazia todo sentido naquele momento histórico particular que nós vivíamos, mas precisamos enfrentar o fato de que, diante das muitas mudanças ocorridas na conjuntura econômica, política e social do Brasil, o Estatuto, de uma maneira geral, está desatualizado, pois reflete uma visão de mais de 20 anos atrás. Foi sob esse argumento que o 10º Congresso aprovou a realização de uma reforma estatutária na 12ª Plenária e, neste sentido, o principal desafio da Plenária é a atualização do nosso projeto político organizativo e, como consequência, a Reforma do Estatuto.

PMT:Como deve ser dar esta Reforma Estatutária?

Jacy: É importante termos clareza de que uma reforma no nosso Estatuto não deve tratar apenas de questões relacionadas à gestão, este processo exige debate das questões políticas, reflexão, produção de idéias, um debate franco e honesto sobre as limitações e desafios da nossa Central, sobre a CUT que temos; a CUT que queremos e CUT que o Brasil precisa para se tornar uma nação desenvolvida e sem miséria, com distribuição de renda e inclusão social. Por isso, tenho defendido que este debate deve se o mais amplo possível e a Plenária Nacional será o momento privilegiado para tanto, pois teremos reunidos em Guarulhos, mais de 600 delegados e delegadas, representando todos os estados e categorias, que trarão o debate já realizado nas Plenárias Estaduais, trarão seus questionamentos, suas experiências e seus desafios e virão preparados para um debate amplo e democrático, seguindo a boa tradição da CUT.

PMT: Como você bem lembrou, no processo de preparação, realizamos as Plenárias Estaduais e as Plenárias de Ramo, isto significa que chegamos à Plenária Nacional com um acúmulo do debate já realizado no Brasil todo. Quais os temas que deverão estar no centro do debate?

Jacy: Bem, a CUT tem reafirmado sua posição histórica em defesa da Ratificação da Convenção 87 e pelo Fim do Imposto Sindical, que deverá ser substituído pela Taxa Negocial, e na Plenária vamos lançar a campanha de Liberdade e Autonomia. Nossa história de construção nesses anos todos sempre se baseou em dois movimentos: na luta pela mudança da estrutura sindical brasileira e pela consolidação e fortalecimento do nosso projeto organizativo. A 12ª Plenária transitará pelas duas questões, como sempre tem acontecido.

Mas acredito que o temas que estarão no centro do debate serão aqueles relacionados ao nosso modelo de organização. Acredito que as questões relativas ao financiamento sindical e ao fortalecimento das nossas CUT’s Estaduais e Ramos serão o principal foco de debate. Como enfrentar a questão do financiamento sindical de setores como os agricultores familiares, as trabalhadoras domésticas e os profissionais liberais? Qual alternativa apresentaremos para estes sindicatos considerando que a taxa negocial atenderá apenas sindicatos de assalariados? Como responder às nossas confederações e federações orgânicas e filiadas que enfrentam as situações mais diversas na luta para consolidar sua organização frente à disputa com as outras centrais sindicais, e buscam alternativas para fortalecer a ampliar sua base de representação. Como garantir um modelo de organização que permita às federações e confederações investir na fidelização dos seus sindicatos filiados e, ao mesmo tempo, disputar novos sindicatos? Como avançar na organização dos Ramos diante da urgência de aumentar o poder de negociação das nossas entidades num país que está crescendo e precisa distribuir renda?

É importante dizer que estes debates não acontecerão à toa, de fato, enfrentar estas questões neste momento histórico é um dos nossos maiores desafios.

PMT: Na condição de Secretário Nacional de Organização da CUT, qual sua maior expectativa para esta Plenária Nacional?

Jacy: Espero que a Plenária seja um momento de rico de construção coletiva, à altura dos desafios que temos à nossa frente e da nossa responsabilidade histórica.

(CUT Nacional)