A desinformação sobre como funciona a cobrança de juros é uma lacuna na educação financeira do brasileiro. Eliel só compreendeu que pagou juros de quase 7% ao mês na compra de móveis e eletrodomésticos ao limpar seu nome no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). “Foi um sufoco pagar as prestações. Consegui quitar todas as dívidas somente no início deste ano”, conta o vendedor.
Inadimplência
Os brasileiros estão comprando cada vez mais de forma parcelada. Só em automóveis, que movimentaram R$ 194,9 bilhões no primeiro semestre, o aumento nos financiamentos foi de 7,5% no período. Mas nem sempre o consumidor toma os cuidados necessários para evitar a inadimplência, que cresceu 5,14% entre janeiro e agosto. A dona de casa Maria Elza França, 36 anos, precisou recorrer a um longo financiamento, de 15 meses, para comprar um armário de cozinha.
Ao fim do contrato, pagou R$ 150 a mais pelo móvel. “Essa diferença fez muita falta no meu orçamento. Mas não teve jeito, eu tinha que comprar o armário e fui pagando com muita dificuldade. Os juros foram muitos altos”, avaliou. Depois de passar por esse sufoco, Maria pretende pagar as próximas compras à vista.
Juros tão pesados devem cair nos próximos meses, já que a taxa básica (Selic), termômetro do custo do dinheiro na economia, caiu 0,50 ponto percentual no fim de agosto, de 12,50% para 12% ao ano — ainda assim, uma das maiores do mundo. Mas o cidadão brasileiro não vai sentir o benefício no bolso tão rapidamente. Na economia real, os efeitos do afrouxo monetário demoram a aparecer — um processo de meses, explicam os especialistas. Pior: quando o juro básico da economia recua, o movimento semelhante não ocorre nos contratos reajustados pela Selic.
“A prestação do financiamento de um imóvel não cai quando a taxa é derrubada”, lembra Miguel Ribeiro Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). O comprador de um imóvel de R$ 250 mil, financiado por 20 anos, deixaria de pagar R$ 242,94 da prestação atual de R$ 2.648,87, por exemplo. No total, teria um desconto, ao fim do período, de
R$ 58.305,60. Mas não é o que acontece. “Se o trabalhador recebesse o retorno de imediato da diferença nos gastos, poderia usar o dinheiro para outro fim ou até aumentar a poupança”, observa Oliveira.
Juros exorbitantes
Quando o assunto é a taxa média cobrada do consumidor, o Brasil é
campeão na América Latina
Brasil 45,7%*
Peru 23%
Colômbia 17%
Chile 14%
México 14%
* Índice do mês de julho
Fonte: Morgan Stanley
Corte faz a diferença
Projeções da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostram que, se a taxa básica de juros (Selic) cair para 11% ao ano em 2011, os juros médios do comércio recuarão de 6,84% para 6,72% ao mês. Ainda nesse cenário, as taxas mensais diminuirão dos atuais 8,27% para 8,15% no cheque especial e de 10,69% para 10,57%, no cartão de crédito. Pode parecer pouco, mas, quando a dívida é elevada ou o parcelamento é longo, faz a diferença.
(Ana Carolina Dinardo e Vera Batista, Correio Braziliense)