Projeto de geração de energia solar fotovoltaica híbrida de 25 MW na cidade de Duntou, província de Jiangsu, China. Aquicultura e piscicultura ocorrem sob os painéis

Por Cezar Xavier l Portal Vermelho – publicado em 10 de novembro de 2025.

A China ultrapassou a Europa e os Estados Unidos juntos em capacidade instalada de energia solar, alcançando 887 gigawatts no final de 2024. A escala da revolução energética chinesa é inédita: o país gerou 1.826 terawatts-hora de eletricidade solar e eólica no ano passado — cinco vezes mais do que a energia contida em todo o seu arsenal nuclear. A constatação foi apresentada por reportagem da revista The Economist.

A dimensão dessa transformação coloca a China em uma nova categoria de superpotência — não mais medida por seu poder militar, mas pela capacidade de gerar eletricidade limpa em escala planetária.

Produção em massa redefine o mercado global

O avanço chinês resulta da combinação de escala industrial, eficiência e custos cada vez menores. O país é capaz de instalar quase um terawatt de energia renovável por ano, o equivalente à produção de 300 grandes usinas nucleares.

A principal razão pela qual os países ainda não descarbonizaram suas economias é porque não dispõem dos meios para fazê-lo. E é isso que a China está resolvendo. Ela está fornecendo quantidades cada vez maiores de energia limpa ao mundo a preços mais baratos do que qualquer alternativa.

Essa expansão cria um ciclo virtuoso: mais demanda interna estimula maior produção, o que reduz custos e acelera a adoção global de tecnologias verdes. Mesmo com o fim gradual de subsídios, os preços baixos e a inovação consolidaram a liderança chinesa.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), a China deverá responder por 60% da nova capacidade de energia renovável instalada no mundo até 2030.

Exportação de tecnologia verde

A China está exportando sua revolução energética. Em 2024, o país passou a ganhar mais com a venda de tecnologias limpas — como painéis solares e turbinas eólicas — do que os Estados Unidos com combustíveis fósseis.

Enquanto a Europa enfrenta custos altos e resistência política às políticas climáticas, e os EUA mantêm restrições às importações chinesas, países em desenvolvimento se tornam o principal destino das exportações de tecnologia verde.

O barateamento da energia solar já transformou telhados no Paquistão, na África e na América Latina, tornando o acesso à eletricidade mais viável e sustentável.

Impacto na descarbonização global

O crescimento chinês é hoje o principal motor da descarbonização mundial. A produção em larga escala de painéis solares e baterias tem derrubado custos e permitido que outros países reduzam suas emissões sem comprometer o crescimento econômico.

Graças a essa capacidade, a China já superou a maioria das promessas que fez no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas desde que assinou o Acordo de Paris, há dez anos. Esses resultados terão impacto nos debates da COP30, em Belém.

O relatório da agência mostra que as energias renováveis estão crescendo 2,7 vezes mais rápido do que as metas oficiais para 2030 — e 80% desse avanço virá da expansão solar.

Desafios e dilemas da nova superpotência

Apesar do protagonismo verde, a China ainda mantém forte dependência do carvão. Em 2022 e 2023, o país licenciou 100 gigawatts em novas termelétricas; mas, em 2024, as autorizações caíram para apenas 9,1 GW, sinalizando uma mudança de rumo.

Críticos ocidentais alarmam-se para supostos riscos de dependência global da indústria chinesa e para a concentração tecnológica sob o controle do Partido Comunista. Ainda assim, a maioria dos especialistas ressaltam que, ao contrário dos combustíveis fósseis, as energias renováveis oferecem autonomia: uma vez instaladas, produzem energia independentemente de decisões políticas externas. Isto difere das torneiras da Opep que fecham para tornar o preço do barril de petróleo mais vantajoso no mundo ou para chantagear algum governo dependente.

O futuro da energia é solar — e fala mandarim

A expansão das energias renováveis liderada pela China pode não limitar o aquecimento global a 1,5 °C, mas é a melhor esperança para evitar os piores efeitos da crise climática.

Com energia limpa cada vez mais barata e abundante, o país promete não apenas transformar sua própria economia, mas também redefinir o mapa do poder global. O mundo, afirma a AIE, precisa do que a China tem a oferecer — e terá de aprender a conviver com essa nova superpotência solar.