Privatizações, demissões e sobrecarga agravam o sofrimento psíquico no setor elétrico. Nova norma em vigor em 2025 impõe que empresas reconheçam e previnam riscos psicossociais no trabalho.
A saúde mental dos eletricitários deixou de ser um tema invisível. Em um setor marcado por riscos físicos e pressão constante, o sofrimento psíquico tem se intensificado com as demissões em massa, o aumento da carga de trabalho e a instabilidade trazida pelas privatizações. Esse cenário adoece. E o custo, como sempre, recai sobre os trabalhadores.
Enquanto executam tarefas de alta periculosidade, muitos eletricitários lidam com jornadas exaustivas, metas abusivas e a sensação de estarem à beira de um colapso. A ausência de apoio institucional, o medo de acidentes e o assédio velado contribuem para um ambiente de trabalho adoecedor, em que a saúde mental se torna mais uma frente de luta.
Neste contexto, ganha centralidade a atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora Geral de Segurança e Saúde no Trabalho), que entrou em vigor em janeiro de 2025. A nova redação reconhece os riscos psicossociais como parte integrante do gerenciamento de riscos ocupacionais. Isso significa que as empresas passam a ser legalmente responsáveis por identificar e atuar sobre fatores como sobrecarga emocional, pressões excessivas, insegurança, assédio e isolamento no trabalho.
A exigência não é simbólica. A norma determina que esses aspectos estejam contemplados no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) de forma sistemática, com diagnóstico, monitoramento e medidas de controle. O descumprimento pode gerar penalidades e reforça a responsabilidade patronal sobre o ambiente laboral.
Para os trabalhadores do setor elétrico, a mudança é especialmente relevante. A precarização das relações de trabalho após a privatização da Eletrobras e de empresas estaduais tem levado à redução das equipes, ampliação das terceirizações e imposição de metas muitas vezes incompatíveis com a realidade das operações. Em nome da produtividade, a saúde tem sido empurrada para o fim da fila.
Mas a realidade exige outra postura. Dados recentes do Ministério da Saúde indicam crescimento nos afastamentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho — em especial em áreas técnicas e operacionais. O Brasil registra aumentos sucessivos nos casos de ansiedade, depressão e burnout ligados ao ambiente profissional.
Diante disso, o papel dos sindicatos torna-se estratégico. O STIU-DF tem acompanhado as mudanças da NR-1 e cobrado das empresas o cumprimento das novas exigências. Também tem fortalecido ações de escuta da base, orientação jurídica e produção de materiais informativos sobre os direitos dos trabalhadores frente ao adoecimento mental.
Cuidar da saúde mental é cuidar da vida, e isso exige compromisso coletivo. Cabe às empresas garantir condições dignas de trabalho, com segurança física e emocional. Cabe aos governos fiscalizar. E cabe à organização sindical manter a luta por um modelo de gestão que coloque a vida acima do lucro. No setor elétrico, onde o risco é permanente, isso se torna urgente.
NR-1: o que muda?
- Reconhecimento formal dos riscos psicossociais no trabalho;
- Obrigatoriedade de que empresas incluam esses riscos no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos);
- Definição de medidas preventivas e de monitoramento;
- Responsabilização legal das empresas em casos de negligência;
- Reforço ao princípio da saúde integral — física e mental.
Se você está sendo impactado:
- Busque atendimento psicológico e médico. A saúde mental é um direito.
- Informe o sindicato. O STIU-DF pode orientar e atuar em sua defesa.
- Registre situações de pressão, assédio ou sobrecarga.
A saúde mental precisa ser levada a sério. No setor elétrico, salvar vidas também é garantir condições dignas de trabalho.