A partir do próximo domingo, 190 mil pessoas de uniforme azul, portando computador de mão e GPS, terão a missão de percorrer o território nacional para descobrir quem é o brasileiro. O maior levantamento demográfico já realizado na história do país será feito graças a uma estrutura tecnológica e logística enorme, que começou a ser preparada há mais de um ano. O Censo 2010 vai oferecer um retrato completo da população, com informações pessoais, econômicas e sociais. A ideia é que todos os habitantes do país respondam a um questionário básico e 15% participem da amostra, que coletará dados detalhados sobre a composição do povo. Mas há aqueles que não precisam constar no censo(1).

Tudo começou no início do ano passado, quando os técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão responsável pelo Censo, fizeram a revisão do mapeamento. “Não há um cadastro de todas as pessoas que vivem no Brasil. A única coisa que a gente conhece previamente é o território”, diz o economista José Beviláqua, coordenador de Tecnologia do Censo. Ao fazer o mapeamento, a equipe conseguiu definir os setores censitários (veja arte) e estimar o número de domicílios que devem ser encontrados durante a pesquisa: cerca de 58 milhões. E quando se fala em domicílio, estão incluídas aí as pensões, os acampamentos, as grutas, os galpões e as habitações improvisadas em pontes e viadutos.

As casas, em suas mais diversas configurações, terão de ser visitadas pelos funcionários do IBGE até 31 de outubro. Para atingir essa meta, os recenseadores não cumprem uma jornada de trabalho determinada. Isso porque muita gente pede para que o funcionário do IBGE volte à noite para responder ao questionário. Este ano também será possível participar do censo pela internet. Mas, para responder às perguntas on-line, o interessado terá que pegar um código de acesso à página com o recenseador. “No Censo de 2000, houve muita dificuldade de acesso a domicílios do Lago Sul, do Sudoeste, da Octogonal. As pessoas tinham medo de receber os agentes. Esse recurso vai evitar que parte da população fique sem responder ao levantamento”, afirma a professora Ana Maria Nogales, do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília (UnB).

Fora o batalhão de recenseadores, há outros 23 mil funcionários responsáveis pela supervisão da coleta de dados. Cada um coordena o trabalho de oito a 10 agentes do Censo, que manuseiam os PDAs, computadores de mão configurados especialmente para a pesquisa. “Esse equipamento se parece com um smartphone, mas tem apenas o que é necessário para o trabalho do recenseador”, esclarece o coordenador de Tecnologia do Censo. As respostas armazenadas digitalmente devem reduzir os problemas com rasuras, como acontecia nos levantamentos feitos com papel e caneta.

O sistema
A máquina também tem função importante na escolha das pessoas que responderão à pesquisa mais completa. O sistema instalado no PDA joga aleatoriamente os formulários da amostra. Isso, no entanto, não vale para cidades de até mil habitantes, onde toda a população participa da coleta detalhada. As respostas ficam armazenadas no PDA até que o recenseador vá a um posto descarregar os dados. Depois disso, as informações são transmitidas para as centrais do IBGE. “Os estados mais populosos têm a sua unidade, os outros enviam para a central do instituto no Rio de Janeiro”, explica Beviláqua.

No fim do processo, tudo vai para um conjunto de servidores no polo central. Os equipamentos operam com seis processadores Quad core (com quatro núcleos) e um super storage (dispositivo de armazenamento). Mas, antes de colocar tudo para rodar nas máquinas, os técnicos do IBGE precisam resolver um problema fundamental: a codificação das respostas.

Isso é importante nas perguntas que têm muitas alternativas. Um exemplo é a orientação religiosa. Beviláqua afirma que há mais de 700 opções para esse item. “Você pode se declarar católico apostólico romano, católico brasileiro, católico ortodoxo e por aí vai. Se a ambiguidade com o nosso banco de dados for muito grande, a informação vai para uma bancada de funcionários que fazem uma inspeção”, diz Beviláqua. Esse problema também ocorre na hora de declarar a profissão: você pode ser pintor artista plástico, pintor da construção civil, pintor da indústria automobilística.

O passo seguinte é a tabulação dos dados, realizada a partir de um conjunto de tabelas definidas com as entidades representativas de cada setor. “O IBGE senta com órgãos responsáveis pela saúde, pela educação, pelo transporte e decide como será formado o banco de dados da pesquisa”, esclarece o coordenador. Isso não aparece muito quando se pensa apenas no primeiro dado a ser divulgado pelo instituto: quantos são os brasileiros, informação que deve estar disponível em dezembro deste ano. O retrato completo do país sairá aos poucos, até o início de 2012.

1 – “Esquecidos”
Os únicos habitantes que não serão contados no Censo são os moradores de embaixadas, consulados e representações diplomáticas. Isso porque os locais onde ficam essas entidades não são considerados parte do território brasileiro.

Conheça os questionários do Censo 2010

Dez anos sem informações

O IBGE tem três formas de divulgar a radiografia do Brasil. A mais conhecida delas é através do Sistema de Divulgação de Dados Agregados (Sidra), que funciona no site da entidade e é aberto a todos. Há um outro sistema, acessível mediante uma assinatura de R$ 15, que permite a consulta a dados referentes aos setores censitários, como uma análise espacial da pesquisa.

A terceira e mais refinada forma de divulgação é o Banco de Microdados Estatístico, que permite a consulta a quesitos que não estão no plano tabular do IBGE. “A quantidade de informações coletadas geraria bilhões de cruzamentos possíveis, que podem ser vistos no BME”, esclarece Beviláqua.A professora da UnB Ana Maria Nogales estuda os levantamentos demográficos há 30 anos e está bastante animada com a realização do censo deste ano. “Estamos sem dados detalhados desde 2000. No caso de Brasília, de lá para cá, tivemos o aparecimento do Itapoã, do condomínio Sol Nascente, o crescimento de cidades como São Sebastião”, enumera Ana Maria. Segundo a pesquisadora, variáveis como a fecundidade, a expectativa de vida e a migração no Distrito Federal são muito importantes para entender a composição da população.

(Fonte: Carolina Vicentin, Correio Braziliense)