Nós da Intersindical ONS, volta e meia, pensamos no texto que a empresa 3M colocou, há tempos, no manual de procedimentos distribuídos aos seus funcionários, cujo título é “Você é mais Tênis ou Frescobol?” – uma adaptação da crônica “Tênis & Frescobol”, de Rubem Alves.

Sabemos que o tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro. O outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que vai dirigir sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica seu objetivo claro de tocar, interromper e derrotar. O prazer do tênis se encontra justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora do jogo. Termina sempre com a alegria de um e tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que para o jogo ser bom é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito, e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário, porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro no frescobol é um acidente lastimável: o que errou pede desculpas e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo esse delicioso jogo em que ninguém marca pontos…”

Depois das assembleias para deliberação da proposta de teletrabalho híbrido, ficamos pensando sobre as diferenças expostas acima. E pensamos, será que estamos jogando tênis ao invés de frescobol? Vimos tantos empregados em todas as localidades com inúmeras dúvidas, principalmente em ter a obrigatoriedade de ir 2 (dois) dias aos escritórios da empresa – contrário ao discurso e práticas adotadas pela empresa, após acertos entre gerências e trabalhadores, informando que o funcionário, na modalidade de teletrabalho híbrido, poderia escolher quantos e quais dias gostaria ficar em teletrabalho. A exigência da presença do funcionário, nas condições expostas, não nos parece aderentes aos aspectos que visem as melhores práticas e o relacionamento ganha / ganha que acreditamos ser possível construir.

Utilizando um termo muito usado da engenharia elétrica, acreditamos que as localidades do ONS não estão na mesma base. O que isso quer dizer? Quer dizer que não estão pensando juntas, não estão trabalhando juntas em prol dos objetivos que, como empregado da empresa, gostariam de alcançar. Estão abrindo mão desses ideais.

Alguns podem dizer que temos realidades diferentes, e é verdade, mas, apesar de as diferenças existirem, a luta sempre foi para que todos tivessem o mesmo tratamento. Foi assim em relação aos salários e aos tíquetes alimentação/refeição. Em outras palavras, apesar de as diferenças dos custos de vida entre as localidades do ONS, os trabalhadores do Rio sempre lutaram por essa igualdade, porque entendem que o ONS é uma empresa independente da base ou localidade.

Todavia, o que passou, passou, agora não há como voltar. Mas pensem sempre qual jogo estamos jogando e a quem isso beneficia. O lema: “Juntos somos mais fortes”, presente nas notas da Intersindical ONS, não parece encontrar eco (ainda) entre os trabalhadores do ONS.

Empresa

Por outro lado, dentro de uma etapa de negociação, espera-se mentalidade aberta, vontade de discutir e construir acordos mutuamente satisfatórios para as partes, favorecendo o alcance dos objetivos mútuos, ou seja, um processo em que todas as partes ganham. Porém, parece que a empresa, após o seu informe de 29/03/2022, intitulado “ACT: Resultados das Assembleias e retorno aos escritórios”, entende ou associa a negociação como um processo mais moderno e sofisticado de impor ao seus quereres. Quando a intimidação se faz presente, afasta‑se a oportunidade de diálogo e de achar um ponto comum entre as partes que estão negociando. Tratar a base Rio como se não representasse nada, não é o caminho.

Reconhecer que a realidade do Rio tem particularidades é um bom começo, pois assim é possível proporcionar maior segurança aos empregados dessa localidade. A empresa fala em isonomia de tratamento para com os empregados, mas será que isso vale para o Rio? Vamos pensar juntos:

  • as demais localidades têm estacionamento para todos os empregados, mas o Rio não;
  •  por ter vagas para todos, a segurança oferecida aos empregados das outras localidades é maior do que a oferecida ao empregado do Rio, principalmente quando a empresa quer que os empregados transportem os laptops quando forem ao escritório da empresa;
  •  as outras localidades têm layouts, espaço interior, favoráveis, suficientes para receber os empregados com segurança como, por exemplo, o distanciamento – para lá de satisfatório – entre os empregados, o Rio tem um layout , para os que conhecem, sem ventilação natural (janelas); e o distanciamento em torno de um pouco mais de 1 metro, quando retirarem a restrição entre postos de trabalho (um sim, um não); e
  •  as cidades de Recife e Florianópolis, através de decreto, estabeleceram que a pandemia terminaria em 31 de março de 2022, porém, a cidade do Rio de Janeiro, na mesma linha, decretou que a pandemia terminará em 01 de julho de 2022, ou seja, por que o Rio tem que retornar agora ao escritório da empresa?

Teremos, certamente um clima ruim se a empresa alcançar a satisfação de suas expectativas mas os empregados sentirem que foram desrespeitados durante esse processo de negociação, de qualquer forma, o resultado será negativo. E pior, quando os empregados ficam com medo de expor os seus pensamentos, traduz uma imagem de uma empresa retrógrada, cujo modernismo está em palavras que vão ao vento. Isso porque uma das partes deseja continuar em direção a um acordo, adotando posições fixas, inflexíveis e intransigentes, como o trecho do informe supracitado: “Em caso de não realização de nova assembleia ou de manutenção da decisão contrária à proposta já apresentada pelo ONS, a partir de 02 de maio será mantido o contrato de trabalho vigente, que prevê o regime exclusivamente presencial para as equipes dessa localidade.” Intimidação desnecessária em pleno processo de negociação.

Cabe ressaltar que para que haja uma nova assembleia, há a necessidade de algo novo da parte da empresa. Se for apresentada a mesma proposta, infelizmente, não há como fazer outra assembleia para apresentar a mesma proposta que os empregados já rejeitaram.

A Intersindical não desiste de buscar avanços e melhorias, mesmo diante de impasses que vivemos no momento, e informamos à categoria que há reunião agendada com a empresa, para o dia 07/04/2022, onde lutaremos como de costume, para fazer valer o desejo daqueles que não viram na primeira proposta de ACT de teletrabalho, o discurso apresentado pela própria empresa por todo o ano de 2021. Buscaremos fazer com que haja o reconhecimento aos empregados pela dedicação, qualidade e eficiência no desenvolvimento de suas atividades, após dois anos de trabalho em regime Home office.

A bola(tênis ou frescobol?) está com a empresa, e ela que precisa fazer um movimento agora.

INTERSINDICAL ONS – JUNTOS SOMOS MAIS FORTES