Eram 19 horas do dia 21 de agosto de 2017, o então Ministro de Minas e Energia, o pernambucano Fernando Bezerra Coelho Filho anunciava para o Brasil que o governo iria privatizar a Eletrobras. Ainda em 2017, Michel Temer editou a MP 814 que incluía a Eletrobras no Programa Nacional de Desestatização. A MP caducou. Em 2018, foi editado o PL 9463 que derrotamos politicamente.

Veio o governo Bolsonaro com promessas vazias, e alertamos à categoria ainda durante a eleição que as tais promessas não seriam cumpridas. Não deu outra! Ainda na posse de Bolsonaro, o Ministro Almirante Bento nomeado anunciou que o governo Bolsonaro iria privatizar a Eletrobras por aumento de capital. Tentaram em 2019 com o PL 5877, estagnaram em 2020 com a pandemia e voltaram à carga em 2021 com a MP 1031.

A MP foi aprovada e convertida em lei em julho do ano passado.

O governo Bolsonaro teria 17 meses pela frente para executar a operação de privatização mais complexa da história do Brasil e a segunda maior operação de capitalização em bolsa.

De lá pra cá, a privatização passou pela primeira fase do TCU com 90 dias além do cronograma previsto e publicou o balanço de referência na CVM com 23 dias de atraso da previsão original.

Os atrasos aliás, tem sido a tônica dessa “operação songa monga”, cheia de rastros, fraudes e irregularidades.

E eles atrasam não é só porque são atabalhoados e o tempo é curto. Eles esbarram na complexidade da operação.

O governo tem até 13 de maio – 53 dias – para fazer a AGE da Eletronuclear, aprovar a segunda fase do TCU, fazer as AGOs, arquivar o relatório 20-F na SEC, Due Diligence da operação, roadshow, lançamento e publicidade da oferta e mais uma série de passos num checklist complexo para um cronograma exíguo.

Desde 2017 nós já resistimos exatos 57 meses. O discurso do governo sempre foi de otimismo na execução dos prazos e isso nunca, nunca nos abalou. Uma das maiores lições que tiramos da privatização da Eletrobras foi que o blefe dos privatistas sempre foi o combustível da privatização, elemento indispensável para a alta volatilidade das ações da Eletrobras na bolsa.

Obviamente não temos dúvidas de que eles querem privatizar a Eletrobras a qualquer custo e que toda vez que temos um revés como a recente publicação do balanço de 2021, nos aumenta a sensação de angústia por parecer mais próximo o risco da privatização.

Mas é fundamental que tenhamos uma única certeza. Nunca fomos derrotados até porque somos um coletivo forte. Nós nunca estivemos sozinhos. Nós nunca deixamos as dificuldades abalarem a nossa fé e a nossa obstinação na luta. O nosso maior alimento nestes tempos foi a resiliência. Nós somos uma fortaleza de resistência que se reinventa e se renova.

Estamos caminhando para a suspensão de um dos maiores movimentos grevistas da nossa história. Nós fomos resistentes a todo tipo de pressão.

Nesse momento devemos buscar a profunda reflexão de tudo o que fizemos até aqui. Lembrar do legado desde o momento que entramos pela porta da empresa que trabalhamos e aprendemos a amar, até o momento de agora, de resistência, de luta contra a privatização.

Como disse a canção de Ivan Lins “Desesperar, jamais/ aprendemos muito nestes anos/afinal de contas, não tem cabimento/entregar o jogo no primeiro tempo…”. E é exatamente isso, companheiros! “Nada de correr da raia/ nada de morrer na praia/ nada, nada, nada de esquecer…”. Vocês devem ter orgulho da nossa braveza de defender o Brasil, a nossa Soberania e energia elétrica mais barata.

Nós vamos ganhar esse jogo e vamos escrever uma das maiores histórias de resistência que esse país já viu. Mas para isso, agora precisamos erguer a cabeça e nos manter mobilizados, atentos aos comandos das entidades de representação dos trabalhadores.

Vamos à luta, companheiras e companheiros! Nunca foi fácil, mas foi justamente nos momentos de dificuldade até aqui que nos reerguemos e conseguimos nossas maiores conquistas. Vamos em frente porque tem luta!