Ricardo Caldas, que é professor da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que a corrupção é um fenômeno global e que instituições multilaterais como o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) não registram nenhuma variação da incidência da corrupção no Brasil.
Caldas disse que esse tipo de informação não é precisa, mas, segundo ele, baseada na percepção da população e na cobertura da imprensa.
A cobertura da imprensa pode eventualmente “aumentar a sensação de que estamos diante de uma situação catastrófica”, disse Marcos Bezerra, que é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O efeito disso é o tratamento moralista da política, “como se o único problema fosse a corrupção” e aí questões como a execução do programa de governo não entram em discussão pública. “Faz-se um uso social e político da corrupção”, alertou o antropólogo.
Bezerra defende que em vez do apelo moral, a questão seja vista sob o aspecto institucional. O exemplo que usou foi o das relações dos parlamentares do Congresso Nacional.
Segundo ele, o desempenho do político é avaliado pela capacidade de trazer benefícios para a localidade de sua base eleitoral, por meio da apresentação de emendas no Legislativo e, posteriormente, da liberação do Orçamento pelo Executivo.
O antropólogo lembra que as empresas privadas reforçam essas relações ao incluir projetos de seus interesses na formulação das demandas, apresentação de projetos e liberação de recursos.
Ele assinala, no entanto, que o Estado brasileiro tem instituições que atuam para evitar e combater a corrupção como a Controladoria-Geral da União, a Polícia Federal e o Ministério Público.
Para Ricardo Caldas, “as instituições de combate à corrupção ainda não funcionam perfeitamente” e o país sofre com uma herança cultural dos tempos de colonização.
“Temos um Estado patrimonial. Não conseguimos separar o público do privado”, disse referindo-se aos textos clássicos sobre a formação do país como Raízes do Brasil (Sérgio Buarque), Os Donos do Poder (Raymundo Faoro) e Carnavais, Malandros e Heróis (Roberto DaMatta).
(Agência Brasil)