Um estudo de linhas e de pontos de ônibus realizado pela mestre em física Mirian Mitusuko Izawa, da Universidade de Brasília (UnB), mostrou que 62% das rotas analisadas são completadas só com o apoio de transbordo. Ou seja, no Distrito Federal, em mais de 60% dos casos, para se chegar a um destino é necessário usar pelo menos dois coletivos. Segundo Mirian, apenas 31% têm acesso direto — uma linha para ligar os pontos inicial e final. Ela não avaliou o quantitativo de passageiros ou o número de linhas que passa em cada parada nem os custos de cada usuário no sistema sem integração.
A pesquisadora, que passou em concurso para o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) em 2009, aceitou o conselho do professor Fernando Albuquerque, que lhe orientou estudar sobre um assunto mais ligado ao cotidiano profissional. Mirian, então, decidiu olhar as idas e as vindas dos ônibus de uma forma diferente. Pacientemente, a professora buscou numa ferramenta de satélite da internet a localidade exata de cada um dos 3.438 pontos de ônibus do DF. Em seguida, cruzou a informação com as 856 linhas do transporte público brasiliense, usando a teoria de redes complexas, modelo teórico que permite analisar um sistema de elementos a partir das conexões que se formam entre eles.
Divulgada recentemente, a tese de mestrado defendida em outubro do ano passado, com base em arquivos de 2008 e de 2009 fornecidos pelo DFTrans e pesquisados no Google Earth, apresenta um mapa com todos os abrigos e os itinerários que constituem o sistema básico (com exceção dos transportes de vizinhança, conhecido como zebrinha, e o rural). Com isso, revela as regiões onde o sistema é mais denso. “Quanto maior a quantidade de arestas que ligam dois nós, maior a força dessa ligação. Quando a rota de um veículo passa por duas dessas paradas, existe uma aresta entre elas”, afirmou.
Atraso
Após um ano, Mirian elaborou um mapa explicativo sobre a densidade das linhas por região (veja mapa). Coração nervoso de Brasília, a Rodoviária do Plano Piloto conta com 333 trajetos. Apesar do formato uniforme do Plano Piloto, na Asa Sul, a oferta de linhas é maior do que na Asa Norte. Mirian acredita que a concentração está relacionada à distribuição de habitantes na região oeste do DF, onde estão localizadas cidades como Taguatinga, Gama e Ceilândia.
Assim, o Eixo Sul fica em segundo lugar no ranking de locais por onde trafegam mais ônibus. “Apesar das diversas vias possíveis para a ligação do Plano às satélites da região oeste, a maioria dos itinerários passa pela Estrada Parque Taguatinga (EPTG). Tanto o Eixo Sul quanto a EPTG são atendidos por 160 linhas diferentes”, analisou Mirian. Moradora de Ceilândia, a técnica em edificação Gardênia Costa, 38 anos, depende diariamente de um desses veículos para chegar à área central. “A concentração de ônibus engarrafa as vias e atrasa a chegada ao trabalho”, analisou a passageira, que gasta duas horas no trajeto.
(Naira Trindade, Correio Braziliense, 6.06.11)
GDF abre nesta segunda-feira licitação para 1,2 mil ônibus
Faz muito tempo que um passageiro não elogia o transporte público do Distrito Federal. Também faz muito tempo que não há por que elogiar. O serviço prestado é caro, de má qualidade e a população se movimenta pelas cidades em ônibus velhos. No intuito de renovar parcialmente a frota e minimizar o sofrimento dos usuários do sistema, a Secretaria de Transportes publica nesta segunda-feira, no Diário Oficial do DF, o edital de licitação para 1,2 mil novos veículos.
O pleito é de livre concorrência e podem participar empresas atuantes no DF ou não. Os 1,2 mil ônibus novos serão divididos entre 900 para o sistema em geral e outros 300 exclusivos para a Linha Verde, na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), que liga o Plano Piloto a Taguatinga e Ceilândia. Serão 12 lotes de 100 carros e o lance de outorga mínimo para cada é de R$ 2,75 milhões.
A frota da Linha Verde terá o sistema de abertura de portas nos dois lados para operarem conforme aprovado no Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade, sancionado pelo governador Agnelo Queiroz (PT) no início de maio. Esse tipo de ônibus também circulará nas faixas de concreto exclusivas para ônibus que serão criadas na Linha Amarela — a ser construída entre Gama e Santa Maria — e na Saída Norte, entre Sobradinho e Planaltina. As obras de adaptação são financiadas pelo Governo Federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2. A previsão é que os trabalhos na Linha Amarela sejam iniciados em 60 dias e durem um ano e meio.
Sucatas nas ruas
Segundo estimativas da Secretaria de Transporte, 45% da frota ultrapassaram os sete anos de rodagem, tempo de desgaste que, teoricamente, representaria a aposentadoria compulsória do carro. Os problemas não param por aí. Cerca de 75% dos veículos que transportam cerca de 1 milhão de pessoas por dia apresentam problemas de manutenção. Nas ruas, há coletivos com 12 anos e outros com dois, o que influencia no cálculo da idade média da frota — de seis anos. Os ônibus novos são fiscalizados a cada quatro meses e os mais antigos, a cada dois. “Há muito tempo não é feita licitação e simplesmente não podemos retirar os ônibus velhos das ruas porque a população será prejudicada”, alega o secretário de Transportes, José Walter Vazquez Filho. O DF tem 3 mil ônibus convencionais.
O estado de conservações dos coletivos é um dos principais motivos de reclamação por parte do passageiro. Somente nos primeiros quatro meses do ano, funcionários do serviço 156 — ramal de atendimento ao cidadão — receberam 5.075 queixas de usuários. O número de reclamações das más condições do transporte coletivo brasiliense em 2011 supera em 10% o registrado no ano passado. Em média, o DFTrans recebeu 1,2 mil reclamações mensais neste ano, contra 1,1 mil assinaladas por mês em 2010. Esse é um dos motivos para a licitação só abrir espaço para a aquisição de ônibus 0km. Após a homologação da licitação, a nova frota tem de chegar às ruas em seis meses. As linhas nas quais circularão serão definidas pelo DFTrans.
Projetos para a Copa
O documento reúne obras classificadas pelo governo como fundamentais para a realização dos jogos da Copa de 2014 em Brasília. Com a assinatura do plano, o DF pleiteou parte dos R$ 2,4 bilhões do PAC da Mobilidade, do governo federal. O projeto vai financiar investimentos em transportes em cidades com mais de 500 mil habitantes. No DF, a proposta inclui a expansão do sistema metroviário, a criação dos Veículos Leves Sobre Trilhos (VLT) e sobre Pneus (VLP) e melhorias na acessibilidade de pessoas com deficiência.
(Ariadne Sakkis, Correio Braziliense, 6.06.11)
Passagens de ônibus não terão reajuste
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, anunciou hoje que não haverá reajuste de tarifas no Transporte Público do Distrito Federal. “Não será repassado à sociedade mais um custo para se resolver um impasse entre empresários e rodoviários. A população deve ser preservada. Meu governo está buscando alternativas para equacionar esta situação por meio da Secretaria de Transporte”, afirmou o governador Agnelo Queiroz.
Além disso, será publicado na próxima segunda-feira o edital de licitação de 900 ônibus comuns e 300 ônibus articulados. O sistema conta hoje com 45% de sua frota com idade superior ao permitido (7 anos) e com cerca de 75% das permissões vencidas.
O governador fez reuniões com os setores e realizou uma avaliação técnica da situação entre rodoviários e empresários. Sua decisão política foi tomada no sentido de vedar qualquer reajuste no momento. “Os dados que temos hoje não são confiáveis, pois são apenas os que os empresários nos apresentam. No entanto, baseados nos cadastros do passe estudantil que o governo fez este ano, calculamos que os rodoviários podem ter um reajuste de cerca de 10% se o governo injetar entre R$ 6 milhões e R$ 7 milhões”, afirmou o secretário de Transporte, José Walter Vazquez Filho.
A proposta da Secretaria de Transporte é de subsidiar os custos do reajuste dos salários e dos benefícios, aumentando a sua participação no pagamento do Passe Livre estudantil, que hoje é de um terço, na proporção do que for concedido pela aplicação do INPC e de ganho real baseado na média dos anos recentes.
O governo também está disposto a incluir, nesse cálculo do subsídio, os gastos que os empresários terão com o pagamento de horas extras decorrente de decisão judicial que derrubou o pagamento da produtividade dos trabalhadores. O GDF pretende aumentar o valor da sua participação no pagamento do Passe Livre por meio de projeto de lei a ser encaminhado imediatamente à Câmara Legislativa do Distrito Federal.
O Executivo enviará ainda outro projeto à Câmara Legislativa disciplinando a relação entre permissionários e o poder público e definindo os direitos dos usuários, tão logo o sistema de arrecadação, hoje administrado pela Fácil, esteja integralmente nas mãos do Estado.
Nos próximos 60 dias, será publicado edital de licitação para que o DF adquira o Sistema Inteligente de Transporte (ITS), que permitirá ao governo uma nova forma de acompanhamento e fiscalização do transporte coletivo; aos usuários informações precisas sobre as linhas e horários; e aos empresários uma operação eficiente e moderna.
O Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), sancionado pelo governador Agnelo Queiroz, permitirá, nos próximos anos, investimento de recursos superiores a R$ 5 bilhões na melhoria do sistema de transporte urbano da capital, entre os quais, a implantação de corredores exclusivos para ônibus, o que, além de diminuir o tempo de viagem dos usuários, significará relevante economia nos custos operacionais.
(Agência Brasília, 3.06.11)
