De acordo com pesquisa do Dieese, atualmente o Brasil há 92 milhões de trabalhadores. Desses, 12,5 mi estão desempregados e não têm representação sindical; 23 mi trabalham por conta própria; 2,2 mi realizam trabalhos familiares; e 4,4 mi atuam como pejotas.

As novas tecnologias seduzem. Em poucos cliques, o transporte está à porta, a comida está na mesa, o produto está na mão. O que está por trás disso, todavia, é a reorganização do capital que, consequentemente, atinge a organização da classe trabalhadora. O cenário impõe, necessariamente, a formulação de novas estratégias sindicais para defender direitos. O tema foi debatido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nesta quinta-feira (12), na CUT Brasília.

“Tecnologia para que e para quem?”, questionou o coordenador de Educação e Comunicação do Dieese, Fausto Augusto Junior. Segundo ele, “a tecnologia chega como mercadoria, não vem para melhorar nossas vidas”. “É uma lógica que organiza o investimento. Sem 4G, por exemplo, não teria uber, não teria ifood, os novos sistemas de compras não existiriam”, destaca.

A partir dessa demanda, surgem as novas categorias de trabalho, ainda mais precarizadas, como motoristas e entregadores por aplicativos, o que, na exposição de Fausto Junior, reforça e amplia a informalidade sempre existente no mercado de trabalho brasileiro.

De acordo com Fausto Junior, nesta nova estrutura de mercado de trabalho, o centro do “interesse não é o produto, mas o serviço” e “os direitos se tornam mercadoria”, novas realidades que vão na contramão do sindicalismo de base industrial adotado no Brasil. Como um dos principais alvos dessa nova realidade, estão os serviços públicos. “Hoje, 70% da educação de nível superior está com a iniciativa privada. Creche e ensino infantil privados estão em expansão”, exemplifica Fausto Junior, e emenda “no centro deste debate estão os servidores públicos, que são a mão do direito social”.

Ataques convenientes

Paralelamente, políticas de desmonte de direitos, úteis a essa nova formatação do capitalismo, aprofundam a precarização nos diversos setores do trabalho. Com a reforma trabalhista, por exemplo – imposta um ano após o golpe que rompeu com o crescimento do Brasil enquanto potência mundial –, alterou-se a forma de negociação entre patrão e empregado, permitindo a prevalência do negociado sobre o legislado, além da possibilidade de negociações individuais. Ao mesmo tempo, as formas de contratação foram fragmentadas, com a presença do teletrabalho, trabalho intermitente, crescimento do trabalho autônomo e da terceirização.

De acordo com pesquisa do Dieese, atualmente o Brasil tem 92 milhões de trabalhadores. Desses, 12,5 mil estão desempregados e não têm representação sindical; 23 mil trabalham por conta própria; 2,2 mil realizam trabalhos familiares; e 4,4 mil atuam são pejotizados, atuando como empregador.

Dos 62,3 milhões de empregados, 44,4 milhões estão no setor privado, sendo que 11,2 milhões sem carteira assinada. Com carteira assinada neste setor, a somatória é de 33,2 milhões de trabalhadores com todos os tipos de contratação, além dos terceirizados, e apenas 6,3 milhões são sindicalizados.

No setor público atuam 11,6 milhões de trabalhadores. Destes, 7,9 milhões são militares e estatutários, além de terceirizados; 1,2 milhão com carteira assinada, 2,15 milhões sem carteira assinada. Do total, apenas 3,08 milhões de sindicalizados.

Segundo o coordenador de educação e comunicação do Dieese, a demanda de se pensar em uma nova forma de organização exige a interlocução de experiências das organizações dos diversos setores dentro do próprio país. “Uma possibilidade de criar espaços, juntar dirigentes sindicais, fazer reflexões, conhecer experiências internacionais, pode ser um caminho que dá bons frutos”, diz.

A intenção do Dieese é levar o debate realizado nesta quinta-feira (12) na CUT Brasília, junto com os sindicatos da base, para todo o país, como forma de colaborar no fortalecimento das entidades sindicais e, consequentemente, na preservação de direitos essenciais à democracia e à própria dignidade do ser humano. “É importante que apoiemos o Dieese. A maioria dos sindicatos da CUT é associada, e os que não são, devem se associar. Ter esses números, esses estudos e a equipe é essencial para que possamos nos reorganizar e combater efetivamente a política de retirada de direitos favorável ao mercado”, avalia a secretária de Comunicação da CUT Brasília, Ana Paula Cusinato.

CUT Brasília