O eleitor da classe C é jovem, escolarizado, está conectado à internet, valoriza a religião para manter contatos sociais e tem a educação como prioridade.

O perfil foi traçado a partir de pesquisa nacional feita no primeiro trimestre deste ano com 5.000 pessoas, com idade entre 18 e 69 anos, pelo Instituto Data Popular.

A educação é vista como forma de ascender na vida. “Os pais da ‘Geração C’ depositaram nos filhos a esperança de uma vida melhor, e enxergam no “primeiro doutor da família” referência importante na hora de decidir o voto”, diz Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto.

Os dados do instituto mostram, ainda, que conquistar a classe C será cada vez mais importante para os candidatos. Segundo o Instituto Data Popular, em 2014 ela vai englobar 57% dos eleitores; em 2002, eram 41%.

Carlos Eduardo de Moura Campos, 28, mora com os pais, aposentados, em Osasco. Estuda administração e trabalha como auxiliar administrativo. É o terceiro filho a fazer curso superior.

Campos diz que escolhe o candidato com base em dois critérios: não estar envolvido em casos de corrupção e ter propostas ligadas a educação e saúde.

A recepcionista Gracielly Stefania de Oliveira, 32, estudante de turismo, afirma que não gosta de se sentir “disputada” como eleitora.

“Fica parecendo que, como já conquistaram os “ignorantes” e mais pobres, agora querem disputar os que têm um pouco mais de acesso a educação e renda.”

(Folha de S.Paulo, 15.05.11)

Metade dos eleitores da “classe C” não tem memória da inflação
Cinco em cada dez eleitores da nova classe média aptos a ir às urnas em 2014 não viveram o período de inflação elevada e, por isso, não têm memória da escalada de preços no dia a dia.

São cerca de 35 milhões de pessoas, com renda familiar entre três e dez salários mínimos, que representarão 28% do eleitorado total nas próximas eleições presidenciais.

Os dados fazem parte de uma projeção inédita feita pelo Instituto Data Popular, a partir de dados do IBGE.

O estudo indica, segundo especialistas, que a intenção da oposição de explorar o crescimento atual da inflação pode ter efeito relativo.

Também sugere que perderá força o tradicional discurso do PSDB de que o partido é o responsável pela estabilização da moeda, com a criação do Plano Real, e pela deflagração do processo de recuperação econômica.

Em 94, quando o controle da inflação dominava o discurso político, todo o eleitorado da classe C estava familiarizado com o tema.

“A nova classe média vota olhando para frente e não pelo retrovisor. É grata pelas conquistas recentes, mas votará em quem pode ser a melhor alternativa para manter sua qualidade de vida”, avalia Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular.

Para o cientista político Amaury de Souza, porém, o fato de o eleitor não ter a lembrança da inflação não o afasta obrigatoriamente do tema. “A perda de renda afeta mais diretamente a classe C, principalmente se ela vir escoar por entre os dedos o que acabou de conquistar.”

Se houver aumento da inflação, o governo pode ser responsabilizado, e quem se beneficia é a oposição, afirma o sociólogo. Caso consiga combatê-la, o governo pode “capitalizar a seu favor”.

Para o cientista político Bolívar Lamounier, um dos debates mais importantes a ser feito é como oferecer condições para que essa nova classe média se sustente. “Somente pelo emprego, isso não vai ocorrer. Um dos caminhos é pelo empreendedorismo, mas ninguém está olhando para esse tema.”

Inflação x crédito
A inclusão social causada pela explosão do consumo traz para a presidente Dilma um problema para lidar com o eleitor emergente: tem de controlar a inflação sem conter de forma severa o crédito.

“O que está na mente [desse eleitorado] é o recado do ex-presidente Lula de que a crise era uma ‘marolinha’ internacional e que o brasileiro deveria comprar. Dilma está em uma situação difícil”, diz o sociólogo Rudá Ricci.

A disputa pelos eleitores da classe C gerou recentemente um debate acirrado entre os ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

(Folha de S.Paulo)