A questão da energia e da sustentabilidade do planeta são assuntos discutidos em todo o mundo. No Brasil, diante da tentativa de privatização da Eletrobras, o tema reacende o debate sobre o papel do Estado rumo à transição e segurança energética que priorize o interesse da população e do meio ambiente.

Especialistas, parlamentares e representantes de movimentos populares e sindicatos participaram nesta terça-feira (8) do seminário “O setor elétrico brasileiro no contexto da transição energética mundial”, convocado pela Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados.

Na abertura da atividade, o deputado Leonardo Monteiro (PT-MG), afirmou que está em curso a quarta revolução industrial, caracterizada, principalmente, por uma nova transição energética, cada vez menos dependente dos combustíveis fosseis.

O deputado Zé Carlos (PT-MA), destacou que o Brasil possui uma das fontes mais limpas de energia e se coloca como exemplo para o mundo. No entanto, “todo esse potencial de produção de energia limpa em nosso país está ameaçado de ser entregue ao capital financeiro”. Ele citou o exemplo dos Estados Unidos, que prioriza a gestão pública do setor elétrico e coloca nas mãos do exército a proteção das usinas.

A pesquisadora e mestre em energia, Clarice Ferraz, disse que “a demanda por eletricidade está crescendo sete vezes mais rápido do que os demais combustíveis” e que a garantia do suprimento elétrico está alinhado à transformação radical do setor. Invertendo a lógica da atual matriz energética, conectando mais fontes de geração de energias renováveis ao sistema.

Ferraz aponta que as emissões poluentes relacionadas ao setor de energia em menos de 20 anos ultrapassarão o limite previsto para garantir o equilíbrio do clima. “Se nada for feito, isso vai nos levar ao declínio, ao fim da humanidade, é claramente disso que estamos falando”, enfatizou.

Para conter esse avanço, a pesquisadora sugere a implantação de ações estratégicas de curto e médio prazos que, além de envolver aspectos de solidariedade, segurança, competitividade e inovação, priorize a descarbonização do setor elétrico. Ela propõe que os 76% do portfólio de geração baseado em energias fósseis seja reduzido para 15% e, consequentemente, 85% da energia produzida seja de fontes renováveis, como a eólica e solar. “O Brasil tem os recursos necessários para realizar a transição energética e tornar-se líder mundial na geração renovável barata e abundante”.

Ela destacou ainda a potencialidade da Eletrobras no processo da transição energética. A estatal detêm mais de 50% das linhas de transmissão de 230Kv, responsáveis pela flexibilidade espacial do sistema elétrico. Além disso, ressaltou que os reservatórios das hidrelétricas têm papel estratégico para equilibrar o setor na transformação da matriz elétrica. “Reservatório não se privatiza, é a regularização do sistema”, disse Ferraz.

De acordo com o representante do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), Ikaro Chaves, a política energética atualmente defendida pelo governo vai na contramão do mundo, pois privilegia uma matriz cara e poluente, aumentando a dependência das fontes térmicas movidas a combustíveis fósseis.

Trabalhadores e trabalhadoras do sistema Eletrobras acompanham o seminário na Câmara dos Deputados.

Ele ressalta que, o Brasil por possuir um sistema interligado, com predomínio da geração hídrica não pode abrir mão de uma grande empresa como a Eletrobras para favorecer grupos capitalistas.

Desenvolvimento sustentável

A ONU Meio Ambiente divulgou no fim de setembro (22) uma retrospectiva de dez anos de seu Relatório de Emissões — uma publicação que compara os níveis de emissão de gases de efeito estufa para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.

O mundo parece ter passado a última década fazendo exatamente o oposto do que deveria. Apesar dos avisos nos relatórios anuais, as emissões de gases de efeito estufa cresceram a uma média de 1,6% ao ano entre 2008 e 2017. De fato, essas emissões são agora quase exatamente o que os primeiros relatórios projetavam para 2020 se o mundo não alterasse seus modelos de crescimento insustentáveis e poluentes.

Com as políticas atuais em vigor, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,5°C neste século, em comparação com os níveis pré-industriais. Isso está muito além dos objetivos do Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, ou pelo menos bem abaixo de 2°C.

Se este mundo mais quente se concretizar, todas as previsões de impactos climáticos catastróficos se tornarão realidade. Elevação do nível dos mares, eventos climáticos extremos e danos incalculáveis ​​às pessoas, prosperidade e natureza.

No entanto, o uso da energia renovável, que é um exemplo para reduzir de forma rápida e econômica as emissões, melhorou significativamente. A energia limpa evitou a emissão de aproximadamente 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono em 2017, pois forneceu cerca de 12% do suprimento global de eletricidade.

*(Com informações da ONU Meio Ambiente)